Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero-Americanos Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Universidade de São Paulo Prof. Dr. João Grandino Rodas (Reitor) Prof. Dr. Hélio Nogueira da Cruz (Vice-Reitor) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Prof. Dr. Marcelo de Andrade Roméro (Diretor) Profa. Dra. Maria Cristina da Silva Leme (Vice-Diretora) Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos T692 Curadoria e organização Dina Elisabete Uliana, Fellipe de Andrade Abreu e Lima e José Luiz Mota Menezes. São Paulo: FAUUSP, 2013. 135p. il. (Catálogo de Exposição) ISBN 1. Arquitetura (Teoria) – Século 15; Século 16; Século 17. I. Abreu e Lima, Fellipe de Andrade II. Menezes, José Luiz Mota III. Uliana, Dina Elisabete CDD 720.1 Curadoria e Organização da Exposição Dina Elisabete Uliana Fellipe de Andrade Abreu Lima José Muiz Mota Menezes Organização do Catálogo Dina Elisabete Uliana Fellipe de Andrade Abreu Lima José Muiz Mota Menezes Projeto Gráfico e Capa José Tadeu de Azevedo Maia Impressão André Luis Ferreira Silk screen Sidney Lanzarotto Produção Gráfica Laboratório de Programação Gráfica (LPG) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo Fevereiro de 2013 2 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero-Americanos ________________________________________ Dina Elisabete Uliana Fellipe de Andrade Abreu e Lima / José Luiz Mota Menezes Curadoria e Organização 3 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 4 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Sumário Apresentação – Dina Elisabete Uliana ________________________________________________________________________7 Prólogo – Fellipe de Andrade Abreu e Lima ________________________________________________________________________9 Textos Dois Lados do Mundo - Duas Culturas – Por José Luiz Mota Menezes _______________________________________________________________________13 ‘La imagen de la ciudad mediterránea’ - La tipología de la imagen de la ciudad mediterránea – Por Fernando Marías _______________________________________________________________________ 23 O Patrimônio Cartográfico Português e a Proposta para a Capital do V Império – Por Fellipe de Andrade Abreu e Lima _______________________________________________________________________ 39 La ville (idéale?) chez Alberti – Por Michel Paoli _______________________________________________________________________ 53 Sobre a Cidade Ideal de Leon Battista Alberti aos olhos de um Humanista chamado Michel Paoli – Por Fellipe de Andrade Abreu e Lima _______________________________________________________________________63 A Cidade (ideal) de Leon Battista Alberti Michel Paoli – Por Michel Paoli _______________________________________________________________________65 Don García de Silva y Figueroa y la Percepción del Oriente: La “Descripción de Goa” – Por Fernando Marías _______________________________________________________________________77 Architecture as Metaphor – Por Joseph Rykwert _______________________________________________________________________95 5 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Em Nobre Homenagem ao Professor e Arquiteto Sylvio Barros Sawaya 6 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Apresentação Uma exposição de livros raros sempre é uma oportunidade de conhecer com mais detalhes o acervo de uma biblioteca ou de um colecionador. A exposição que a Biblioteca da FAUUSP apresenta traz um pouco desses dois mundos: livros de nosso acervo de obras raras em diálogo com livros pertencentes ao organizador e curador Fellipe de Andrade Abreu e Lima, que tem uma característica cada vez mais difícil de encontrar entre nós, que é a paixão por livros antigos. Numa era em que muitos acham que as coleções impressas podem ser substituídas pelos acervos digitais, é uma alegria constatar que essa paixão pelo objeto livro não desapareceu. Hoje muitos se “esquecem” que ler um livro não se limita a um ato intelectual, mas que também é o momento de se explorar as experiências sensoriais do toque, do cheiro, do peso... Aqueles que se contentam com a imagem projetada na tela do computador por certo ainda não tiveram a chance de folhear um livro raro e observar suas ilustrações, os tipos usados para compor o texto, os entalhes em uma capa de couro, e de tomar consciência que aquele objeto foi feito talvez séculos antes de seu nascimento. O livro raro nos traz de imediato essa consciência do passar do tempo, pois estamos diante de algo que existia muito antes de nós e que, com sorte, irá existir para muito além de nós. Esse momento se torna mais completo com a participação dos professores Felipe Pereda, Fernando Marías, Frédérique Lemerle, Michel Paoli e Yves Pauwels, que autorizaram a reprodução de seus textos para nosso catálogo, que inclui ainda um de autoria do próprio organizador Fellipe de Andrade Abreu e Lima. Convidamos a todos a conhecer essa coleção de Tratados de Arquitetura e esperamos que possam aproveitar essa exposição e descobrir nessas obras raras os mesmos encantos e belezas que atraíram o olhar de seu colecionador. Dina Elisabete Uliana Diretora Biblioteca da FAUUSP 7 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 8 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Prólogo Por Fellipe de Andrade Abreu e Lima, Prof. Dr. Arquiteto Preciosos leirores, esse catálogo apresenta uma série de ensaios sobre cidades e cartografia de origem portuguesa e espanhola, ou melhor, íbero-americas. Herdeiros que somos de muitas culturas, desde os nativos desde continente, os invasores colonisadores, os orientais e africanos, graças em parte à coloniação européia, devemos nos comportar como carro de frente de um proceso histórico. Como tal, debemos planejar o futuro como se fóssemos a capital de um mundo novo; fruto de velhas e antigas culturas, mas propondo novos olhares sobre o advir. É nesse sentido que FAUUSP instaurou uma rotina de exposições sobre as doutrinas da arquitetura e das artes, e nesse ano de 2013, continua ese process com esta exposição sobre o tema ‘cidade e cartografia’. Desde 2010 que a diretoria da FAUUSP e de sua biblioteca iniciaram este proceso cumprindo sua função social de abarcar a extensão universitária, além das pesquisa e ensino, formando o tripé universitário e reafirmando a proeminência desta Faculdade de Arquitetura e Urbanismo no Brasil e no mundo. Essa feliz rotina de publicações anuais, junto às exposições, cumpre a nobre função de difundir uma seleção de textos de difícil acesso aos estudantes e pesquisadores em geral, já que muitos dos que aquí estão sendo difundidos constam de edições limitadas feitas por especialistas na teoria da arquitetura na Europa, especialmente na França, na Espanha e Inglaterra, ou mesmo inéditos, como é o caso do texto do Professor Michel Paoli sobre a concepção de cidade em Leon Battista Alberti e o de José Luiz Mota Menezes. Com o exposto, apresentamos nesse volume de tiragem limitada, mas acessível a todos os interessados, a versão original do texto do Emérito Professor José Luiz Mota Menezes, Dois Lados do Mundo – Duas Culturas, com participação ativa e prioritária na exposição que acompanha ese volume. O texto ricamente ilustrado contrapõe os modelos da cidade espanhola ao modelo portugués nas Américas, sem criticá-los, mas ressaltando as características de cada um, criando elos aparentemente invisíveis, mas muito fortes, entre a cultura de um povo e a representação urbana. O segundo texto é de autoria do Professor Fernando Marías da Universidad Autónoma de Madrid - ‘La imagen de la ciudad mediterránea’ - La tipología de la imagen de la ciudad mediterránea, no qual o autor faz uma importante descrição das cidades sob uma rica perspectiva metodológica, considerando ainda os auspícius do uso da iconografia para o estudo historiográfico das cidades, da arquitetura e das transformações urbanas. O uso destas novas fontes levantadas pelo Professor Fernando Marías – literatura, planos de cidades ideais, pintura, poesia, dentre outras – para a arquitetura e suas áreas afins tomaram uma força enorme nesse início do século XXI. Esses ‘testemunhos do passado’ – termo usado pelo autor em questão – apresentam uma característica fundamental: uma liberdade sem controle rígido daquilo que é a realidade construída. Portanto, a veracidade da fonte não significa a veracidade da matéria no mundo, mas seu estudo nos sucita um questionamento sobre as dimensões ‘emblemática’ e ‘alegórica’, numa rediscussão profunda sobre as realidades material e imaterial, fato que pode nos conduzir a novos olhares sobre o passado, o presente e o futuro, já que o desejo não era o de representar a cidade real, mas projetála em potência ou em desejo. 9 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos O terceiro texto, ‘O Patrimônio Cartográfico Português e a Proposta para a Capital do V Império’, de autoria do Professor Fellipe de Andrade Abreu e Lima disserta sobre o imaginário português e o sebastianismo, tecendo uma relação sutil entre a cartografia como ciência e patrimônio de Portugal e as descobertas de além-mar. Sob forte influência dos pensamentos de Agostinho da Silva e de Sylvio Barros Sawaya, o autor que vos escreve como releitura das profecias de Gonçalo Bandarra, do texto bíblioco e mítico do profeta Daniel, objetivando uma indução ao projeto de capital do Império Português proposto por Francisco de Holanda para Lisboa inspirado, talvez, no mito da Roma caput mundi. O quarto texto se apresenta em francês, de autoria do Professor Michel Paoli – La ville (idéale?) chez Alberti. O Professor Michel Paoli, da Université de PicardieJules Verne, faz uma profunda análise de aspectos fundamentais na concepção de cidade de Leon Battista Alberti, sendo uma base epistemológica primordial aos arquitetos e pensadores da cidade dos séculos XV, XVI e XVII. A inserção desse texto e a sua tradução justificam-se por essa razão, já que os teóricos da arquitetura e da cidade do Renascimento italiano do século XV são as fontes basilares do pensamento urbano dos séculos seguintes e Leon Battista Alberti, seu expoente máximo. Nesse contexto, o quinto texto – A Cidade (ideal) de Alberti – é uma tradução despretenciosa para o português do texto anterior, precedido por uma pequena apresentação com o título ‘Sobre a Cidade Ideal de Leon Battista Alberti aos olhos de um Humanista chamado Michel Paoli’, que tenta aproximar o leitor das metodologias e sutilezas do texto. O sexto texto é também de autoria de Fernando Marías – Don García de Silva y Figueroa y la Percepción del Oriente: La “Descripción de Goa” – que apresenta-se como fonte primordial para o estudo das urbanizações no oriente no período das expanções coloniais sob as ordens de El Rey Filipe III de Espanha. É nesse momento que deve se abrir uma nova discussão sobre o mundo colonial, desta vez tomando como referencia as Ordenações Manuelinas, Afonsianas e Filipinas. A rica ilustração e uso das fontes primárias nesse texto servem de modelo aos futuros estudos sobre urbanização colonial em todo o mundo. O papel de Don García de Silva y Figueroa foi primordial para as colônias no oriente extremo para o mundo Ibérico – Portugal e Espanha parecem ter dominado as Américas e o golfo do Oceano Índico. De Macau a Goa, da China à Índia, do Japão ao Irã, das Antilhas à África, muitas cidades coloniais das coroas Portuguesa e Espanhola criaram uma grande globalisação que chegou a todas as nossas culturas. Por fim, o último texto é de autoria de Joseph Rykwert. Sob título ‘Architecture as Metaphor’, o presente ensaio foi especialmente escrito para a edição do livo ‘Regra, Ordem, Invenção’ – FAUUSP, 2010. Considerando a raridade do volume, concebido como edição de luxo para distribuição comemorativa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, este ensaio mereceu uma difusão mais ampla. Este emérito professor demonstra nesse texto uma primorosa relação entre os cinco sentidos e as cinco ordens arquitetônicas, sugerindo que a arquitetura é uma projeto humano, uma relação do ser humano com o meio: uma metáfora. Agradecemos enormemente a todos os autores a permissão e a escrita dos textos para ese catálogo em formato de livo. Mantivemos ao máximo a formatação dos originais, apesar de que pequenas alterações foram necessárias para manter uma unidade do todo e para favorecer a unidade editorial desse catálogo. A grande discussão sobre os quase seis séculos que nos separam dos primeiros tratados do Renascimento são, em verdade, um elo de ligação entre nós e o pasado; da mesma forma que o Atlântico, o Índico e o Pacífico não foram obstáculos, mas pontes de agua, caminhos, desafios, que deveriam ser ultrapassados para dar sentido à tragetória humana. 10 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Agradecemos especialmente ao Professor Sylvio Barros Sawaya, a quem dedicamos esse catálogo, ao Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Professor Marcelo de Andrade Romero, e à Sra. Dina Elisabete Uliana, brilhante diretora da Biblioteca da FAUUSP, que sempre observa o futuro com zelo e primor, trabalhando para o bem coletivo, a preservação do acervo da FAUUSP e a divulgação do conhecimento. Graças a Dina Uliana, com perspicaz percepção e sensibilidade, esses catálogos e exposições tornaram-se possíveis. Mas há ainda um especial arquiteto que merece ser citado: José tadeu de Azevedo Maia. Não há palabras para citar alguém de é indescritível. Esse arquiteto me ensinou o que importa: o respeito às pessoas, só assim a arquitetura pode existir e ser boa. Fellipe de Andrade Abreu e Lima Sorocaba, 1 de fevereiro de 2013. 11 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 12 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Dois Lados do Mundo – Duas Culturas José Luiz Mota Menezes, Arquiteto – [email protected] Professor Doutor em Arquitetura – Universidade Federal de Pernambuco Primeiras Palavras De uma península mais a Oeste da Europa, ao final do século XV, partiram navegantes na busca de um novo caminho para as Índias. Depois, todos seguiram na direção de um novo mundo que de início pequeno se tornou grandioso. Por mais que navegassem não se chegava ao fim. Contornando ou descendo pelo outro lado a imensa terra ao sul e ao Norte do Equador iam se descobrindo outras gentes e os lugares se mostravam diferentes aos incansáveis navegadores. Da especulação se passou para a conquista desses territórios, uma vez que neles havia donos bem diferentes daqueles da Velha Europa. Portugal e Espanha dividiram o Novo Mundo descoberto sob protesto dos demais reinos da Europa. Uma linha foi traçada e ela mudou de lugar várias vezes. Eram as gentes de Portugal e de Espanha que iam conquistando, ora dizimando, populações e demarcando as posses. Na Europa duas culturas diferentes, Portugal e Espanha, ora se aproximavam outras vezes estavam distantes. De espaço a espaço cidades, vilas e povoações marcavam a posse dos territórios e a presença de sua cultura ou aculturação das neles existentes. No começo de tudo na Nova Terra somente era a guerra da conquista ou conversão de índios, depois veio à apropriação do espaço e a inclusão cultural. Dos dois lados daquela península ibérica essas culturas se transferiam quer para lugares acima do equador ou nos dois lados do grande continente ao Sul da linha demarcadora, a de Tordesilhas. Entre as duas costas de mar dominava uma cordilheira – a dos Andes. Não podemos ignorar determinado tempo histórico dessa conquista no além-mar o da União Ibérica, esta permitiu o desinteresse por tal Linha Divisória e a reformulação depois dos limites entre a Espanha da América latina e o Brasil português. Um período de mais de sessenta anos pouco estudado no Brasil. No entanto, fase artística de muito interesse para o Brasil, então se firmando na produção do açúcar no Nordeste em Pernambuco e com o Governo Geral na Bahia. Nas Américas não nos direcionaremos para aquela ao Norte e sim no sentido da Central e do Sul de tão grande território. Nessas partes do Sul dominaram os espanhóis a Oeste e os lusitanos no Leste desde o século XVI até quando ocorreram as independências. A cultura artística colonial da América espanhola, apesar de ter sua origem na mesma Europa, tem diferenças daquela que se instalou na América Portuguesa. Este o tema principal de nossa comunicação. 13 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Capitanias Hereditárias – Demarcação – Chancelaria do Rei D. João III O Estado da Arte na Península Ibérica No princípio estavam todos juntos. Na península ibérica em um tempo ora distante separaram-se a gente de Castela daquela do Condado de Portugal. No século XVI ambos os lugares refletiram as novidades vindas da Itália, onde renascia o gosto pela antiguidade clássica demarcada pela literatura e arte, onde se incluíam também as formas da arquitetura. Quer na Espanha ou em Portugal o Renascimento, à luz de uma concepção espacial, representava mais uma maneira do que uma forma de perceber a filosofia expressa tão bem por um Leon Baptista Alberti e delineada por um Bruneleschi ou em termos esperimental-filosófico por Leonardo de Vinci. Quer Espanha ou Portugal releram e recriaram uma nova maneira de escrever as linhas daquela Renascença. Há quem diga nunca ter de fato existido tal diretriz artística nos termos de sua concepção na Itália e sim ocorrera uma recriação daquele pensamento por meio de novas concepções dos artistas locais e dos arquitetos. Do Renascimento se passou para o que se entende por Barroco e também tal linguagem determinou-se por uma estrutura de certo modo fiel ao que seria geral enquanto concepção e particular em cada um dos dois lugares referidos. Há um Renascimento e um Barroco em Portugal e outro na Espanha que se distinguem perfeitamente quanto a sua concepção espacial e nos ornamentos que alteraram aqueles modelos vindos pelos vários meios de comunicação da península itálica. São os artistas de cada um dos reinos que refizeram modelos que passaram a valer no que se relaciona com a transferência da Itália de tais movimentos artísticos. 14 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Capela de Bom Jesus de Valverde Portugal Em Portugal poucos exemplos na arquitetura daquela espacialidade identificada com as formas geométricas puras. Um deles, oculto no interior de uma edificação é a capela de Bom Jesus de Valverde, em ao Sul do reino. Na Espanha se passa de um Gótico final para um Maneirismo Plateresco, onde a nota maior não é definida pela concepção espacial, nem por meio do purismo da forma geométrica, mas com uma aplicação de uma decorativa vinculada àquela empregada pelos ourives. Ocorreu em Espanha um Renascimento, mas basicamente na Filosofia e na Literatura. A Universidade de Salamanca foi o esteio daquele humanismo da Itália. Sobre as Cidades nas Américas do sul e Central Com relação ao urbano pode-se dizer que em Portugal nada se fez com vistas à cidade regular ou centrada em filosofias atreladas a uma interpretação do teórico romano Vitrúvio, cujos manuscritos estavam no século XV e seguinte sendo traduzidos na Espanha e em Portugal. Enquanto em Portugal quase nada se materializou em termos de cidade regular, na Espanha com as Leis das Índias se definiu no desenho da cidade que segue para o Novo Mundo um traçado regular. Traçado que se concebe desde uma Praça Maior, a das Armas, no qual se percebe claramente forte presença de uma concepção central urbana definida pelos que reinterpretaram aquele mesmo teórico. A Praça Maior era geralmente unitária em seu desenho por conta de ser obra de um mesmo arquiteto a sua concepção e construção. Ao redor da praça um espaço protegido e demarcado por arcadas lhe dá forma singular e bela. Dela surgem as ruas que definem um plano contínuo, na sua definição filosófica regular e que seria inclusive indefinido em suas dimensões, crescendo ao sabor das necessidades. A praça e sua estética marcam o orgulho e o esplendor de um Império forte. De uma Legislação partem os arquitetos para a definição da forma da cidade segundo uma dominante administrativa onde as leis marcam os parâmetros da apropriação do espaço. Primeiro a legislação depois a disposição do poder que se encontra situado junto e ao redor do centro das decisões em tal praça central. A associação de tais determinante faz a diferença fundamental naquele tempo histórico entre os dois lugares colonizados.1 1 As Leis das Índias, na Espanha, determinou a maneira de se apropriar o espaço na definição do plano urbano das vilas e cidades coloniais da América espanhola. Uma grande praça (a das armas) e ao seu redor, configurando o vazio, em símbolos claros estão: o poder constituído representado pelos edifícios da Igreja Catedral do Palácio e de outros. Em certos casos uma galeria envolve a praça garantindo o circular livre do sol. 15 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Praça Maior de Madrid - Espanha A modernidade das cidades da América Latina espanhola é digna de nota. No Novo Mundo, passando literalmente por cima de tudo quanto encontrou em termos de assentamentos urbanos anteriores os conquistadores instalaram sua cultura usando as determinações das Leis das Índias. Hoje a Arqueologia urbana vem descobrindo em vários lugares daquela América feitos singulares onde se percebe certos aproveitamentos quanto às edificações antigas, no entanto, o cerne da cidade permanecia alheio ao que existia e o construído é fiel à visão grandiosa, monumental, de uma Espanha que se distinguia na Europa por impor sua maneira de ser forte e poderosa. Com relação ao mundo português de além-mar, a natureza da civilização indígena deu margem a que de aldeias e cidades lusitanas viessem desenho como que de memória para as fundações que se fizeram. Há certo ar de um resto medievalismo em certas fundações mais antigas e somente na regularidade de algumas de fundações bem avançadas no tempo histórico, no final do século XVI e inícios do seguinte quais os exemplos da cidade do Paraíba, atual João Pessoa, e a de São Luiz do Maranhão2. A escolha pela altura, onde tal bipolaridade se dava pela escolha do porto e da sede identifica nessas fundações a preocupação pela defesa fundamentada em princípios ainda da Idade Média. Em Salvador uma praça maior ainda existe, mas com disposição que se afasta muita daquela da existente no mundo hispânico de além-mar. Duas cidades podem ser comparadas diante do feito de datarem ambas suas fundações do século XVI nas duas Américas. Olinda e México. A apropriação do espaço nos dois assentamentos urbanos tem características bem diferentes, apesar de ambas se situarem em um mesmo tempo histórico. Olinda tem seu plano inicial e que permaneceu sem alterações substanciais até hoje fundamentado em princípios que fogem àqueles das cidades centrais defendidas pelas teorias urbanas que reinterpretaram os princípios de Vitrúvio. A Cidade do México, cujo desenho é nitidamente espanhol ressentiu-se na sua implantação da cidade antes existente e de origem indígena. Olinda é assente segundo a memória da cidade portuguesa ainda de plano irregular. A Cidade do México se desenvolve desde uma Praça de Armas e tem seu desenho em quadras regulares à maneira das diretrizes espanholas das Leis das Índias. 2 Plano de responsabilidade do engenheiro militar Francisco Frias de Mesquita, no princípio do século XVII. 16 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP México – Praça Maior Outro exemplo marcante e datado de c. 1540 é a Cidade de Sucre, a antiga La Plata, no Chile. O singular é a escolha do sítio uma área em declive e nem por isto se deixa de aplicar no traçado as diretrizes das leis das índias. A praça maior é pequena e corresponde a uma das quadras das definidas para o desenvolvimento urbano da cidade. Mais ao Sul temos a Cidade de La Plata, criada em 1882 cujo traçado se inspira nas cidades teóricas italianas derivadas de uma reinterpretação de Giorgio Vasari de Vitrúvio e, ainda, de uma forte influência daquelas existentes na America Latinas espanholas e fiéis às Leis das Índias. No Brasil somente e de forma bem simplificada se percebe a presença das determinações legais do documento espanhol e mesmo quando da União Ibérica e sem a sistematização desejada e sim uma releitura distante das idéias presentes naquele documento espanhol. Nessa colônia portuguesa se percebe tal feito na cidade da Paraíba e em São Luiz do Maranhão. De certo modo na Praça de Salvador talvez determinada depois de 1581 a praça de armas se define parcialmente. Haja vista que o engenheiro Luís Dias não determinou todo o plano de uma vez e ele foi modificado depois. Parece-nos que as determinações existentes nas Leis das índias para as cidades novas quando da União Ibérica não foram aplicadas no Brasil. Olinda, de 1535/37 tem seu traçado decorrente da escolha do lugar, associado às determinações administrativas que deixa lugar a que o local indique a melhor forma de desenho da praça principal da Vila diante da Igreja matriz e junto á Torre de Menagem e Casa da Câmara e o açougue. A não escolha de uma área cuja superfície seja sem elevações, fiel a um sistema de defesa ainda de teor medieval deve ter produzido o resultado que hoje se percebe na formação do desenho urbano dessa cidade.3 A organização urbana de Olinda pode ser percebida bem diferente daquele da cidade do México que adotou a regularidade de praça e quadras que caracteriza outros assentamentos urbanos da América espanhola. A União Ibérica dura sessenta anos, no entanto sua presença na América lusitana é quase inexistente enquanto determinações legais que poderiam ter existido no design dos planos das cidades. 3 Não é somente Olinda que segue tal determinação do plano segundo a defesa pela altura, o Rio de Janeiro, no Morro do Castelo e Salvador com a cidade alta e baixa. Além de outras. São Luís do Maranhão, apesar da presença de uma praça de armas se encontra esta situada em altura em relação ao mar e ao porto. 17 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Olinda – Gravura holandesa c. 1630 - detalhe Igrejas e Outras Edificações – Interiores e Exteriores A presença de Portugal e da Espanha enquanto conquistadores do Novo Mundo implica uma análise mais vasta e com características quase impossíveis de chegar a alguma conclusão esta nos parece alheia a nossa comunicação. Um período nos interessa de perto o da União Ibérica. De 1580 a 1640 Portugal e Espanha estavam sob um mesmo rei. As condições da sucessão de D. Sebastião levaram a tal situação política administrativa. No campo da cultura e particularmente da arte e da arquitetura pouco se disse até o presente momento. Há um silêncio de interesse e mais ainda certo resguardo quanto às conclusões. Considerando a presença portuguesa na capitania de Pernambuco e na relacionada com o Governo Geral na Bahia, foi o período considerado o da presença das ordens religiosas e da construção de suas casas em caráter permanente. Haja vista em Pernambuco a presença dos jesuítas em 1550, e os carmelitas e franciscanos no final do século XVI. Na América espanhola também assim se fizeram as ordens religiosas nas diversas cidades fundadas. Do final do século XVI é o enorme mole da casa dos jesuítas de Olinda e do mesmo final de século e começos do seguinte as casas dos carmelitas e franciscanos na mesma Vila. O que identifica as duas construções a jesuíta e a carmelitana é a monumentalidade das obras diante de uma pequena vila de pouco mais de duas mil almas. 18 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Os dois edifícios assinalados estavam bem identificados com um modelo monumental que parece vir de Espanha para Portugal à época de Felipe II e talvez seja entendido como uma maneira de se mostrar ao mundo a grandiosidade do Reino espanhol. Opinião que externa o historiador Soromenho quando se refere à igreja e convento de São Vicente de Fora em Lisboa, de autoria de Felipe Terzi, uma vez que igreja e convento projetados e construídos se destacavam no perfil da cidade de maneira monumental, “alardeando a emanação da forte vontade política que a tornava possível. Na cúpula, organismo inédito no panorama de Lisboa, desenhava-se uma superioridade tecnológica desconhecida ao mesmo tempo em que, na originalíssima composição da fachada se evidenciava a monumentalidade requerida a uma igreja de patrocínio régio, onde a nota maior de originalidade era dada pelo modo de inscrição das torres na fachada”. Naquela Olinda sob domínio espanhol desde 1580 a inspiração de Francisco Dias com relação ao Colégio cujo projeto é a ele atribuído deveria seguir as diretrizes de Terzi que então conheceu nas obras de São Roque na mesma cidade de Lisboa. A edificação carmelita tem autoria desconhecida, mas segue o mesmo padrão de Espanha, inclusive na sua fachada á maneira retabular, semelhante a muitas da América espanhola, e que infelizmente ficou inconclusa. Aproximações e distanciamentos singulares na arte e na arquitetura das duas Américas. Monumentalidade que é no caso de Olinda está prejudicada à luz da ausência de uma praça maior ou de largos grandiosos que ressaltavam o valor da igreja no contexto político urbano da cidade espanhola. Em Olinda ainda se percebe tal forma de ver a igreja em relação a cidade pelo local onde ela se encontrava em altura com respeito ao restante da vila. O Mosteiro do Escorial - Espanha A maior diferença entre a duas Américas vão ser sentidas no trato da decoração interior. Enquanto dominava o arquiteto Herrera na Espanha e Baltazar em Portugal a linguagem Maneirista os identificou e a arquitetura e os interiores falaram uma linguagem de pequenas variantes quer aquela do imenso Mosteiro do Escorial ou a das casas dos jesuítas em Portugal, por exemplo. No momento em que surgem as linhas dominantes do Barroco, longe daquele determinismo da União Ibérica o distanciamento entre os reinos idades deixa aparecer bem a riqueza ornamental de ambos as culturas. Riqueza que é visível na exuberância dos retábulos concebidos de maneira quer equilibrada em termos de composição, como se fez e Portugal e no Brasil português, ou com uma composição exageradamente ornamentada e desconstruída que identifica aqueles retábulos e interiores da América espanhola. 19 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Uma monumentalidade bem em acordo com a alma da Espanha grandiosa e que se lança para cima em busca do infinito, símbolo de um estado que era forte. A gente lusitana é mais telúrica e apegada a uma colonização que não nos parece espelhar tal simbologia de conquista e força. O forte do lusitano está no modo civilizador, bem aproximado da gente da terra e que toma por princípio o respeito ao outro, à luz do legado franciscanos no trato com o índio este defendido também pela Companhia de Jesus. A conquista do espaço territorial não foi pela força e sim pela persuasão. A arquitetura enquanto reflexo do social espelhará tais diferenças que somente se aproximam no período histórico da União Ibérica. Neste tempo em Olinda as construções serão monumentais e em uma escala que nada tem a ver com a dimensão numérica dos habitantes. Também diferentes serão os estilos que se percebem nas composições arquitetônicas em dimensão nos espaços interiores nos dos lados da América. As matrizes iniciais para tais edificações no tempo do Maneirismo serão aquelas vindas da Itália e relidas na península ibérica pelos artistas dos dois reinos. Não existirão nesse Maneirismo tantas diferenças. Elas vão surgir e fortes quando a liberdade de composição se instalar nas duas partes consideradas e na oportunidade do Barroco. Portugal no Brasil com relação ao Barroco manterá certa sobriedade no exterior e no interior com relação à composição regular e vincada em linhas claramente encontradas definidoras dos traços gerais da composição. Enquanto isto, talvez pela forte presença de um Churriguera e seus discípulos na América espanhola, a desconstrução de tal regularidade se faz de maneira quase que onírica. Em certos interiores, essencialmente nos retábulos de altar, a clareza desejada da composição, mesmo considerando o Barroco e se perde diante da multidão de ornatos e registros que se superpõem. No exterior as igrejas menores e maiores o modelo de fachada retabular, presente desde o Maneirismo e que se mantém no Barroco na América espanhola fará a diferença entre os dois territórios ora considerados. Mais diferenciados serão os resultados da imaginária. A um sofrimento contido visível nos cristos lusitanos se contrapõe laceradas imagens espanholas. Por outro lado, é na imaginária onde se pode ver revelada a presença de uma tradição devida a outras culturas encontradas pelos de Espanha nas diversas partes da conquista. Os astecas, incas e outros povos da América espanhola detinham certa experiência quanto ao trabalho e uso da pedra e de outros materiais, além do conhecimento da metalurgia. A mão de obra por mais que desejada fiel às diretivas da Espanha se reflete no dia a dia da construção e no ornamento desses exteriores e interiores das casas dos mais diversos lugares. Em contrapartida pouco receberam nessa linha os lusitanos com relação à civilização indígena nativa no Brasil. Nessa colônia o mais importante estava vincado a certa ausência de tradição tão forte quanto aquela das conquistas espanholas. Os profissionais no Brasil tinham liberdades nem sempre conhecidas em Portugal sob domínio de uma igreja que desejava ser fiel à uma Contrareforma e seus temas iconográficos. O Brasil conheceu excelentes exemplares, em termos de linguagem do Maneirismo e do Barroco. Certa quantidade que somava com a qualidade do produzido sem nenhuma resistência anterior estilística ou decorrente de mão de obra vincada a uma tradição. 20 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Cristo crucificado espanhol e Cristo do Horto do mestre Aleijadinho Uma diferença é sentida a da presença na América espanhola da mão de obra indígena e de seu universo religioso que aculturou ou se aculturou diante da presença espanhola. A profusão de ornatos e a superposição desmontadora daquelas linhas da composição talvez se devam a tal mão de obra e gosto. Foram duas culturas e assim eles permaneceram ora se aproximando outras vezes mantendo a distância que separa os artistas e arquitetos no ato criador. De tudo quanto déssemos uma idéia pode ter restado - a elaboração e aplicação indistinta de uma Lei para configurar um modo de apropriação do espaço na América espanhola para a vida do homem e que gerou certo simbolismo com relação a presença do poder – a Lei das Índias. Esta talvez a diferença maior. Mesmo com o domínio espanhol e quando da União Ibérica tal Lei no Brasil teve pouca aplicação. Os portugueses dominados não se deixaram levar pelas determinações da tão forte Leis das Índias. Neles foi mais significativa a memória dos lugares e a identidade com a terra e a gente nela moradora. Esta sem vinculação maior à determinação de como fazer uma cidade, por viverem em ladeias nem sempre fixas ao solo permanentemente. José Luiz Mota Menezes Recife, 02 de novembro de 2012 21 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 22 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP ‘La imagen de la ciudad mediterránea’ - La tipología de la imagen de la ciudad mediterránea Fernando Marías Universidad Autónoma de Madrid El empleo de la iconografía urbana como fuente para el estudio de la historia de las ciudades, de su transformación urbana y de su arquitectura es práctica absolutamente común; como testimonios gráficos procedentes del pasado, los historiadores de la arquitectura y del urbanismo han tendido a confiar en la información de las vistas y plantas, muchas veces sin someterlas a un control de su fiabilidad, dando por descontado su carácter retratístico y su veracidad4. Menos común es el estudio de esa iconografía en sí misma, ya sea para acentuar su dimensión "emblemática" o "alegórica", en relación paralela con la geografía moralizada de la Edad Media, o para realzar su dimensión "realística" como construcción de imágenes aceptables desde un punto de vista perceptivo, al vivo, verdaderas, verosímiles, aunque pudieran ser imágenes "ficticias", no experimentables por parte de ningún observador; se ha postergado, al mismo tiempo, su carácter informativo sobre las ciudades que representaban más allá de su realidad física, sin centrarse en el análisis de las imágenes como construcciones culturales, cuyo propósito primario no fuera solo la representación directa de la ciudad material. ¿Estudiamos primariamente ciudades históricas a través de sus testimonios gráficos, o preferentemente vistas de ciudades como objetos en sí mismos significativos? Porque en el primer caso, tendemos a acentuar la fiabilidad de estos testimonios, dando por supuestos el carácter científico de los métodos empleados para su realización. En el segundo caso tendría mucha más importancia la identificación de las semplificaciones, deformaciones y manipulaciones sufridas por la vera imago del referente urbano y el carácter "artístico" -ideológico a fin de cuentas más que científico- de sus construcciones. Como historiadores de la arquitectura y del urbanismo somos proclives a privilegiar la primera de estas dos posibilidades, mientras que como historiadores de "imágenes de ciudades" resultarían más interesantes las que hubieran sido sometidas a un proceso más profundo de transformación. En los últimos años se ha incrementado notablemente el interés por estas imágenes -marginadas desde un punto de vista artístico al no ser sus autores figuras de primera fila, dedicadas éstas al vedutismo- aunque queden todavía por resolver algunos problemas que se ponen de manifiesto al enfrentarse con este género, al haberse tendido normalmente al estudio monográfico de las imágenes de una ciudad o de un mismo artífice, sin llegar a contextualizarse en el marco más amplio de la producción global de la llamada "corografía" urbana. Las dos más célebres imágenes de una ciudad pintadas en España en la época Moderna, la Vista de Toledo (ca. 1600, Nueva York, Metropolitan Museum of Art) y la Vista y plano de Toledo (ca. 1610, Toledo, Museo Casa del Greco), obras ambas de Doménico Theotocópuli 'El Greco' (1541-1614), 4 Este artículo desarrolla y pone al día mis trabajos titulados "Tipologia delle immagini delle città spagnole", en Città d'Europa. Iconografia e vedutismo dal XV al XIX secolo, ed. Cesare de Seta, Electa Napoli, Nápoles, 1996, pp. 101-117 y "From the 'Ideal City' to Real Cities: Perspectives, Chorographies, Models, Vedute”, en The Triumph of the Baroque. Architecture in Europe 1600-1750, ed. Henry A. Millon, Bompiani, Milán, 1999, pp. 218-240. 23 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos pueden servirnos como punto de partida para la reflexión sobre dos de los problemas que surgen en el estudio de las vistas de ciudades: el de su terminología para alcanzar una tipificación coherente y el de su fiabilidad. Sobre todo, si comparamos estos dos cuadros con el dibujo de Toledo, de 1563, del artista flamenco Anton van den Wyngaerde (Amberes, ca. 1525-Madrid, 1571), autor de la serie más importante de vistas de ciudades españolas del siglo XVI y paradigma de lo que, en una primera impresión, constituiría una extremada exactitud en su descripción topográfica y arquitectónica. La primera de ellas, con su formato anticonvencionalmente vertical, más propio de otro género de pintura, como un retrato, que de una vista urbana, nos muestra un pequeño sector -oriental- de Toledo que, aunque limitado en su extensión, recogía algunos de los edificios más representativos de la vida institucional y religiosa de la ciudad: el Alcázar real y un palacio nobiliario, la Catedral y el Hospital cardenalicio de la Santa Cruz. La vista de El Greco se nos presenta como una especie de paisaje urbano más que como una exacta representación "corográfica" de Toledo, a pesar de la extremada exactitud en el detalle de las arquitecturas que nos muestra. A primera vista, la forma de estos edificios -frentes septentrionales del Alcázar y del Hospital- sugiere que la imagen fue realizada a partir de un punto de vista situado al norte de la ciudad; no obstante, un análisis más preciso de la localización recíproca del Alcázar y la Catedral, ésta a la izquierda de aquélla, demuestra que su colocación respectiva, desde un punto de vista situado al norte de la ciudad, en el camino hacia Madrid por Illescas, se ha intercambiado; similar imagen solo podía ser contemplada desde el este, desde el segundo camino que conducía, por Aranjuez, hasta la capital del reino. La imagen de El Greco, fiable por su descripción del pormenor arquitectónico (no imaginario pero sí simbólico)5, resulta ser -más que la invención falsa de un visionario- un compuesto de dos diferentes vistas y por lo tanto, aparentemente, rechazable desde un criterio que pretendiera también la exactitud topográfica de sus datos. Sin embargo, veremos como esta práctica no quedó limitada a las creaciones de un artistas que, como el cretense, pretendiera sobre todo crear una imagen más subjetiva que objetiva de una ciudad. A pesar de encontrarse más próxima a la tipología de las imágenes corográficas, este cuadro se ha tendido a poner en relación con el otro gran grupo de las imágenes de ciudades, el de las imágenes convencionales, al que pertenecerían las que denominamos vistas icónicas y las vistas típicas. En las primeras no interesaba la representación individualizada de una ciudad en su conjunto, sino solamente el concepto de ciudad (como en las llamadas en latín icones)6, y constituían imágenes 5. Véase ahora Fernando Marías, El Greco en Toledo, Scala Books, Londres, 2001, cap. 1. Presentes sobre todo en portulanos, cartas de marear o relatos de peregrinaciones. Quizá podamos encontrarnos con representaciones icónicas de ciudades españolas, como Málaga, desde mediados del siglo XV, en los “vistosos” y flamígeros portulanos “catalanes” producidos en Palma de Mallorca y Barcelona, como en el de Gabriel de Valseca (Palma, 1447, Bibliothèque Nationale de Paris, Rés. Ge. C. 4607). Véase Gonçal Reparaz, "Essai sur l'historie de la géographie de l'Espagne de l'antiquité au XVe siècle", Annales du Midi, 52, 1940, pp. 137-189 y 280-341, y Julio Rey Pastor y Ernesto García Camarero, La cartografía mallorquina, Departamento de Historia y Filosofía de la Ciencia, Madrid, 1960. Esta línea representativa se mantendría a lo largo de los siglos XVI y XVII en el medio de los portolanos, aunque paulatinamente fueran incorporándose algunos rasgos distintivos de cada ciudad, que llevarían a asimilar sus imágenes con las vistas típicas por su empleo de la metonimia. En la carta del Mediterráneo atribuida al portugués Sebastiâo Lopez (ca. 1565, Newberry Library, Chicago), encontramos una ciudad de Málaga cuyos únicos signos distintivos son los de su nombre, su situación geográfica y el mar que ciñe su caserío. Todavía más tardío, del siglo XVII, un portolano italiano, obra del napolitano Bernardo Muti (Valencia, Archivo Municipal), incluyó entre sus descripciones geográficas y portuarias las imágenes dibujadas de cinco o seis ciudades españolas; en todas ellas, perfiles o elementales vistos a vuelo de pájaro con edificios en perfil, el elemento principal de la imagen es la representación de 6. 24 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP esquemáticas que incluso podían intercambiarse con mínimas modificaciones (terreno en lugar de rio, mar en lugar de rio, etc.); de hecho, requerían un titulus para su correcta "identificación"7. En las segundas, las vistas típicas, como la vista de Toledo de Pedro de Medina (1548)8, no interesaba ni la descripción global y homogénea de su imagen, ni hacerla coincidir con la experiencia visual de sus contempladores, sino su identificación precisa, de forma metonímica, a través de su extensión esquemática -prácticamente con una planta geométricamente regular o, más tarde, aproximativa- y sus principales edificios, emblemáticos o representativos, sus landmarks arquitectónicos, sobre los que recaía el peso del reconocimiento del conjunto, hasta el punto de poder llegar a sustituirlo, presentándose como alzados ortogonales o en forma de representaciones pseudo-perspectivas9. Imágenes españolas de esta clase se conservan desde comienzos del siglo XIV, como las ilustraciones a pluma que acompañan la relación de la "Visita canónica a la Diócesis de Tortosa por su Obispo Don Francisco de Paholach en el año 1314"10. Es evidente que la Vista de Toledo no encaja automáticamente con ninguna de estas dos categorías, ni siquiera con la segunda11, pues no existe imagen global esquemática ni escisión entre arquitecturas representativas y el tejido urbano contextualizador. A pesar de ello, se ha venido poniendo en relación con la tradición medieval de la "geografía moralizada"12, de las "vistas emblemáticas" de las glorias de la ciudad más que con un nuevo género, en el que los valores emblemáticos de la arquitectura de la urbs y de la sociedad de la civitas se fundirían con intenciones corográficas y paisajísticas13. No deja de ser significativo a este respecto el deslizamiento del título de la más importante obra de corografía urbana del siglo XVI, la Civitates Orbis terrarum de Georg Braun y Franz Hogenberg, en el que las "civitates" del primer volumen (1572) se convierten en las "urbes" de los restantes cinco tomos (1581-1617). Parece indudable que las dificultades críticas que plantea este cuadro de El Greco se deben tanto a nuestros precarios sistemas de tipificación como al hecho de que frecuentemente olvidemos que nos enfrentamos a "construcciones", a imágenes "hechas" más que automática y directamente procedentes -sin intermediarios de ninguna clase, como imágenes "naturalmente" especulares- de sus propios referentes urbanos14. la topografía de sus puertos, los principales rasgos que podrían permitir la identificación del lugar a distancia, y los servicios portuarios; el caserío o los principales edificios se convierten en configuraciones seriadas y esquemáticas. 7. O, al menos de su inserción dentro de una narración explicativa. Así, por ejemplo, podríamos encontrar la imagen de Granada -como "representación" de la Valencia conquistada por Jaime I- en una xilografía de la Segunda Parte de la Coronica General de España (Valencia, 1546) de Pedro Antonio Beuter; sorprendentemente, este mismo autor y en el mismo año, imprimía una característica vista típica de Valencia en su Primera Parte de la Coronica General de toda España. 8. Libro de las grandezas y cosas memorables de España, Sevilla, 1548, fol. 85. 9. Véase ahora, sobre la historia de estas tradiciones de "retratos de ciudades" antiguos y medievales, Lucia Nuti, Ritratti di città. Visione e memoria tra Medioevo e Settecento, Marsilio, Venecia, 1996, pp. 43-67. 10. Tortosa, Archivo Capitular. Sign.: Vis. Past. 1; publicados por María Teresa García Egea, Una visita pastoral de la Diócesis de Tortosa. Obispo Paholach, Diputación Provincial, Castellón, 1993. 11. Victor I. Stoichita, L'instauration du tableau. Métapeinture à l'aube des Temps modernes, Méridiens Klincksieck, París, 1993, p. 191 (trad. esp., Ediciones del Serbal, Barcelona, 2000). 12. Jonathan Brown y Richard L. Kagan, "La 'Vista de Toledo'", pp. 37-55. También véase El Greco de Toledo, ed. por J. Brown, Ministerio de Cultura, Madrid, 1981. El término se basa en Jürgen Schulz, "Jacopo de' Barbari's View of Venice: Map Making, City Views, and Moralized Geography Before the Year 1500", The Art Bulletin, 60, 1978, pp. 425474. 13. Fernando Marías, "El Greco y el paisaje español del siglo XVI", en Los paisajes del Prado, Nerea, Madrid, 1993, pp. 88-104. 14. Véase Svetlana Alpers, The Art of Describing. Dutch Art in the Seventeenth Century, The University of Chicago Press, 25 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos La segunda imagen, la Vista y plano de Toledo, es todavía más desconcertante, a pesar de su formato apaisado tradicional y su aparente normalidad en la descripción corográfica de la ciudad; de hecho, siempre le ha parecido a la crítica una obra tan completamente normal que solo debía leerse como contrafigura de la creación de "irrealidad" de la Vista de Toledo; en consecuencia muy poca atención se le ha prestado hasta hace muy pocos años. En principio, lo que tenemos delante de los ojos es una simple vista de la ciudad, un perfil en perspectiva, tomada de nuevo desde el camino de Madrid, desde el norte, próxima -aunque no idéntica- a la imagen dibujada y coloreada, supuestamente objetiva, de Anton van den Wyngaerde. Ahora bien, en el espacio ficticio de la representación urbana, surgen otros cuatro elementos figurativos: 1) la imagen de un dios fluvial de yeso dorado, como si hubiera sido sacado de las arquitecturas efímeras de una fiesta, que derrama el agua sobre el terreno y simboliza al rio Tajo; se constituye no solo como un elemento de la geografía toledana sino también como una alegoría de su economía agrícola y su fertilidad y, al mismo tiempo, nos da cuenta del carácter antiguo de la ciudad, cuyas raíces históricas podrían retrotraerse a la época romana. 2) la imagen del milagro mariano en el que se fundamentaba la historia religiosa -pasada y presente- de Toledo, con la descensión sobre la ciudad de la Virgen que impone la casulla a su patrón San Ildefonso. 3) la imagen en trompe-l'oeil de una hoja de papel, en el que se ha dibujado la planta de la ciudad y que un joven, al ocupar el espacio -in abisso- que se encuentra entre la superficie del cuadro y su primer plano, puede desplegar ante nuestros ojos, como si estuviera pegada al reverso de la "ventana albertiana" de la pintura. Y, 4) la imagen sobre una nube -como veremos retrato de un modelo tridimensional- de un edificio, el Hospital Tavera que administraba el cliente del lienzo, el rector Pedro Salazar de Mendoza; su imagen se ha reducido en escala para no cubrir la vista de la ciudad, y se ha reorientado -desde el sur- para poder así mostrar la visión de la fachada del edificio, invisible desde el norte. No nos encontramos ante [las imágenes de] un dios, un milagro, un plano o un edificio, sino ante las imágenes [de las imágenes] de un dios, un milagro, un plano y la maqueta de un edificio. Frente a la vista de Toledo de 1565, del también flamenco Joris Hoefnagel, publicada en 1599 en las Civitates Orbis terrarum, y en la que la Catedral y el Alcázar, sobre trozos del caserío, ocupan dos espacios independientes, al margen de la vista general desde el sur de la ciudad, El Greco actúa de manera diversa; por una parte, intenta la integración perceptual de todos los elementos en el lienzo; por otra, deja claros -a través de la nube sobre la que se asienta el modelo y de una leyenda que aparece escrita sobre la planta de la ciudad- los registros que escapan a la lógica visual, y los procedimientos por él utilizados, explicando sus causas y justificando por escrito las alternativas adoptadas: "Ha sido forzoso poner el Hospital de don Joan Tavera en forma de modelo porque no solo venía a cubrir la puerta de Visagra mas subía el cimborrio o cúpula de manera que sobrepujaba la ciudad y así una vez puesto como modelo y movido de su lugar me pareció mostrar la haz antes que otra parte, y en lo demás de cómo viene con la ciudad se verá en la planta. Chicago, 1983 (trad. esp., Blume, 1987) y "The Mapping Impulse in Dutch Art", en Art and Cartography. Six Historical Essays, ed. David Woodward, The University of Chicago Press, Chicago-Londres, 1987, pp. 51-96; el excesivo énfasis puesto por esta autora en la oposición caracterizadora narración-descripción, y la confusión establecida entre mapa y vista corográfica, minan el carácter "construido" de las vistas y socavan la importancia de su aportación. 26 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP También en la historia de Nuestra Señora que trahe la casulla a San Ildefonso, para su ornato y hacer las figuras grandes, me he valido en çierta manera de ser cuerpos celestiales, como vemos en las luces que, vistas de lexos por pequeñas que sean, parecen grandes". En sus palabras y en su imagen global y múltiple de Toledo podríamos quizá descubrir una reflexión crítica del género por parte del pintor; si, por una parte, la vista y la planta se complementan mutuamente, dando respectivas razones de sus imágenes (la planta de las relaciones entre los edificios, la vista convirtiendo en realmente experimentable la abstracción de un sector de la planta), no agotan, sin embargo, la "imagen" de la ciudad. Esta es en lo físico perceptualmente inaprensible, irrepresentable; una vista perspectiva nos da una imagen orientada, que requeriría de entrada, por lo menos, otra vista, tomada desde el lado opuesto; una planta no sustituye a la experiencia visual y vital de la ciudad. Pero además, ni siquiera la imagen doble es suficiente para El Greco -y ha de echar mano a otros recursos- para enfrentarse con otros aspectos de la realidad urbana como entidad humana e histórica, que no se agotaba en el presente de su propia imagen. Algunas de estas ideas han sido puestas de manifiesto, en su reflexión sobre las representaciones de ciudades, por Louis Marin15. Este autor ha distinguido, como figuras de un discurso utópico, tres tipos de representación urbana: 1) la perspectiva panorámica, como suerte de relato con un narrador implícito; 2) la planta, como descripción con un narrador ausente; y 3) el compromiso entre ambos que constituiría la vista a vuelo de pájaro16. Según Marin, en el cuadro de El Greco se pueden identificar cuatro espacios o cuatro dimesiones codificadas: dos miméticos, vista y planta, como representación esquemática, mostrada por el "doble del pintor," de la representación de la ciudad; dos metafóricos, historia mítica y alegoría retórica; y un quinto, a través del modelo del Hospital, que testimoniaría, con su propio orden, pictórico más que natural o solo metafórico, la "inversión, la deconstrucción de la representación". Quizá nos debiéramos interrogar si El Greco, entre requisitos exigidos por el cliente y sus propias reflexiones sobre el arte de la pintura, no habría pretendido demostrar, a través de tal acumulación de imágenes variopintas, y abandonando la posibilidad del compromiso de la vista a vuelo de pájaro, o la perceptualmente inalcanzable imagen de la planta con alzado, la imposibilidad de la representación de la ciudad -en todas sus múltiples dimensiones- en una sola imagen, perspectiva; o incluso en dos imágenes, dispuestas de forma coherente gracias al artificio del trompe-l'oeil en el espacio ficticio, pero en última instancia irreconciliables17. 15. Louis Marin, Utopiques: Jeux d'espaces, Les Editions du Minuit, París, 1973, pp. 283-290 y, en términos más generales, "La ville dans sa carte et son portrait. Propositions de recherche", en De la répresentation, Gallimard-Le Seuil, París, 1994, pp. 204-218. Marin (p. 283) ha planteado la posibilidad de si en esta obra de El Greco, que "présente le jeu d'espaces multiples caractéristique de la production utopique avec une si parfaite évidence [on] peut se demander si le sujet de l'oeuvre, son thème patent, n'est pas de représenter la déconstruction de la représentation et ainse d'exhiber le discours idéologique dans lequel elle est prise... et permît, dans l'idéologie de la représentation, l'opération propre à la critique théorique, l'inclusion de l'énonciation dans l'évalutaion critique." Véase también, con aquellas páginas como punto de partida, Victor I. Stoichita, L'instauration..., pp. 190-202, donde se subraya la importancia del viaje óptico y mental, que El Greco impone al espectador, entre dos sistemas de representación y de "lectura", así como en el valor intertextual de la planta. 16. No definiría, por lo tanto, como otra categoría las plataformas o plantas con alzados de edificios. 17. Marin (p. 285) ha podido llegar a preguntarse: "Mais où donc est Tolède, sinon dans l'écart irrépresenté et irrépresentable qui sépare le rectangle blanchâtre de la carte, le schème-diagramme qui s'y inscrit et l'arc du paysage, l'apparence, qui y surgit?" 27 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Es posible, por otra parte, que la idea de esta imagen doble del Toledo material -vista y planta- le hubiera sido sugerida a El Greco por la vista y dos plantas de Londres -Civitas Londini- de John Norden, de 160018, en poder de Salazar de Mendoza. Las diferencias introducidas, más allá de las existentes entre un grabado y una pintura, por parte del cretense saltan, sin embargo, a la vista: 1) Ha mantenido el punto de vista de su imagen, determinado por el horizonte que marcan los ojos del joven, sin incluir una "statio prospectiva" como la denomina Norden, la torre de la iglesia de Saint Mary Overy, y todo un primer plano que hubo de requerir otro punto de vista, en este caso imaginario; o la reconstrucción de la visión desde Saint Mary Overy, dándole la vuelta a la imagen para pasar de una visión hacia el sur a otra hacia el norte. 2) Ha preservando su imagen, por lo tanto, de la flagrante contradicción de la vista de Londres, al quedar en ésta su punto de vista dentro del campo de la visión y, de forma incoherente, sumar o mezclar dos sistemas de representación. Y 3) Los emblemas y las plantas pertenecen coherentemente al espacio ficticio de su visión, sin flotar por la superficie del grabado o apoyarse en su borde. Esta constatación del modelo tipológico de la Vista y plano de Toledo, y el análisis de sus modificaciones, ha de llevarnos a otros temas, en primer lugar el de su tipificación19. La Civitas Londini de Norden, o al menos su visión de la ciudad más allá del Támesis, se correspondería con una vista estereográfica -según la clasificación de Raleigh Skelton20- o con un perfil -según la más reciente de Lucia Nuti21- aun cuando se nos pretenda presentar como una vista en perspectiva o vista a vuelo de pájaro, o como una vista oblicua para ésta última autora, dado que no se podría contemplar su red viaria. La vista de El Greco constituye pura y simplemente para nosotros, como ésta última, 18. Se trata de la imagen de Londres que, con mayor probabilidad, poseyera Pedro Salazar de Mendoza en su colección, inventariada en 1629; las extrañas curvaturas que aparecen, en las vistas de Londres y Toledo, en los extremos parecen confirmar su dependencia. Sobre esta colección, Richard L. Kagan, "Pedro de Salazar de Mendoza as Collector, Scholar, and Patron of El Greco", pp. 90-92. Sobre la Civitas Londini, de Norden -aunque las plantas de "London" y "Westminster" se basen en las grabadas por Pieter van den Keere en el Speculum Britannia de Norden (1, Middlesex, 1593)-, véase J. Hursfield y R. A. Skelton, "John Norden's View of London", London Topographical Record, 1965, pp. 525. 19. La terminología y -en función de ella- la taxonomía contemporánea a las obras no proporcionan una información globalmente utilizable. Por ejemplo, en la minoría de imágenes hispanas en que aparece un "título" en castellano, este suele ser el de plan, perfil, vista, descripción, perfil o figura; excepcional es la utilización de términos como traças, retrato, planta, plataforma, planta y perspectiva o descripción chorographica, esta última significando más una representación cartográfica que una vista urbana en sentido estricto. A partir del siglo XVIII pueden también encontrarse, aunque con carácter asimismo excepcional, otros términos: planta y elevación, mapa o diseño, perspectiva. En obras tituladas en otros idiomas, el vocabulario vuelve a ser muy restringido: plan, profil, vue, prospect, prospectus; a través del tipo de firma de los autores de las mismas, se implican también los términos pictura, effigies y delineatio. Sobre el problema de la terminología, véase Raleigh Skelton, "Introduction", Civitates urbis terrarum, Amsterdam, 1965, pp. x y ss.; véase también The Origins of Italian Veduta, ed. por E. Berns y D. E. Bonner, Winton Belle Gallery, Providence, R. I., 1978. El intento reciente de desacreditar cualquier tipo de categorización que no esté en íntima relación con la descripción de una ciudad específica, por parte de Lucia Nuti, "The Perspective Plan in the Sixteenth Century: The Invention of a Representational Language", The Art Bulletin, lxxvi, 1, 1994, pp. 105-128, contrasta con su clasificación en tres tipos de coherencia muy limitada: 1) perfiles; 2) vistas oblicuas (desde un punto de vista más elevado pero sin mostrar la red viaria de la ciudad, a partir de un supuesto control geométrico del espacio visual); y 3) perspective plans, en los que se mostrarían las calles y unificaría las dos categorías de "a vista de pájaro" y todo tipo de map views, con planta y alzado de edificios. 20. 1) vistas estereográficas (perfiles, vistas, panoramas); 2) planos o plantas; 3) vistas en perspectiva o vistas a vuelo de pájaro; y 4) map views, en las que se superpondría, sobre una planta general, una vista a vuelo de pájaro para los edificios. 21. 1) perfiles; 2) vistas oblicuas (tomadas desde un punto de vista más elevado pero sin mostrar la red viaria de la ciudad, y realizadas a partir de un supuesto control geométrico del espacio visual); y 3) perspective plans, en los que se mostrarían las calles, convirtiéndose en una clase que unificaría las dos categorías de "a vista de pájaro" y todo tipo de map views, con planta y alzado de edificios. 28 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP y a pesar de las variantes entre lo que sería una perspectiva panóramica a la manera de la pintura septentrional -abarcando más de los 60º previstos por la teoría italiana como límite de la visión "legítima" sin distorsiones- y otra a la manera meridional, un perfil o una perspectiva en sentido estricto. ¿Cómo pues clasificar las vistas de ciudades? Tipologías Es bien sabido que la representación de la ciudad sufrió un cambio revolucionario desde la invención de la perspectiva moderna, con la que estableció una relación íntima, aunque problemática, desde el mismo momento de su inauguración quattrocentista; no deja de ser sintomático que las primeras obras en las que se propuso este nuevo método de representación que pretendía la correspondencia exacta entre imágenes artificiales y visión natural, las tablillas perdidas de Filippo Brunelleschi (1377-1446), no solo presentaran imágenes arquitectónicas del Baptisterio y el Palazzo della Signoria de Firenze sino, en mayor o menor medida, de su entorno, como vistas de dos sectores especialmente significativos de la ciudad. Hasta entonces y desde el Mundo Antiguo, las ciudades se habían representado a través de imágenes convencionales, en términos de vistas icónicas y vistas típicas; en las primeras no interesaba la representación individualizada de una ciudad en su conjunto, sino solamente el concepto de ciudad (como en las llamadas en latín icones), y constituían imágenes esquemáticas que incluso podían intercambiarse con mínimas modificaciones -terreno en lugar de rio, mar en lugar de rio, etc.- y requerían un titulus para su correcta y precisa identificación; en las segundas, typus, no interesaba ni la descripción global y homogénea de su imagen, ni hacerla coincidir con la experiencia visual de sus contempladores, sino su identificación precisa, de forma metonímica, a través de su extensión esquemática -prácticamente con una planta geométrica regular o, más tarde, aproximativa- y sus principales edificios emblemáticos, sobre los que recaía el peso del reconocimiento del conjunto. Aunque tales imágenes no desaparecieran por completo durante la época moderna en determinados contextos (mapas, cartas de marear, portolanos, etc.), su preponderancia fue puesta en entredicho por otros tipos de imagines urbis, que las desterrarían al reino de lo puramente convencional.22 No obstante, habría que introducir ahora una matización importante. La historia de las imágenes corográficas romanas, que creíamos exclusivamente simbólicas y convencionales, ha sufrido un vuelco gracias al reciente descubrimiento -de 1997- de una vista de Città dipinta de época Flavia (ca. 75), representando aparentemente una ciudad italiana con puerto remodelada en época Julio-Claudia, que quizá formara parte de la decoración de la Oficina del Praefectus Urbi, en el criptopórtico bajo las Termas de Trajano (ca. 109), junto a la Domus Aurea del Colle 22. A los cuatro tipos a los que nos referiremos con más detalle podrían añadirse otros dos absolutamente excepcionales. En primer lugar el "imposible" híbrido entre perspectiva -como imagen posible de ser experimentada realmente- y vista a vuelo de pájaro -imposible para la experiencia del espectador- a la manera de la xilografía anónima de Il disegno di Ferrara nel 1490 (Modena, Biblioteca Estense, α.H.5.3). En segundo lugar, el también excepcional tipo de las imágenes de "ojo de pez", representado por las imágenes de Viena en 1529 (1530) de Hans Sebald Beham, Edgar Schön y Giovanni Andreas di Vavassore, sobre un dibujo de Niklas Meldemann; Estrasburgo (1548), grabada por el Monogramista MH sobre un diseño de Conrad Morant; o Nuremberg (1560, de autor anónimo). También podría considerarse en esta categoría la vista de México-Tenochtitlán a partir de la carta de Hernán Cortés, impresa en Venecia en 1524, posible punto de partida de este grupo de imágenes heterogéneas y asistemáticas en su retrato de las ciudades, alejadas por completo de la idea de "verosimilitud" en su visión. 29 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Oppio23. Los dos fragmentos recuperados nos muestran un segmento de la ciudad y el puerto vistos desde tierra, como si se tratara de una ciudad contemplada a vista de pájaro, aunque algunos edificios parezcan representados de forma axonométrica, incluso en términos de una perspectiva ligeramente invertida. Existen, quizá ya desde época romana o incluso helenística, tres grandes grupos de imágenes de ciudades; por una parte, el de las imágenes convencionales, al que pertenecerían las que hemos denominado vistas icónicas y vistas típicas. Un segundo grupo estaría constituido por las plantas zenitales u ortogonales, ichnografias, realizadas con pretensiones de exactitud y diversos métodos e instrumentos científicos, que no surgirían en Europa hasta mediados del siglo XV y cuyo número parece haber sido limitadísimo hasta el siglo XVIII, cuando comenzó a imponerse el criterio de la exactitud por encima del de la veracidad en la imagen24. La experiencia visual de la imagen de la ciudad quedaría sustituida por una lectura "cartográfica". Las imágenes corográficas El tercer grupo estaría constituido por las imágenes corográficas -que se proponen el retrato verosímil de la ciudad en su "integridad"- y podría subdividirse a su vez en tres categorías de límites no excesivamente claros. 1) vistas naturales, perfiles o perspectivas, que permitirían la visión en perspectiva de la ciudad25, desde un punto de vista real (ya fuera desde el suelo del terreno circundante o desde un edificio o 23 Eugenio La Rocca, “The Newly Discovered City Fresco from Trajan’s Baths, Rome”, Imago Mundi, 53, 2001, pp. 121-124. 24. Una relación de su producción histórica debería iniciarse con la perdida Descriptio Urbis Romae de L. B. Alberti (1441/1455, ejecutada con un circumferentur y por triangulación) y las conservadas de Pisa (atribuida a Giuliano da Sangallo, ca. 1480-1495) e Imola, de Danesio Maineri y Leonardo da Vinci (1472/74 & 1502). La predominante función militar de estas plantas parece quedar demostrada por las siguientes realizaciones: la perdida Florencia sitiada de Nicolò Tribolo y Benvenuto di Lorenzo della Volpaia (1529); la Portsmouth (1545); las Vienas sitiadas del arquitecto Bonifaz Wohlmuet (1547) y del cartógrafo Augustin Hirschvogel (dibujo de 1549 y grabado de 1552, con explicación del método empleado, medida de las murallas y triangulación con brújula, incluyendo además una vista de los bastiones); el grabado de Roma de Leonardo Bufalini (1551); la perdida Siena sitiada del arquitecto Giovanni Battista Peloro (ca. 1555); las diversas ciudades de Flandes de Jacob van Deventer, realizadas para Felipe II (15591576, y que incluyen vistas de los principales edificios); y la Duisburg de Johannes Corputius (1566). Pocas ciudades contaron con una planta en las décadas siguientes: Cremona (de Antonio Campi, 1583, dedicada a Felipe II y publicada en 1585); Nuremberg (de Paul Pfinzing, 1594, todavía con bastiones en perspectiva); Parma (de Smeraldo Smeraldi, 1601); Milán (de Francesco Maria Richini, 1603); Ferrara (de Giovanni Battista Aleotti l'Argenta, 1605); Toledo (ca. 1610); Amsterdam (con alzados de algunos edificios, publicada por J. I. Pontanus, 1611); Amberes (de N. Jansenius, 1624); Venecia (de Alessandro Badoer, 1627); Roma (de Matteo Gregorio de Rossi, 1668); Bolonia (de Agostino Mitelli, 1692), etc. 25. Los primeros ejemplos conservados de ciudades plenamente identificables y representadas globalmente serían los de la Tavola Strozzi de Nápoles (atribuida a Francesco Rosselli, 1472) y las xilografías de Erhard Reuwich (para las Peregrinationes in Terram Sanctam de Bernard von Breydenbach, 1486) y de Michael Wolgemut y Wilhelm Pleyenwurff (para el Liber Chronicarum de Hartmann Schedel, 1493). De las dificultades para adquirir modelos para las principales ciudades italianas (más Constantinopla, El Cairo y París) a finales de la centuria, véase la correspondencia entre el humanista Teofilo Colenucci y Francesco II Gonzaga, Marqués de Mantua, de 14931497, con motivo de la decoración de la Camera delle Città de la villa de Gonzaga que realizaban los pintores Girolamo Corradi y Polidoro (Juergen Schulz, La cartografia tra scienza e arte. Carte e cartografi nel Rinascimento italiano, Franco Cosimo Panini, Ferrara, 1990, pp. 37-39 y 60-61), fecha en la que se buscaba con ahínco una imagen de Florencia. El carácter de éstas imágenes parece haberse alejado de las realizadas por Bernardino Pinturicchio según Vasari "alla maniera de' Fiamminghi"- en la villa del Belvedere vaticano (1484-1487) para Inocencio VIII. Véase también ahora Clifford M. Brown, “The ‘Camera del Mappamundo e del Caiero’ in the Palazzo di San 30 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP promontorio natural elevado), y utilizando un ángulo de visión más o menos amplio26. Los edificios de la parte delantera de la ciudad ocultarían el resto de las fábricas y la visión global y del contorno de la ciudad sería imposible; no obstante, con ello se eliminaba el problema de los efectos de una disminución correcta, de acuerdo con las leyes de la perspectiva artificial, de los tamaños de las edificaciones más distantes. La idea de perspectiva, sin embargo, no conlleva la aplicación de una única imagen monofocal, realizada a partir de un solo punto de vista ocupado por un observador completamente inmóvil27. 2) vistas a vuelo de pájaro, tanto si mostraran el "pavimento" de calles y plazas como si éste fuera invisible, realizadas a partir de un punto de vista imposible, situado por encima de las cimas de los edificios o promontorios reales del entorno28. En ellas, la ciudad se desplegaba sobre un plano más o menos inclinado que permitía la visión imaginaria del conjunto y su contorno global. Los edificios de la ciudad podían quedar individualmente representados de forma pseudo-perspectiva con una mínima confluencia de sus líneas paralelas- más que axonométrica, dado que no se respetaría nunca la correcta disminución proporcional y sistemática de sus dimensiones en función de sus distancias con respecto al punto de vista "virtual". Este término contemporáneo de "vistas a vuelo de pájaro" fue sustituido en los siglos XVI y XVII por los de "disegno", "descriptio", "prospectus" o "iconographia". Hemos de preguntarnos, sin embargo, ¿hasta qué altura vuelan los pájaros? Algunos estudiosos, como hemos visto, han introducido otra variante -vista perspectiva, planta en perspectiva- para aquellas imágenes cuyo punto de vista se enmarcara entre los 60º y los 90º (la visión zenital), dando por supuesto que en su realización se partiría de una planta que se habría deformado "perspectivamente" hasta situarla en la inclinación elegida, haciendo "descender" al espectador hasta una posición oblicua; a partir de tal suposición, se habría negado lo que se había conseguido Sebastiano in Mantua: a Fragment of a View of Jerusalem and Vittore Carpaccio’s Letter to Francesco II Gonzaga of 1511”, Journal of Jewish Art, 10, 1984, pp. 32-46 y “The Palazzo di San Sebastiano (1506-1512) and the Art Patronage of Francesco II Gonzaga, Fourth Marquis of Mantua”, Gazette des Beaux-Arts, 129, 1997, pp. 131-180, y “Francesco II Gonzaga and Maps as Palace Decoration in Renaissance Mantua”, Imago Mundi, 51, 1999, pp. 51-81. Molly Bourne, “Francesco II Gonzaga and Maps as palace Decoration in Renaissance Mantua”, Imago Mundi, 51, 1999, pp. 51-82 y Francesco II Gonzaga. The Soldier-Prince as Patron, Bulzoni, Roma, 2008. 26. Tres aclaraciones son necesarias a este respecto: 1) Se trata del único caso en que el término "perspectiva" puede ser aplicado, como ante un paisaje. Nos remitimos a la estampa de De artificiali perspectiva de Jean Pélerin ‘Viator’ (Toul, 1509, fol. A vi rº), en la que se da una continua y correcta disminución del espacio en profundidad y de la altura de los árboles hasta la línea del horizonte. 2) Según las dos categorías establecidas por este mismo autor (fols. A vi vº y A vii rº) para la construcción de una perspectiva, en función de la relación existente entre el punto de vista del espectador y el punto de vista de las personas representadas -ex sede communi (a la albertiana) y ex sede elevata-, un perfil podría utilizar una u otra, siempre que la elevación del punto de vista del artista no sobrepasara la altura "natural" de un edificio o montículo. 3) Aceptamos, por lo tanto, el uso de cualquier ángulo visual horizontal, en función de las diversas teorías y prácticas existentes sobre el mayor ángulo aceptable. 27. Il disegno di Ferrara vecchia nel 1490, de autor anónimo, 1490, constituiría el único, temprano y fallido ejemplo de una perspectiva monofocal -en sentido estricto- en la representación de una ciudad; el centro de la ciudad -entre el palacio ducal y la catedral- se construye como una perspectiva monofocal ex sede elevata; se incluye, incoherentemente dentro de la imagen a vista de pájaro del conjunto urbano, introduciéndose un segundo horizonte mucho más elevado que el que marca el punto de fuga del centro. 28. Las primeras realizaciones conservadas serían las de los cuadros de Florencia (atribuida a Francesco Rosselli, ca. 1472-1482 o 1489-1495, conocida sobre todo por el grabado "Fiorenza" della catena, atribuido a Lucantonio degli Uberti) y de Roma (atribuida también a Rosselli, ca. 1478-1490, conocida por la copia del Palazzo Ducale de Mantua, y a las que habría que añadir una perdida Constantinopla), el grabado de Ferrara de 1490, y la famosa y enorme xilografía de Venecia (de Jacopo de' Barbari y Anton Kolb, 1500). 31 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos a través de la planta, la exactitud, para añadír a la imagen verosimilitud, aun cuando con la mera elevación de los edificios sobre una planta verdaderamente geométrica se llegara a la misma apariencia de retrato29. Debiera ser más lógico concluir -aun admitiendo la posibilidad teórica de que algunas imágenes "oblicuas" partieran de una planta geométrica y aceptando que otras parecen excluirla30- que la imagen zenital con edificios, la tercera tipología que discutiremos de inmediato, pertenece a otra esfera de las intencionalidades retratísticas de la ciudad. Decidir si nos encontramos ante una vista a vuelo de pájaro "casi zenital" o un plano con alzado, dependerá exclusivamente de la comparación de su imagen con la de una planta. 3) planos con alzado o pla[n]taformas31; ya fuera a partir de la tipología de las vistas típicas32, o como complemento informativo de los planos -fundiendo experiencia visual y exactitud dimensional-, se habría desarrollado esta tercera categoría, en la que sobre una planta -aun dándose la posibilidad de incluirse por encima del espacio urbano un falso horizonte- se trazarían los volúmenes tridimensionales de los edificios de la ciudad. El sistema representativo utilizado para los edificios ortogonales del tejido urbano sería el de la proyección paralela, axonométrica (isométrica, dimétrica o trimétrica)33. A partir de los diversos tipos de axonometrías empleados, se podrían establecer dos subcategorías teóricas: 3a) vistas caballeras o planos con alzado caballero; en ellas se potenciaría la visión frontalizada (con ángulos de 90º respecto al plano) de los edificios más importantes y representativos de la ciudad, y se emplearían axonometrías dimétricas o trimétricas en las que los ángulos rectos de sus plantas nunca estarían representadas por ángulos de 90º ("caballeras", "cavalier"). La terminología de sus primeros o más tardíos autores parece haber variado de manera extraordinaria, aunque tendiendo a "unificar" en una sola palabra los dos tipos de representación: "platforme", "situs", "forma", "imago", "sciographia", "typus" y, sobre todo, "descriptio" y "topographia"; solo en el siglo XVIII parece haberse introducido el neologismo dual de "ichnoscenografia"34. 29. Véase Jean Boutier, L. Teissere-Sallmann, "Dalla pianta prospettica alla pianta geometrica. Le modificazioni nella cartografia urbana in Europa occidentale dal XVI al XVIII secolo", en Colloque du Groupe de travail international d'histoire urbaine, París, 1994; y F. Marías, 1996, pp. 101-117. Para una visión opuesta del problema, Nuti, 1994 y 1996, pp. 133153. 30. Las sucesivas imágenes de Amsterdam de Cornelis Anthonisz (1538 y 1544, todavía inexistente una planta geométrica de la ciudad) no solo mantienen la visión de un horizonte sino que se nos presentan como dos pasos en un proceso de "elevarse" por encima de la visión natural. 31. Quizá dependiendo de la planta de París conocida como "plan de la Grand Gouache" (ca. 1535) y las imágenes derivadas (planta "de Basilea", de Olivier Trunchet y Germain Hoyau, ca. 1550; Saint-Victor, atribuida a Jacques Androuet du Cerceau, ca. 1551; Georg Braun, 1572; y la de la Cosmographie universelle de François Belleforest, 1575), la planta de París denominada "plan de la Tapisserie" (ca. 1569-1588) declaraba sus intenciones científicas y su nueva impostación a través de su terminología: "en plat forme... par art de geometrie & vraei mesure... sans user de perspective que bien peu". A pesar de los problemas de cronología de las plantas quinientistas de París, este importante conjunto interdependiente parece indicar una prioridad francesa en la elaboración de esta tipología de vistas urbanas. 32. Como ha sostenido L. Nuti, 1994, pp. 122-126, subrayando un desarrollo que comprendería sucesivamente el mayor detalle en los edificios y el relleno del resto del tejido urbano previamente "en blanco". 33. Una axonometría puede ser isométrica cuando los tres ángulos que confluyen en una esquina de un cubo o paralelogramo son iguales (120º), dimétrica si solo son iguales dos (p. e. uno de 90º y dos de 135º) o trimétrica si todos son diferentes. 34. Véase Giovanni Ricci, "Ciudad amurallada e ilusión olográfica. Bolonia y otros lugares (siglos XVI-XVIII), en La ciudad y las murallas, ed. de Cesare de Seta y Jacques Le Goff, Madrid, Cátedra, 1991, pp. 261-285, especialmente pp. 32 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP 3b) vistas militares o planos con alzado militar, en las que se potenciaría la coherencia entre la representación ortogonal de la planta y los volúmenes de los edificios, por medio de la utilización sistemática de axonometrías -asimismo dimétricas o trimétricas- de tipo "militar" ("military"), en las que se respetaría en la planta y el "plano de tejados" la correspondencia entre ángulos rectos y su representación con ángulos de 90º. Los alzados o frentes de los edificios quedarían escorzados, pero la imagen global sería coherente, como si a la planta se superpusiera otra planta de "tejados" ortogonales. La terminología contemporánea empleada para este tipo parece haber tendido primero a conservar la idea tradicional de "unidad visual" ("portrait" para la imagen de París de Vassalieu "Nicolas" y "carte ou description" para la de Quesnel, ambas de 1609)35, para más tarde enfatizar la doble componente de tales imágenes: "disegno e pianta" (Roma, 1618, de Matteus Greutter), "planta et facies" e "ichnographia et hypsographia sive planta & facies" (Roma, 1667, de Giovanni Battista Falda) o "pianta e alzata" (Roma, 1676, del mismo Falda). No obstante, no parece haberse logrado una perfecta realización de este tipo de imágenes, por las dificultades inherentes al mantenimiento sistemático de tal proyección, así como por la necesaria ampliación en anchura de las calles, con el fin de que los edificios no superpusieran sus alzados ni las ocultaran por completo. Al mismo tiempo, la verticalidad requerida para la representación de los edificios dejaba en entredicho su tridimensionalidad; no es de extrañar que para contrarrestar este efecto se acentuaran dramática y artísticamente las luces y las sombras, insistiéndose gracias a este recurso en su "tangibilidad" visual. Quizá pudieran tomarse como una cuarta categoría -demostrando la labilidad de su categorización- a pesar de que parecen más un desarrollo de los typus anteriormente citados como imágenes convencionales, la de las ahora llamadas vistas a ojo de pez, que excepcionalmente se dieron entre 1520 y 156036. Mezclando sistemas de representación diversos, disponían, siguiendo un esquema radial, una corona de edificios -e incluso campos extramuros- vistos en perspectiva, mientras que otras representaciones tridimensionales, destinadas a los principales monumentos, realzados también en sus dimensiones, se abatían en el centro de una imagen globalmente incoherente y más conceptual que visualmente experimentable, al requerirse simultáneamente su contemplación como plano y como espacio radial a partir de su centro. 280-281, donde analiza la "ichnoscenografia" de Bolonia (1702) de Filippo de' Gnudi, y el nuevo significado de su concepción de producir "deleite" por "ver la ciudad de Bolonia exactamente como es", y el carácter "útil" de su imagen, pues "mediante la escala... se puede conocer cuál es su perímetro, cuál es su superficie... e igualmente la distancia entre cualquier lugar y otro". El autor resalta también está imagen como constatación del carácter irreconciliable de las pretensiones de precisión y verdad, y el fracaso del "deseo olográfico" en la representación de la ciudad. 35. Hillary Ballon, The Paris of Henri IV. Architecture and Urbanism, The MIT Press, Cambridge, Massachusetts-Londres, 1991, pp. 212-249. 36. Los ejemplos más claros son los de Viena, sitiada en 1529 (Hans Sebald Beham, Edgar Schön y Giovanni Andrea di Vavassore, sobre un dibujo de Niklas Meldemann), vista desde el interior; Estrasburgo (Monogramista MH sobre Conrad Morant, 1548), vista desde el interior a excepción de la muralla, vista desde el primer plano y desde el exterior de la ciudad; y Nuremberg (de autor anónimo, 1560). También podría considerarse en esta categoría la vista de México-Tenochtitlán a partir de la carta de Hernán Cortés, impresa en Venecia en 1524, posible punto de partida de este grupo de imágenes heterogéneas y asistemáticas en su retrato de las ciudades, alejadas por completo de la idea de "verosimilitud" en su visión. Nada tienen que ver estas vistas a ojo de pez, por otra parte, con los desarrollos abatidos, sobre un anillo circular plano, de los panoramas de 360 grados del siglo XIX, que solían editarse como ilustraciones de sus opúsculos explicativos, suerte de anamorfosis a partir de las proyecciones cilíndricas que constituían tales panoramas. El círculo central (relleno en las imágenes del siglo XVI) quedaba en blanco, y se convertía en el espacio en el que el espectador podía "girar" para contemplar el panorama anular, en forma de corona, y, por lo tanto, no tenía que ser ocupado por un espejo cilíndrico como en algunas verdaderas anamorfosis circulares del siglo XVII. 33 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Ciudades mediterráneas Como hemos podido ver, todas las tipologías hasta ahora reseñadas han presentado ejemplos de ciudades tanto mediterráneas como interiores, aunque la terminología del Renacimiento respecto a la mediterraneidad de sus ciudades parece haberse alejado de la que usamos actualmente de forma corriente. Con quizá mayor exactitud, encontramos testimonios históricos de la diferenciación entre ciudades mediterráneas –en medio de la tierra- y ciudades costeras; así, cuando en 1493 el supervisor de las obras del IV Marqués de Mantua (1484-1519) Francesco II Gonzaga (1466-1519) en el palazzo de Gonzaga, Teofilo Collenuccio, que ejecutaban Girolamo Corradi y Polidoro, señaló que se habían elegido vistas de ciudades tanto maritime (Constantinopla, Nápoles, Venecia, Génova) como mediterranee (Roma, Florencia, El Cairo, París o Jerusalén)37. No obstante, si regresamos a las ciudades que hoy tendemos a definir como las mediterráneas, localizadas sobre el mar, hemos podido ver cómo los portolanos que facilitaban las rutas marítimas incluían en la categoría de imágenes convencionales las que hemos denominado vistas icónicas y entre ellas se podían contar no solo las ciudades costeras sino también a veces algunas interiores, de la misma forma que unas y otras aparecían igualmente en las vistas típicas, incluyendo también un elemento definidor de su topografía marítima. En ambos casos, no existiría diferencia ninguna, como lo demostrarían algunas de las más imágenes más densas de información de esta tipología, las representaciones incluidas a mediados del siglo XV en algunos manuscritos de Pietro del Massaio (Florencia, ca. 1458/1472) de la Geographia de Claudio Ptolomeo (ca. 85-ca. 165), que incluyeron sin diferencias tipológicas hasta nueve ciudades como Milán, Florencia, Roma, Damasco, Jerusalén y El Cairo, pero también Venecia, Constantinopla y Alejandría38. En el marco del segundo grupo de representaciones, constituido por las plantas zenitales u ortogonales, o ichnografias, solo podemos encontrar a la ciudad de Venecia (de Alessandro Badoer, 1627) en fechas relativamente tempranas y habrá que esperar a la planimetría del siglo XVIII para que esta difícil y costosa representación se fuera abriendo paso “hacia el mar”, como en el caso de Nápoles y su planta diseñada por el Duca di Noya Giovanni Carafa de 1775. En las imágenes corográficas la situación podía cambiar. Es evidente que la situación de estas ciudades vueltas frente al mar habrían requerido, como sus representaciones más lógicas, las vistas naturales, perfiles o perspectivas, que permitirían la visión en perspectiva de la ciudad, desde un punto de vista real (ya fuera desde el suelo del terreno circundante o desde un edificio o promontorio natural elevado), y que en el caso de un frente de mar habrían solicitado una representación frontal desde el agua, como si se quisieran mostrar como se verían desde un barco que se aproximara a su puerto. Se trató de la forma más simple de “retratar” una ciudad, sin modificar losdatos de la percepción, y los flamencos se especializaron en ella. El pintor y corógrafo flamenco Anton van den Wyngaerde utilizó en 1563-1564 esta tipología para muchas de sus vistas como en la de Málaga, pero para Barcelona, cuya orografía le permitía alcanzar una 37 38 M. Bourne, 1999, p. 52. También pudieron alternar con Volterra, Edirne (Adrianópolis) y Parísen algunos manuscritos. 34 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP altura importante desde un lateral, desde Montjuich39, sobre un arquetipo que parece haber sido ya fijado por Jan Cornelisz. Vermeyen en 1535 –en dibujo o grabado perdido- y se repetiría una y otra vez gracias a su difusión por parte de Georg Braun y Franz Hogenberg en 1572 en sus Civitates orbis terrarum. Los primeros ejemplos históricos conservados de ciudades plenamente identificables y representadas globalmente serían los de la Tavola Strozzi de Nápoles (atribuida al florentino Francesco Rosselli, 1472-1473)40, y las xilografías de Erhard Reuwich (para las Peregrinationes in Terram Sanctam de Bernard von Breydenbach, 1486) y de Michael Wolgemut y Wilhelm Pleyenwurff (para el Liber Chronicarum de Hartmann Schedel, 1493), empezando por Venecia y terminando en Candía, básicamente ciudades mediterráneas. Las vistas a vuelo de pájaro, en cambio, suponían el tratamiento y la manipulación de los datos empíricos, tanto si llegaban a mostrar los "pavimentos" viarios como si quedaran invisibles; “construídas” a partir de puntos de vista imposibles, por encima de las estaciones visuales reales, las ciudades aparecían en un plano oblicuo que permitía la visión imaginaria del conjunto y su contorno global. Este término contemporáneo de "vistas a vuelo de pájaro" –que no surge aparentemente hasta el siglo XVIII- define una tipología que se buscó con ahinco desde finales del siglo XV. Las primeras realizaciones conservadas de este tipo serían las de los cuadros de Florencia (atribuida a Francesco Rosselli, ca. 1472-1482 o 1489-1495, conocida sobre todo por el grabado "Fiorenza" della catena, atribuido a Lucantonio degli Uberti) y de Roma (atribuida también a Rosselli, ca. 1478-1490, conocida por la copia del Palazzo Ducale de Mantua, y a las que habría que añadir una perdida Constantinopla)41, un grabado de Ferrara de 1490, y la famosa y enorme 39 No deja de ser sintomático que el horizonte de esta imagen coincida con la parte superior de la atalaya de Montjuich, donde existía una grua. 40 La llamada y discutidísima Tavola Strozzi con la Entrada de Ferrante I en Nápoles en 1464 (ca. 1472-73), spaliera de lettuccio regalada por Filippo Strozzi para Ferrante I (Nápoles, Museo di Capodimonte), se atribuye actualmente a Francesco Rosselli (ca. 1445-ca. 1524). A veces se mantiene todavía la atribución –sin prueba alguna- a Francesco Pagano (1487) de Ferdinando Bologna (Napoli e le rotte mediterranee della pittura da Alfonso Il Magnanimo a Ferdinando Il Cattolico, Società Napolitana di Storia Patria, Nápoles, 1977), a pesar de las nuevas hipótesis de Mario Del Treppo, “Le avventure storiografiche della Tavola Strozzi”, en Fra storia e storiografia. Scritti in onore di Pasquale Villani, eds. P. Macry y A. Massafra, Bolonia, 1994, pp. 483-515, de Guido Donatone, “Il letttuccio donato da Filippo Strozzi a Ferrante d’Aragona: la Tavola Strozzi”, en Napoli e l’Europa. Ricerche di storia dell’arte in onore di Ferdinando Bologna, eds. Francesco Abbate y Fiorella Sricchia Santoro, Istituto Italiano per gli Studi Filosofici, Nápoles, 1995, pp. 107-111, y de Fiorella Sricchia Santoro, “Tra Napoli e Firenze: Diomede Carafa, gli Strozzi e un celebre ‘lettuccio’”, Prospettiva, 100, 2000, pp. 41-54. Difícilmente se puede compartir la atribución a Leonardo de Enrico Guidoni, Leonardo da Vinci e le prospettive di città. Le vedute quattrocentesche di Firenze, Roma, Napoli, Genova, Milano e Venezia, Kappa, Roma, 2002. 41 A Francesco Rosselli (ca. 1445-ca. 1524) se le atribuyen las imágenes de Roma (1492, copia en Mantua, Palazzo Ducale) gracias al inventario de 1524 de Alessandro di Francesco Rosselli, quien enumeraba una serie de estampas de múltiples bloques: Pisa (5 bloques), Roma (3 en 12 fols.), Florencia (6) y Constantinopla (6); habrían sido grabadas por Lucantonio degli Uberti “Lucchetto”, de cuya autoría también se da cuenta en algunos casos en el inventario de la colección de Hernando Colón en Sevilla (1539): La Provincia de Granada, Constantinopla (impresa en Venecia), Italia (en Venecia) y Roma (en Florencia), en la que se especifica además que incluía una serie de imágenes de los emperadores de Roma y escenas de la historia de Constantino. Véase ahora tanto Disegno. Der Zeichner im Bild der Renaissance, eds. Hein-Th. Altcappenberg y Michael Thimann Schulze, Deutscher Kunstverlag, Munich-Berlín, 2007, como Mark McDonald, “El inventario de las estampas y su sistema de clasificación. La reconstrucción de la colección”, en La colección de estampas de Hernando Colón (1488-1539). 35 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos xilografía de Venecia (de Jacopo de' Barbari y Anton Kolb, 1500)42; en consecuencia nos encontramos con una tipología que tampoco hace distinciones de ningún tipo respecto a la topografía costera de las ciudades. En la limitada historia corográfica de las ciudades españolas, es posible que debamos nuevamente a Anton van den Wyngaerde algunos de los primeros ejemplos de abatimiento de vistas de ciudades desde una representación natural a una vistade pájaro, como se daría en la vista frontal de Barcelona (1563), y otras ciudades hispanas no mediterráneas. Por último, tampoco se darían esas distinciones en la categoría de los planos con alzado o pla[n]taformas, en la que sobre una planta –se incluyera o no un falso horizonte- se diseñaban los volúmenes tridimensionales de las edificaciones urbanas, de acuerdo con cualquier tipo de proyección paralela. Este tipo de vistas aparecieron en la década de los años treinte del siglo XVI, como hemos visto, en Francia, pero tardaron en reaparecer, en nuevas imágenes como las de Florencia (1584) del “monteolivetano” Don Stefano Bonsignore y Bonaventura Billocardi, o las de París de Vassalieu "Nicolas" y François Quesnel (1609) y la Roma de Matteus Greutter (1618), ninguna de ellas ciudad mediterránea. Da la impresión de que en los territorios españoles, fueran peninsulares o ultramarinos, los costos y la complejidad de la corografía más científica de las plantas con alzado dieron durante los siglos XVI y XVII un menguadísimo producto. El modenés Antonio Manzelli de Arguello (ca. 15751632/1648), produjo en 1608 un grabado de calidad limitada con una planta con alzado de la ciudad de Valencia43, y otra de Madrid (1622-1623) hasta la fecha perdida44, esperándose casi cien años hasta la aparición de una segunda imagen valenciana, debida al matemático oratoriano Tomás Vicente Tosca y fechada en 170445; por su parte, la "pla[n]taforma" de Granada de 1613, del arquitecto italiano Ambrosio de Vico (ca. 1545-1623), grabada por Francisco Heylán46, Coleccionismo en la era del Descubrimiento, ed. Mark McDonald, Fundación “La Caixa”, Barcelona, 2004, p. 72 y Peter Barber, “The Maps, Town-Views and historical Prints in the Columbus Inventory”, en Mark McDonald, The Print Collection of Ferdinand Columbus 1488-1539: A Renaissance Collector in Seville, 2 vols., The British Museum, Londres, 2004, I, pp. 246-262. inv. 3151. 42 Andrew John Martin, “Anton Kolb und Jacopo de’ Barbari: ‘Venedig im Jahre 1500’. Das Stadtportrait als Dokument venezianisch-oberdeutscher Beziehungen”, en Pinxit, sculpsit, fecit. Kunsthistorische Studien. Festschrift für Bruno Bushart, eds. Bärbel Hamacher y Christl Karnehm, Die Deutsche Bibliothek, Würzburg, 1994, pp. 85-94. A volo d'uccello. Jacopo de' Barbari e la rappresentazione di città nell'Europa del Rinascimento, Arsenale, Venecia, 1999. Simone Ferrari, Jacopo de' Barbari, Bruno Mondadori, Milán, 2006. 43. Reproducido en Fernando Benito Doménech, "Un plano axonométrico de Valencia diseñado por Manceli en 1608" en Ars Longa. Cuadernos de Arte, 2, 1992, pp. 29-37, y "El plano de Valencia de Manceli", en Tiempo y espacio en el Arte. Homenaje al Profesor Antonio Bonet Correa, Editorial Complutense, Madrid, 1994, I, pp. 231-245. Fernando Marías, “Realidad e imagen decorosa: las ciudades españolas de Felipe II”, Reales Sitios, 134, 1997, pp. 40-49. Véase también José Miguel Muñoz de la Nava Chacón, “Antonio Mancelli: corógrafo, iluminador, pintor y mercader de libros en el Madrid de Cervantes (I)”, La Torre de los Lujanes, 57, 2005, pp. 45-79 y “Antonio Mancelli: corógrafo, iluminador, pintor y mercader de libros en el Madrid de Cervantes (II)”, La Torre de los Lujanes, 58, 2006, pp. 165-219. 44. La publicada por Frederick de Wit en Amsterdam, con la fecha de 1635, no deja de presentar problemas de cronología aún por resolver satisfactoriamente; véase Manuel Molina Campuzano, Planos de Madrid de los siglos XVII y XVIII, Madrid, 1960 y la bibliografía precedente sobre Mancelli, y Felipe Pereda, 1998, pp. 103-134, especialmente pp. 113-126, y 2001, pp. 129-143. 45 El plano de Valencia de Tomás Vicente Tosca (1704), ed. Joan Gavara Prior, Generalitat Valenciana, Valencia, 2003. 46. Estudiada por Antonio Moreno Garrido, José Manuel Gómez-Moreno Calera y Rafael López Guzmán, "La Plataforma de Ambrosio de Vico: cronología y gestación", Revista Arquitectura Andalucía Oriental, 2, 1984, pp. 6-11 y 36 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP constituye la segunda imagen y la gran planta de Pedro Texeira de Madrid (1656) nuestro mejor exponente de la tipología. Solo la ciudad de Mallorca (1644), de la mano del presbítero y matemático Antoni Garau (†1657), pudo añadir su imagen a esta menguada lista de corografías en su vertiente más "moderna" y visualmente contradictoria a la para que estrictamente mediterránea47. Así pues, de la misma manera que podíamos encontrar deslizamientos terminológicos entre ciudades mediterráneas y costeras, podemos constatar un deslizamiento constante entre las diferentes tipologías de vistas de ciudades o, por decirlo de otra, forma un trasvase de unas a otras, sin que la localización topográfica costera redundara en la especifidad de sus representaciones históricas. José Manuel Gómez-Moreno Calera, El arquitecto granadino Ambrosio de Vico, Universidad, Granada, 1992, pp. 149-158. 47 Véase ahora Juan Tous Meliá, Palma a través de la cartografía (1596-1902), Ajuntament de Palma, Palma de Mallorca, 2002. 37 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 38 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP O Patrimônio Cartográfico Português e a Proposta para a Capital do V Império Esse ensaio é dedicado a Sylvio Barros Sawaya e ao seu mestre Agostinho da Silva. Prof. Dr. Fellipe de Andrade Abreu e Lima, Arquiteto Considerações Introdutórias de uma Ideia A cartografia é a arte e a ciência de traçar cartas geográficas e gráficas dos relevos, formas e desenhos terrestres através dos quais se pode precisar melhor o mundo em que vivemos. O estudo de sua evolução histórica pode nos ajudar a compreender o conhecimento humano e sua progressão. Diversamente da arquitetura, por exemplo, a cartografia se ocupa de um mundo visível e concreto. Não que a arquitetura não possua o seu mundo concreto, visível e material, mas entendemos que também seja proveniente de um intangível, invisível e imaterial. Portanto, a cartografia é uma ciência aplicada, sendo, portanto uma pura técnica aplicativa, como a mapologia celeste ou náutica. É nesse ponto que devemos ter em conta que a cartografia está intimamente relacionada com as navegações, pois a história da evolução cartográfica entremeia-se com o desenvolvimento das navegações. Usada pela primeira vez pelo Visconde de Santarém (1791-1856) numa carta datada de 8 de dezembro de 1839, escrita de Paris ao renomado historiador brasileiro Francisco Adolfo Varnhagen, o termo ‘cartografia’ ainda não simbolizava tudo o que havia de técnicas de um passado glorioso Lusitano. O primeiro momento de encontro em dicionário parece ser mesmo em 1873, no Grande Diccionario Portuguez de Domingos Vieira, com a seguinte definição: ‘Cartographia. S.f. (De Carta e do grego graphein, escrever). A arte de traçar cartas geographicas – Collecção de cartas geographicas’48. Nesse sentido, parece-nos lícito dizer que a cartografia que conceituamos há poucos séculos foi um dado filológico lusitano, apesar de sua técnica já vir de milênios antes. O Visconde de Santarém foi o primeiro historiador da cartografia, mas não o primeiro cartógrafo. A obra inaugural datada de 1841 intitula-se ‘Atlas composé de Mappemondes, de Portulans et de Cartes hydrographiques et historiques depuis le VIe jusqu’au XVIIe siècle’. Esses Atlas de Santarém iniciam uma tradição histórica única, efetivando-se como um patrimônio português que se difunde pelos países de língua portuguesa, principalmente, criando uma nova forma, ou ferramenta, de estudo do espaço geográfico, urbano, arquitetônico e físico49. O objetivo do Atlas de Santarém foi o de preencher uma lacuna na história dos descobrimentos portugueses desde o século XV, em especial à conquista da Guiné por Azurara. Aspectos históricos e descritivos em união com aspectos técnicos e práticos 48 VIEIRA, Domingos. Grande diccionario portuguez, ou, Thesouro da lingua portugueza. Imprenssa Regia. Lisboa: 1831. 49 Os ‘Atlas de Santarém’ foram republicados diversas vezes ao longo do século XIX. A primeira edição continha 22 fólios e 23 cartas em fac-símile. A segunda, publicada em 1842, já continha 29 fólios e 39 cartas em fac-símile. A terceira, de 1849, continha 77 fólios e 163 fac-símiles. 39 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos deram ao Visconde a projeção pretendida. Contudo, suas edições não apresentaram a lista completa dos mapas pertencentes aos acervos cartográficos dos descobridores e aventureiros dos ‘mundos’ aventurados pelos portugueses e europeus daquela época. Efetivamente, poucas foram as cartas portuguesas publicadas em seus ‘Atlas’ nas edições de 1841, 1842 e 1849. As duas primeiras, por exemplo, reproduziram apenas a cartografia africana dos planisférios de Diogo de Ribeiro datadas de 1527 e 1529 e que estão conservadas em Weimar. Outro exemplo notável de trabalho e catalogação cartográfica foi o de Souza Viterbo intitulado ‘Trabalhos Náuticos dos Portuguezes nos Séculos XVI e XVII’ publicado em 1898-1900. Além desse, outros menos conhecidos como Faria e Souza, Barbosa Machado e Garção Stockler reforçam a ideia de patrimônio mundial, e não apenas europeu ou português, da arte e ciência cartográfica desse Império. O Brasil obteve reconhecimento especial na historiografia cartográfica. O trabalho de Duarte Leite denominado ‘História da Colonização do Brasil’ publicado em 1923 foi, apesar de já recente, o que melhor descreveu e registrou as cartas e mapas do Brasil litorâneo até então. Em 1935 ressalta-se o trabalho de Armando Cortesão, ‘Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos Séculos XVI e XVII’, em dois volumes, que se consagrou pela nova abordagem histórica e metodológica. Por fim, consagra-se o mundo cartográfico do V Império com a publicação do ‘Portugaliae Monumenta Cartographica’ que reúne as cartas náuticas, terrestres e celestes dos principais arquivos em todo o mundo que tenham relação com o mundo das navegações. Há, obviamente muitos outros renomados e famosos cartógrafos desde a antiguidade e além do mundo lusitano, desde Marino de Tiro e Cláudio Ptolomeu, passando pelos romanos como Marcus Vipsanio Agripa; medievais como Santo Isidora de Sevilha e Frei Baltazar Franca; chegando ao famoso mapa mundi de Richard Haldigham de meados de 1300. A história no mundo pode ser lida através da cartografia, e os arquitetos e urbanistas devem, prioritariamente, estudar essa técnica e/ou arte para complementar a história das ideias e das civilizações. Portugal exerceu um papel capital nesse contexto, graças aos contextos geográficos, técnicos e políticos que vivia desde o século XIV. Parece ser, portanto, óbvia que a história de Portugal se relacione ou mesmo miscigene com a história da cartografia. O Brasil e os demais países de língua portuguesa, em todo o mundo, refletem um momento da história do mundo onde uma encruzilhada apresentou-se. Os rumos tomados foram guiados por estrelas precisas, como eram as navegações por imprecisos navegadores. Novos mundos, novas culturas confrontavam os europeus com eles mesmos. As novas civilizações ainda não foram completamente respeitadas, pois os modelos civilizacionais europeus devem, necessariamente, passar por revisão e crítica. Os rumos novos do futuro, de quem desejamos ser enquanto sociedades, deve servir-se da história. A cartografia é um elemento nesse contexto de nosso passado que servirá para nossa interpretação do presente e projeto de futuro. Nesse texto pretendemos discutir os aspectos históricos já pontuados, discutindo suas origens e motivos políticos de sua gênese. Apresentar as transformações até o surgimento da cartografia moderna em meados de 1452 focando no surgimento da cartografia portuguesa. Num segundo momento apresentaremos uma releitura dos mais importantes momentos da cartografia portuguesa com as cartas de 1424, 1436, 1439 e 1448. Na terceira parte do texto discutiremos sobre as cartas de marear, notadamente as de Jácome de Maiorca, Pedro Nunes, João de Castro e Manuel Pimentel. Por fim, o mundo português efetivando-se como fundador de um Império Mundial, como anunciou Gonçalo Bandarra, e o desenvolvimento da cartografia da África e do Oriente, além do Brasil, que ocuparia parte fundamental dessa jornada. 40 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Imagem do mapa de Diogo Homem 1558, British Museum, Londres Uma Nova Idade ou A Gênese do Novo Império? A cartografia é também uma concepção cosmológica que nos remete, se pretendermos alcançar suas origens, aos antigos gregos do tempo de Ptolomeu. Desde os primeiros navegadores do mediterrâneo, que tinham na cidade de Tiro o centro de desenvolvimento náutico da época fenícia, dois nomes principais desenvolveram as técnicas cartográficas: Marino e o já anunciado Ptolomeu. Esse último, autor da uma obra chamada geographia compôs sua obra baseada nos ensinamentos do fenícios, criando as condições para um maior desenvolvimento político e social da Grécia. A obra anunciada era composta de 27 mapas com descrições detalhadas do entorno ao caminho náutico feito pelos navegadores. Nesse sentido, as descrições já feitas anteriormente por Marino foram utilizadas por Ptolomeu desde o século II a.c., e que serviriam para os novos modelos cartográficos da época de Mercator. Essa herança chegou ao Império Romano, mas sua decadência ao longo do terceiro século de nossa Era deu a outro povo a primazia dos conhecimento náuticos: os árabes. Com exceção de alguns elementos cartográficos pontuais da parte dos romanos, os árabes foram os grandes desenvolvedores da cartografia até o Renascimento. De acordo com as colocações de Plínio, o nobre romano Marcus Vipsanio Agripa (63-12 a.c.) possuía um mapa mundi chamado ‘Orbis Terrarum’, que havia sido mandado gravar em mármore no pórtico de Otávia, sua irmã. Os romanos fizeram ainda um conjunto de mapas cartográficos chamados ‘Itinerarium Scriptum’, sem data precisa, mas provavelmente feito no século III, no qual há a representação das estradas romanas desde o norte da França até o Ganges50. Os itinerários romanos nasceram 50 Essa coleção de mapas é conhecida como ‘Tábula Peutingeriana’, por ter pertencido a Conrado Peutinger (1465-1547), um célebre humanista de Augsburg possuidor de um grande biblioteca dedicada ao mundo Lusitano. 41 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos para servirem de modelos descritivos aos viajantes e peregrinos, muitos dos quais iam do extremo oeste europeu até o oriente, em especial à Jerusalém, havendo em vista os motivos míticos e religiosos51. Mas se a cartografia até então – grega, romana ou árabe – não era rica, mesmo considerando as limitações produtivas do sistema técnico, o período da Baixa Idade Média tampouco produziu bons exemplares cartográficos. As imagens desse período eram feitas, em sua grande maioria, nos mosteiros, sendo chamadas de ‘Cartas Monásticas’, sob grande influência dos dogmas religiosos que viam nos mundos celestes mais realidade do que na realidade material e natural que os cercavam. Nesse mundo artístico, como podemos chamar, o livro ‘Topografia Christiana’ de Cosmas Indicopleustes, uma frade de Alexandria, mostra desenhos que chegam ao oriente, numa afirmação de caminhos que já chegaram ao Ceilão e à Índia. Esse fato de elevada relevância transporta o renascimento e suas descobertas a mundos não antes vistos com facilidade. O oriente, portanto, já era parte do mundo conhecido Europeu. Se pudermos arriscar uma afirmação perigosa, é a de que o ocidente europeu deve muito mais do que podemos imaginar ao oriente desde o século V de nossa Era. Obviamente a cosmogonia de Cosmas era baseada nas doutrinas teológicas, e sua obra negava a esfericidade da terra e dos céus, sendo a Sagrada Escritura a verdade teológica da gênese e formação do mundo. As cartas de Cosmas eram, portanto, reflexo direto das crenças do mundo de então, sem antípodas que não poderiam existir, já que todos só poderiam descender de Adão e Eva52. Santo Esidoro, o erudito humanista bispo de Sevilha – Espanha, serviu de referência para as cartas ‘TO’, onde o oceano ‘O’ e o mediterrâneo ‘T’ eram os limites do mundo conhecido pelos Europeus, que tinha ainda como limites o Egeu, o Nilo e o Atlântico. Nesse universo de cartas ‘TO’ emerge mais um luso chamado Frei Baltazar de Vila Franca que fez no início do século XV o famoso desenho, conservado hoje na Biblioteca Nacional de Lisboa – Codice Alcobacense – chamado ‘Isidori Hispalensis Episcopi Ethimologiarum Libri Vigenti’. Somam-se a esse alguns mapa-mundi desde o século XIII até o XVI. Podemos anunciar, por exemplo, o Mapa Hereford de autoria de Richard Haldigham que se encontra ainda hoje na Catedral de Hereford e datado de aproximadamente 1300. Essas cartas, plenas de efeitos místicos e de fabulosos desenhos da mitologia antiga eram uma demonstração, mesmo que parcial, do imaginário do mundo de então. Isso pode ser visto em muitos mapas do período, como no Mapa de Ebstorf, nas quatro Cartas de Matthew Paris e no Mapa de Agripa, que sofreram diversas modificações ao longo dos séculos e serviu, certamente, aos navegadores do Império Português que se aventuravam no além-mar. As cartas, ou mapas cartográficos, estavam ganhando força com a exploração do mundo. Hoje sabemos que o mundo Chinês alcançou a Europa e o Atlântico quase um século antes da exploração dos Portugueses para lá. Contudo, o mundo e a filosofia oriental não se baseia na exploração brusca, invasiva e exploratória que tem sua gênese no capitalismo europeu. Ao contrário, pretenderam, desde as dinastias Yuan e Qing, adotar o confucionismo e as doutrinas de Sun Wu (Sun Tzu), nas quais as guerras ganhas são as que não são travadas.53 51 Ver, por exemplo, o ‘Itinerário de Bordéus a Jerusalém’, datado do ano 333. Ver a obra de Lactâncio, conhecido como o Cícero dos cristãos. 53 Como cita um ministro da dinastia Han, ‘o Imperador deve mostrar sua mercê honrando-os com uma recepção imperial em que o imperador em pessoa deverá servir-lhes vinho e comida, de modo a corromper suas mentes’. Apud: KISSINGER, Henry. Sobre a China. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. p.38. 52 42 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP António Sanches, 1641, Koninklijke Bibliothek, Den Haag As revoluções que ocorriam nas cidades italianas, em especial Florença, Siena, Veneza, Pisa, Gênova e Roma, deram frutos evolucionistas em toda a Europa. Contudo, como já sabemos hoje, o movimento denominado Renascimento ocorreu em diversos pontos do Mundo, e seu florescimento ocorre até mesmo antes do século XV. O Mediterrâneo sempre foi um grande mar de trocas entre três continentes (Ásia, Europa e África). Porém, muitas razões convergiram para que a Itália fosse o berço de expansão de uma nova Era para o mundo. Outras razões já conhecidas favoreceram a expansão marítima portuguesa pelo mundo, desde a sua geografia beirando o Atlântico, até a língua que unificava aquela pequena parte da Europa Ibérica a se aventurar ao mar e descobrir novos mundos até então pouco conhecidos. Nesse momento do século XV surgem as ‘Cartas Portulanos’, nas quais o Mediterrâneo ainda é o foco principal de exploração comercial. A busca para as Índias, sem passar pelo Oriente Médio e pela Ásia Continental seria a salvação comercial e econômica de qualquer nação. Coube ao Luso a coragem de explorar-se no mar aberto além das colunas de Hércules, num mundo herdeiro das tradições de Ulisses, afinal, o mito de Ulisséia já pairava desde as origens de Lisboa. A Escola de Sagres reinou nas suas observações da natureza e as representações míticas e ilusórias da Idade Média passaram, de uma vez por todas, para o passado. Há uma observação fundamental nesse contexto, as relações entre Portugal e a Itália, em especial com as Repúblicas Marinaras como Gênova, foram de fundamental importância para as aventuras náuticas do povo Português. A exploração começou e chegou aos arquipélagos do Atlântico, com passagens pela Madeira, Açores e Cabo Verde. Em terra firma a Guiné-Bissau tornou-se um porto de abastecimento e as Canárias já eram um porto Lusitano desde 1336. Essas ‘Cartas Portulanos’ já eram em fins do século XV o principal acervo cartográfico de orientação de todo o Mundo Mediterrânico. Suas demarcações iram desde o Oriente Mediterrânico até as 43 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Ilhas Atlânticas, chegando mesmo até o Cabo Bojador. Há ainda questões que deixam dúvidas nos dias de hoje, pois foi com o contato com a China que a Europa pode desenvolver o conhecimento de latitude e longitude que havia sido inventado pelos orientais, mas bem apropriado e aperfeiçoado pelos portugueses patrocinados pelo Infante D. Henrique na segunda década do século XV. As ‘descobertas’ das terras e culturas africanas começaram a tomar conta do imaginário português e a criar a cultura marítima daquele povo, numa empresa corajosa e fantasiosa sem precedentes na história desde a consagração do Império Romano, que vivia ainda em imagem e disputa de herança por muitas nações da Europa continental e mesmo de além-mar após as conquistas das Américas. Até aquele momento, Portugal e Espanha eram as duas principais potências náuticas, e a ‘divisão’ do mundo recém ‘descoberto’ estava em jogo e negociação nas mesas reais. Essas disputas tiveram como produto o aperfeiçoamento técnico e muitas brigas e relações diplomáticas, que acabariam com a União Ibérica durante quase um século. Nesse momento podemos anunciar que a história da cartografia é também parte da história do mundo e vice-versa. Ambas as histórias se entrelaçam de forma ímpar, efetivando esses documentos como uma prova e evidência material que pode ser usada como método científico de novas formas de ver o mundo. A cartografia evidencia-se, assim, como uma ferramenta para melhor se estudar e compreender os movimentos sociais, políticos, culturais, religiosos, econômicos e culturais. Talvez essa ferramenta seja uma das mais importantes formas registradas de ver o mundo que já foi inventada pela humanidade. O estudo da arquitetura e do urbanismo, da sua teoria, história e crítica, além da formação das nacionalidades e grande parte da história do mundo desde séculos antes dos primeiros Gregos passa obrigatoriamente pelo uso da cartografia como ferramenta de análise histórica. Nesse contexto, a evolução cartográfica evidencia as transformações sobre o conhecimento humano do mundo em que vivemos, sendo um segundo passo o estudo das questões políticas, econômicas e culturais que estão relacionadas com a confecção de todas essas cartas cartográficas. Essa nova ‘Idade’ vivida pelo mundo desde os fins do século XV e início do XVI marcaram a história da humanidade de forma absoluta. Nesse momento algumas nações atingiram proeminência em aspectos únicos. A arte italiana, por exemplo, fez nascer catedrais descomunais, pinturas e esculturas magníficas, teorias da arte até hoje fundamentais. O norte da Europa fez nascer fundamentos políticos e críticas ao pensamento teológico e religioso de elevada grandeza que transformaram as ideias de liberdade e de ética, fundamentando um mundo conhecido como protestante, onde o bem estar social atingiu elevados valores e índices. Coube a um pequeno país espremido entre a rica Espanha e um oceano tenebroso e desconhecido a coragem de abrir os olhos para o que estava diante de seu rosto: um mar de ligação que serviria para fundar um novo Império. Navegadores, cosmógrafos, cartógrafos e descobridores se atiraram ao mar e às conquistas, marcando a história da humanidade e formando as bases para um novo Império que ainda está em formação e que adormece para acordar num futuro breve. A História do futuro passou pela ‘Ilha dos Amores’, chegou ao limite do Sol nascente e circundou a terra largando sementes por onde foi possível. Um país com aproximadamente meio milhão de habitantes foi o primeiro a atingir essa eficácia, e fundamentalmente, a prever um futuro. Do Brasil ao extremo Oriente, forjava-se as bases do V Império anunciado por Gonçalo Bandarra, o sapateiro de Trancoso, que já conhecia as escrituras e as profecias de 44 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Daniel. Esses aspectos míticos sempre fizeram parte do mundo do imaginário dos herdeiros do mito de Roma, mas o fato de acreditar e se lançar ao ato era algo presente apenas nos horizontes dos Imperadores, não às pequenas nações. Nesse contexto faz jus citar o Jesuíta Joseph François quando afirmou que ‘Pendant ce long period de temps, on voit cette nation, dans le cours d’une histoire liée & toujours interessante, vaincre les obstacles les plus insurmontables par une patience & un courage à l’épreuve, mettre de grands hommes et tout genre sur la scene, prendre l’ascendant partout où ils se montrent malgré leur petit nombre, établir leur réputation & leur domaine sur la ruine dês Empires, & forcer en quelques sorte la fortune à les seconder toujours par d’heureux succès. Cela doit paroître d’autant plus digne d’admiration qu’à considerer en soi le Portugal, qui est um Royaume assez petit, il n’étoit pás naturel de présumer qu’il put trouver em lui-même tant de ressources, former de si vastes entreprises, ambrasser une aussi grande étendue de pays, & mettre en ouvre un si grand nombre sujects capables de faire réussir ses projets avec tant de gloire. Les découvertes & les conquêtes dês Portugais ont eu trop d’éclat dans leur temps pour êtres ignorées’54 A Cartografia Moderna; Portuguesa Se desde o século XIII as cidades italianas estavam avançando no desenvolvimento graças ao comércio com o oriente, difundindo pela Europa as mercadorias vindas da Índia e da China, os séculos seguintes conheceram nas navegações espanholas e portuguesas as novas formações nacionais da Era Moderna. Não devemos esquecer que, mais uma vez, o mundo não-europeu deu à Europa o conhecimento de algarismos e numerações matemáticas desconhecidas. Desde o zero até os números decimais, desde a latitude vinculada à longitude, desde muitos instrumentos de navegação a armamentos e técnicas de impressão, o mundo árabe africano e oriental sino-indiano forneceram à Europa os elementos que fundamentaram sua hegemonia no mundo desde os ‘descobrimentos’. Esses mundos novos, assim conhecidos por lá, eram na verdade bem anteriores ao que se conhecia deles. O Oriente era extremamente desenvolvido 4 mil anos antes dos gregos e as Américas já povoadas desde as primeiras civilizações Egípcias. Apesar de não podermos datar especificamente o mundo Americano, sabemos que o Oriente, especialmente a China e a Índia com seus arredores eram densamente povoadas e desenvolvidas, contudo, baseadas numa cultura de não expansão, mas de aglomeração voluntária. Apesar do exposto, não podemos tirar os méritos de grandes pensadores como Leonardo de Pisa e Raimundo Lúlio, para citar apenas alguns do fim da Idade Média, que contribuíram intensamente para a cartografia com suas contribuições matemáticas e geométricas. Foi nesse contexto que as ‘Cartas Portulanos’, descritivas dos portos mediterrânicos e parte conhecida do Atlântico, contribuíram para descrição e configuração das costas conhecidas da Europa, Ásia e África. Dentre as ‘portulano’ mais conhecidas estão a mais antiga delas, chamada ‘Carta Pisana’ datada de 1270-1300, que abrange desde o Mar Negro até a Península Ibérica, com precisão incrível e rotas que formavam os ‘rumos’, dando origem ao que viria ser conhecido como rosas dos ventos. Essas rosas significaram a aplicação científica de observação marítima e celeste precisas, mas também o uso de bússolas ou agulhas magnéticas, que sabemos hoje foram inventadas no Oriente, bem possivelmente na China. Considerando que as latitudes não eram conhecidas até o contato mais intenso com o Oriente, o uso das 54 LAFITEAU, Joseph François. Histoire dês Découvertes et Conquestes dês Portugais dans le Nouveau Monde. Paris: 1733. 45 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos agulhas já era parcialmente dominado graças aos viajantes que as usavam para as rotas da seda e de comercio desde os tempos remotos. Assim, as rosas dos ventos desenvolvidas com oito rumos, passou a ter pouco tempo depois dezesseis e até mesmo trinta e dois rumos. As ‘Cartas Portulanos’ são, portanto, a primeira grande contribuição moderna da cartografia, algumas que antecedem até mesmo o século XIV. A ‘Portulano de Petrus Vesconte’, por exemplo, data de 1311. O Oceano Atlântico foi uma extensão do Mar Mediterrâneo, não apenas por sua ligação a partir das Colunas de Hércules, mas por ser um caminho de fuga dos impostos e altos custos do comércio com o oriente que passava pela Eurásia. Apesar das navegações portuguesas serem fato histórico desde meados do ano 1000, foi no reinado de D. Dinis (1279-1325) que passou a contar com uma armada marinha nacional, unificada com uma identidade única e com objetivos mais claros de expansão e afirmação de poder. Essa política que continuou nos séculos seguintes só perderia força no século XVIII, impulsionada com as guerras napoleônicas e a vinda da família real ao Brasil. Apesar disso, foi na primeira metade do século XV que o Infante D. Henrique, o navegador, levou muito adiante a política naval portuguesa, que foi também adotada pelo D. João III. Nesse século Portugal circundou o mundo e fez um Império em todas as partes do mundo que se conhecia. As políticas náuticas já haviam começado desde o século XIII, quando D. Dinis havia mandado cultivar as árvores para fornecer as madeiras no Pinhal da Leiria, dando início às construções de naus de guerra e circum-navegação. Foi desse mesmo período a criação da Universidade (1290), integrando Portugal na cultura europeia e nas discussões míticas sobre restaurações imperiais. Portanto, se inicialmente a discussão era uma única alternativa de sobrevivência da nacionalidade portuguesa e suas relações com a economia, num segundo momento essa cultura passou a poder pensar sobre suas missões enquanto herdeiras de um mundo mais antigo, que poderia favorecer o pensamento sobre o futuro. Essas evoluções, se é que podemos utilizar essa palavra para descrever o processo histórico reconhecível de uma sociedade que opta por isso, são uma consequência direta de uma necessidade para fins práticos, como seria esclarecido por sociólogos séculos depois. Portanto, os conhecimentos astronômicos e científicos estavam sendo usados para o desenvolvimento social de uma nação, e também, para uma materialização de um sonho utópico e mítico: a formação de um Império. Esse Império forjou-se com ideais míticos presentes desde o tempo de D. Dinis, que visitando a Universidade que ajudara a formar conheceu um código de precioso de códices, em verdade um volume de mapas astronômicos e cartográficos portugueses já antigos, chamado de ‘Tabulae astronomicae’, pertencente hoje à Biblioteca Nacional de Madrid. Esse volume de 55 mapas em pergaminho foram revelados apenas em 1867 através da edição intitulada ‘Libros del Saber de Astronomia del Rey D. Afonso X de Castilla’55. Esse volume tratava desde signos astronômicos com signos do zodíaco até coordenadas celestes de interesse astrológico. Apesar de essencialmente astronômico, esse ‘Almanaque de Coimbra’, como foi chamado por Jaime Cortesão, abriu uma reflexão sobre a função dos astros e sua aplicabilidade para as navegações, ou seja, para um projeto político e mítico já adotado pela erudita cultural portuguesa. Sendo 55 Um estudo sobre esse volume foi feito apenas no século XX por Jaime Cortesão. Ver também: CORTESÃO, Jaime. Influência dos Descobrimentos Portugueses na História da Civilização. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1993. Almanaques Astronómicos de Madrid. In: Os Descobrimentos Portugueses. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1990. Ver ainda: CORTESÃO, Armando. The North Atlantic Nautical Chart of 1424. In: Imago Mundi, Vol. 10 (1953), p. 1-13. 46 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP transferida para Coimbra em 1307, a Universidade fundada por D. Dinis recebeu uma cópias dessas tábuas conhecida naquele momento como ‘Libros del Saber de Astronomia’, e sua cópia foi feita em Toledo entre 1252 e 1256. A universidade favoreceu esses conhecimento e solicitaram uma grande compilação de livros e mapas do mesmo gênero, e receberam obras como a ‘Tabulae Astronomicae’ de Jacob Machir. Talvez essa obra seja a mesma que hoje pertence a Biblioteca da Ajuda, intitulada ‘tabulae Astronomicae composite post tabulas Aphonsi circa añu gratiae 1321’, sob código 52/VI/25. Bem provavelmente desde o século XIV Portugal já estava criando a sua biblioteca de cartografia com fins políticos e econômicos, mas também míticos, para realizar suas navegações. Mas senpre com objetivos maiores, foi no século XV que esses resultados alcançaram proporções maiores e mais eficazes. Nesse contexto de intenso contato com os Italianos, principalmente genoveses, Portugal fez explorações e viagens que culminaram no mapeamento e criação de pontos de apoio nas Canárias, sob a colaboração do Genovês Lanzarotto Malocello, em 1336, ainda no século XIV. Outras ilhas das Canárias e da Madeira foram redescobertas em 1339. As ilhas dos Açores (Corvo e São Miguel) foram também portos de atracamento português em fins do século corrente. Já emergia discussões sobre os mundos míticos, e essas duas ilhas estavam sendo associadas às ilhas de São Brandão, que se falava desde séculos anteriores. Essas notícias e desenhos feitos pelos navegantes já podiam ser vistos nos mapas-múndi italianos de Maiorca e de Dalorto, já em 1339. Muitas cartas espanholas e portuguesas entre os anos de 1342 e 1393 já mostravam esses conjuntos de ilhas e arquipélagos, inclusive numa já disputa territorial e política entre essas duas nações. Infelizmente o terremoto de 1755 arrasou a maior parte dos mapas e cartas portuguesas do século XV, pois parece que a maioria destas estavam guardadas no paço da Ribeira e nos Armazéns que foram destruídos com os eventos sucessivos ao terremoto. Mas há uma informação relevante que merece ser colocada. Num trabalho chamado ‘The Nautical Chart of 1424’56, Jaime Cortesão revela a existência dessa carta Veneziana na qual figura o Atlântico com parte da África e seus arquipélagos das Canárias, as ilhas no Atlântico Norte (Irlanda e Inglaterra) mas, curiosamente, um conjunto de ilhas denominadas Antilia, antigo nome das Antilhas, que inclui ainda ilhas como Sanatanzes e Saya. A partir de então, as cartas portuguesas passaram a ser sempre utilizadas pelos cartógrafos italianos, holandeses e ingleses para confecção dos mapas cartográficos e dos mapas oceanográficos, tornando esses patrimônios portugueses que serviam ao mundo. O atlas de Andrea Bianco de 1436 também já parece mostrar grande parte do Atlântico e o Mar de Baga, passagem de volta dos roteiros pela costa atlântica da África. A carta de Gabriel de Valsecca datada de 1439 já mostrava nove ilhas do conjunto de Açores,o que implica viagens anteriores a esse ano, relevando ainda que em 1439 Dom Afonso V concede ao Infante D. Henrique a autorização para colonizar os Açores. Outra data importante dos mapas cartográficos portugueses é o ano de 1448, no qual o veneziano Andrea Bianco fez aparecer em Londres um conjunto de 34 cartas sob o nome ‘Andrea Biancho, venician comito di Galia mi fexe a Londra MCCCCXXXXVIII’. Esses mapas mostram o Cabo Bojador, Cabo Verde e Cabo Roso, sendo esses os limites da Guiné Bissau Portuguesa, já registrada em documentos em 1445 por Álvaro Fernandes. 56 CORTESÃO, Armando. The North Atlantic Nautical Chart of 1424. Imago Mundi, Vol. 10 (1953), p. 1-13. Ver ainda: An Early Chorographic Map of Portugal. In: Imago Mundi, Vol. 19 (1965), p. 111-112. 47 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos As cartas da segunda metade do século XV foram fundamentais para as relações íntimas entre Portugal e Itália, e dessa forma a incorporação portuguesa do mito de restauração da opulência romana. Fra Mauro, um veneziano frade e cartógrafo, por pedido de D. Afonso e do Infante D. Henrique, fez um mapa-múndi com todas as informações sobre os continentes, objetivando a avaliação das viagens de circum-navegação, entre 1457 e 1459. Hoje, a cópia que foi feita por segurança ainda se encontra na Marciana e pode servir de evidência aos projetos míticos, como já dissemos, e políticos que Portugal tinha em foco. Entre 1460-1461 Pedro de Sintra chegou a Serra Leoa, atual Libéria, e seus desenhos serviram de base para o mapa de Grazioso Benincasa, feito em Veneza em 1468. Angola, localizada a 13 graus e 25 segundos foi atingida em meados de 1489 como consta nas Cartas de Soligo. A viagem de Bartolomeu Dias entre 1487-1488 deu frutos que podem ser vistos no Mapa-Múndi de Henricus Martellus de 1489, incluído no volume ‘Insularium Illustratum Henrici Martelli Germani’. Essa viagem marcou a chegada ao Cabo da Boa esperança, quando o astrolábio marcou 45 graus em relação ao equador. Sem dúvida essas notificações e descobertas foram fundamentais, mas nada mais do que a inclusão das latitudes nos mapas, fato que nos revela uma íntima relação com a cultura oriental, feita de algum modo, antes da chegada das caravelas a Goa ou Macau. Algumas dicas nos chegaram com os mapas graduada em latitudes, como a carta de Claudio Clavus, escandinavo, datada de 1427. Mas essas eram cartas não destinadas a navegações e que faziam uso do sistema ptolomaico, um alexandrino mais ligado ao mundo árabe e oriental que ao mundo europeu. A primeira tradução ao latim, como sabemos, é datada de 1472, e foi fundamental até 1490, considerando que nesse pequeno intervalo foi republicada sete vezes. Bartolomeu Velho, 1568, Bibliotèque Netionale, Paris 48 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Sem dúvida, essas novas cartas foram surpreendidas com o Atlas Miller, também conhecido como o Atlas de Lopo Homem-Reineis, pois é um atlas português datado de 1519. Essa obra, ricamente ilustrada apresenta mais de uma dezena de cartas náuticas. Esse respeitável trabalho, profundamente bem executado, possui trabalhos de um conjunto de cartógrafos como Lopo Homem, Pedro Reinel e Jorge Reinel, e foi ilustrado pelo miniaturista António de Holanda, pai do tratadista português Francisco de Holanda, estudante junto a Michelangelo Buonarrotti, e que traria a Lisboa a ideia mítica de ser a capital do Império Português. Esse atlas apresentou as zonas geográficas dos Oceanos Atlântico Norte, a Europa do Norte, o Arquipélago dos Açores, a ilha africana de Madagáscar, o Oceano Índico de forma quase completa, e ainda a Indonésia, o Mar da China, as Molucas, o Brasil e o Mar Mediterrâneo detalhado. A característica política principal desse volume é a página de rosto, que apresenta as armas de Catarina de Medici com a inscrição ‘Hec est universi orbis ad hanc usqz diem cogniti, tabula quam ego Lupus homo Cosmographus, in clarissima Ulisipone civitate Anno domini nostri, Millessimo quigentessimo decimo nono jussu, Emanuelis incliti lusitanie Regis collatis pluribus, aliis tam vetustorum quae recentiorum tabulis magna industria et dilligenti labore depintii’, e parece ter sido um presente de D. Manuel I de Portugal ao Rei Francisco I da França. As relações políticas evidenciadas entre os reinados europeus já demonstram interesseis nacionais e disputas: no caso específico a autonomia de Portugal em relação a Espanha, que estava planejando um grande império sob Domínio do escorial de Felipe II. um outro destaque do Atlas Miller é o detalhado mapa ‘Terra Brasilis’, considerando sua extensão geográfica feita em menos de vinte anos após o desembarque de Pedro Álvares Cabral. Parece que a forma como esse mapa mostrou um mundo fechado, onde não se vê o oceano Pacífico, tenha sido interpretada como uma tentativa de dissuadir a circum-navegação que Fernão de Magalhães então preparava em Sevilha, na corte de Carlos I de Espanha. Por fim, para não nos estendermos demais nas contribuições individuais do mundo cartográfico português, podemos citar o cosmógrafo e matemático Pedro Nunes (1502-1578), autor do ‘Tratado em Defesam da carta de Marear’, que inclui o ‘Tratado da Sphera’, publicado em Lisboa em 1537. Portugal entrava, definitivamente, no círculo de grandes capitais, disputando primazias intelectuais e científicas com as grandes nações do mundo. A projeção da carta em superfície plana, fato de maior preocupação desde a ‘Geographia’ de Ptolomeu, foi o grande salto que atingiu as cartas de Marear. Seguindo a maestria de Pedro, seu contemporâneo, Dom João de Castro (1500-1548) fez estudos de magnetismo e suas influências nas navegações que faziam uso de bússolas, instrumento que sofria interferências diretas dessas forças invisíveis. Além dessas contribuições, Pedro Nunes e João de castro fizeram estudos dos portos portugueses em todo o mundo, contribuindo com os estudos do geomagnetismo, no estudo das marés e das formações submersas dos oceanos. Os ‘Roteiros’ de João de Castro serviram de livro de consulta a todos os navegadores que passavam por portos portugueses em todo mundo, e contribui ainda num comentário ao tratado de Pedro Nunes chamado ‘Tratado da Sphera, perguntas e respostas a modo de Diálogo’. 49 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Considerações Finais : Sobre um Português – Francisco de Holanda Parece haver, no nosso entender, uma maneira lusitana de fazer-se no mundo. O estudo das profecias de Bandarra, da herança do mito Romano descrito por Tito Lívio, e as tentativas nacionais europeias de criarem uma capital à Imagem da Roma Caput Mundi faz-nos repensar as contribuições portuguesas ao mundo. Parece que Portugal veio para o Brasil, e deu a esse grandioso país a maior de todas as heranças possíveis. Podemos supor, num arriscado argumento desproporcionado, mas também desproposital e longe de atingir critérios de cientificidade, que a obra de Francisco de Holanda, arquiteto e tratadista já mencionado acima, que havia uma novidade mítica e artística presente no imaginário português. Essa Antiqua Novitas instaurada por Francisco de Holanda é a sua maniera de compreensão do antigo. A sua metodologia de restauratio. Restauração do mito de sede de um grande Império, do Império que Fernando Pessoa tratou como o da Língua Portuguesa, mas que Padre Antônio Vieira, Camões e Bandarra haviam já refletido bem antes. Não há, portanto, para Holanda, uma aparente contradição entre a ideia artística de origem divina e a imitação seletiva de elementos artísticos ou da natureza. Aliás, a antiguidade serve como referência a ser seguida, não como modelo rígido, mas como modelo metafórico vivo a ser reinterpretado e aos olhos do novo mundo. A anunciação de suas mensagens ao longo de sua esparsa obra remete-nos às suas citações de Hermes Trismegistus como enigmas, como aquele que escreve na imagem final de ‘Da Ciência do Desenho’57, quando diz que “et conscius meus in excelsis”, pois a tristeza se tornará alegria. A ‘Prisca Pictura’ é, portanto, a ‘Maniera Lusitana’, segundo nosso entendimento, de ideia de arte de Francisco de Holanda. Sendo, como ele mesmo anunciou, pintura, escultura ou arquitetura, manifestações que fazem uso do desenho, da antiga pintura, como entendiam os antigos, a ideia de cidade está presente ao longo de toda a sua obra. As leituras devem ser feitas como na figura de Lisboa, mulher sóbria coroada, rainha dos mares e oceanos que carrega uma nau em seus braços, símbolo de daquele império marítimo que buscou levar a maniera dos antigos a novas terras aparece ilustrada no tratado ‘Da Fábrica que Falece’ de Holanda ainda no início do texto ‘da Fábrica que Falece’. A maioria dos estudiosos sobre a obra de Holanda o coloca como um intérprete da maneira dos Romanos, ou seja, como um teórico que pretendia dotar Lisboa de marcos, monumentos, e edifícios de valor simbólico, já que esta seria a capital de um novo Império. Exaltar as contribuições de Francisco de Holanda e colocá-lo como um ‘profeta’ de um novo império é já bastante louvor à sua figura. Entender ou supor que Holanda percebeu na capital lusa e nas profecias do sapateiro de Trancoso uma razão perceptível como destino, é já dotá-lo de grande mérito. Mas se pretendemos como objetivo implícito acabar com a ideia de mérito, pois somos todos herdeiros de uma antiguidade e reprodutores míseros de modelos anteriores, esse trabalho estaria apenas dando um passo além dos que já foram dados por aqueles que nem chegaram a observar nos desenhos de Holanda as mensagens implícitas; leram apenas as linhas escritas em tipos, não as sublimadas em espaços 57 HOLANDA, Francisco de. Da Ciência do Desenho. Lisboa: Livros Horizonte, 1985. p.47. f.50v. Ver Livro de Jó, 16-21, (Ecce enim in cælo testis meus et conscius meus in excelsis). Holanda cita Hermes no capítulo 12 de seu ‘Da Pintura Antiga’. “Proavi nostri invenerunt artem qua Deos eficerent quoniam animas facere non poterant”, ou seja, Nossos antepassados já que não poderiam produzir almas produziram deuses. E ainda: “Sicut Deus ac Dominus ut sui similes essent Deos fecit aeternos, ita humanistas Deos suos ex sui vultus similitudine figuravit”, ou seja, Para o Deus e Senhor, para os deuses serem semelhantes a si mesmo, os fez eternos. Tradução nossa. Idem. Da Pintura Antiga. Lisboa: Livros Horizonte, 1984. Capítulo 12. p.38. 50 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP incomensuráveis. Se esses que nem chegaram a perceber que a imagem da ‘Potestas’ do Álbum das Antigualhas58 reportava a Lisboa como ‘Nuovo Caput Mundi Imperium’ seria exigir em demasia que o mérito esteja na reprodução de uma leitura dentro de um mesmo sistema linguístico. Essas concepções explicam por uma nova ótica as querelas renascentistas entre as artes, os motivos da recuperação dos antigos pelos renascentistas desde o século XIV ou até mesmo antes nas doutrinas organizativas tomista e agostiniana, as críticas sobre o universo e os mundos, a discussão sobre as formas de governo, culminando na crise da incredulidade no século XVI, e daí por diante. A imposição desses modelos, seja da recriação de uma Caput Mundi, em qualquer das grandes capitais europeias, seja em novos mundos já conhecidos – África e Oriente – ou desconhecidos até meados de 1490 – Américas, não passou de uma reprodução de uma ideia anterior. É nesse ínterim que se exalta a figura de novas culturas e novos modelos. Por que também não as novas linguagens das metáforas vivas, transformadoras, perceptíveis apenas para alguns eleitos que conseguiam superar os obstáculos epistemológicos da cultura. A valorização de cada um dos povos do mundo que fazem seus patrimônios é valorizar a todos os modelos, forjados ao longo de milênios. Não seria concebível entendê-las sem serem vividas. Apesar de tudo, muitas dessas formas e modelos se perderam, ou se transformaram de forma tão ativa que se deformaram para nos servir de análise, ao menos. Impossível julgar um valor e uma cultura com nossos olhos externos a ela. Da mesma forma, impossível modificá-la ou tomá-la como modelo transformador estando imerso. Exaltemos os novos modelos, para que aqueles tidos como gênios, mas que recriaram a partir de modelos anteriores, sejam considerados apenas recriadores, e não mais semideuses. Imagens do Livro das Antigualhas de Francisco de Holanda, 1570. 58 HOLANDA, Francisco de. Álbum dos desenhos das Antigualhas. Lisboa: Livros Horizonte, 1989. 51 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos O mito de um novo V Império, além-mar e atingido através de projetos arquitetônicos, sejam urbanos, sejam de Impérios que se baseiam na força dos sentimentos míticos, perenes e ternos, que se validam de forças inconscientes do ser humano, confirmando, portanto, ser o mito além de um tempo e espaço. O fim de um mundo finito dos reinterpretes de Roma no século XV e XVI e a ascensão de um novo modelo de mundo, maior, planetário, inserido num sistema universal maior ainda, no qual as estrelas davam as precisões necessárias à navegação, fez nascer novos Impérios. Seja luso ou hispânico, brasileiro, africano, oriental, o novo mundo circunda a terra, e as reinterpretações míticas devem adquirir argumentos maiores de toda a humanidade, uma única e grande família. Miscigenando pessoas, culturas e mitologias, as novas interpretações de mundo, do que é o ser humano, deve caminhar para a constante questão de quem somos e do que desejamos enquanto criadores de novas interpretações de modelos antigos, mas que observam ao futuro. 52 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP La ville (idéale?) chez Alberti Prof. Dr. Michel Paoli 1. Homme idéal propose ville idéale, bon rapport qualité-prix. Pourquoi l’idée de «ville idéale» est-elle souvent associée au nom d’Alberti, et cela est-il justifié? Lorsque l’on pense à la ville idéale à la Renaissance, on pense à des projets, éventuellement à des réalisations; des images surgissent en nous. Or il n’est pas rare de trouver le nom d’Alberti mêlé à ces projets ou ces images qui ont trouvé ou non une forme de réalisation. En ce qui concerne le XVe siècle, au moins trois idées viennent immédiatement à l’esprit: les ambitieux projets de restructurations de la ville de Rome sous le pontificat de Nicolas V; l’aménagement «urbain» du bourg natal du pape Pie II, Pienza; les trois panneaux dits des «cités idéales» d’Urbino, Berlin et Baltimore (et en particulier le premier des trois). Dans tous ces cas, même si l’on ne dispose que d’une documentation très limitée voire inexistante, le nom d’Alberti semble émerger avec évidence car il est courant de voir son nom cité comme celui d’une sorte d’imprésario occulte qui nourrirait l’Italie entière de ses idées. Il ne serait pas difficile de montrer que cela est d’ailleurs valable pour l’ensemble de sa vie et de ses interventions les plus connues. Lorsqu’on propose, par exemple, de reconnaître Alberti dans une fresque peinte par Masaccio en 1427 au milieu d’artistes aussi renommés que Brunelleschi, Donatello et Masaccio lui-même, on fait de lui un prodige de 23 ans qui ferait succomber tout le monde sous son charme intellectuel. Les connaissances sur la vie d’Alberti, sur son milieu familial, professionnel, amical, relationnel ayant beaucoup évolué ces dernières années, en particulier à l’occasion des quinze colloques qui ont ponctué l’année du sixième centenaire, il nous est plus facile de nous interroger sur la justesse de cette représentation. Or l’on est obligé de convenir qu’à 23 ans, Alberti n’était à peu près rien, ou pas grand chose, et le peu qu’il avait écrit ne lui avait pas permis de se distinguer radicalement de ses camarades d’études. Il est donc très hautement invraisemblable (voire, à d’autres égards, totalement impossible) qu’Alberti ait été reconnu par le milieu artistique florentin comme un personnage de premier plan dès 1427. 53 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Le problème essentiel auquel nous avons à faire face, c’est que cette image d’un Alberti qui fournirait des idées aux artistes, aux humanistes, aux princes de son époque persiste sur toute la durée de sa vie. Depuis plusieurs décennies, chaque fois qu’une nouveauté promise à un bel avenir est identifiée par la recherche, elle est attribuée au grand pourvoyeur d’idées Alberti. D’une certaine manière, ne sachant pas comment expliquer le surgissement de tant de nouveautés, l’on a tôt fait de les attribuer à une source unique, une sorte d’incarnation parfaite de la Renaissance, un héros permettant à lui seul de tout expliquer. Or, cette image, partiellement fabriquée par Alberti lui-même dans son autobiographie, perfectionnée à l’époque néo-classique et romantique en extrapolant à partir de quelques informations éparses, est définitivement popularisée, à très grande échelle, par Jacob Burckhardt dans sa Civilisation de la Renaissance en Italie. A partir de ce moment, Alberti devient l’homme universel, l’homme de la Renaissance; il est l’incarnation parfaite des vertus de son temps. Dès lors, quoi de plus naturel que de voir l’homme idéal inventer la ville idéale? Il importe de comprendre que, par delà les données dont on dispose pour défendre des attributions, le fait de poser la marque d’Alberti sur les travaux romains de Nicolas V (en grande partie non réalisés), sur le réaménagement de Pienza ou sur la «cité idéale» urbinate naît d’abord de cela: Alberti semble être la clé universelle pour ouvrir toutes les portes - une clé sans doute trop commode. En effet, une lecture attentive des oeuvres écrites, qui contiennent de très nombreux indications biographiques, la découverte de nouveaux documents, l’application de nouvelles 54 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP méthodologies (à commencer par la relecture de toute la tradition critique), nous permettent de dire que la vie d’Alberti a été avant tout un long et difficile combat, celui d’un enfant illégitime né alors que sa famille était en exil, qui se retrouvera vite orphelin, rejeté par une partie de sa famille, par sa patrie, Florence, par son milieu intellectuel, les humanistes, probablement aussi par les artistes florentins de son temps, et qui devra se battre pour se faire reconnaître - chose qui n’interviendra que vers la fin de sa vie, à partir des années 1460. Qu’on ne se méprenne pas: Alberti avait des capacités immenses, hors norme, et la partie de son oeuvre qui est arrivée avec certitude jusqu’à nous suffit amplement à le démontrer. Mais cela ne l’empêchait pas d’avoir des ennemis, y compris au sein de sa propre famille. On serait même tenté de dire qu’il avait des ennemis à la hauteur de ses capacités, qui étaient grandes. C’est d’ailleurs probablement parce que, dans un premier temps, il est méprisé par une partie de ses contemporains qu’il se donne les moyens de hausser encore davantage son niveau à des hauteurs jamais atteintes. On a ainsi longtemps présenté Alberti comme un ami de Brunelleschi. Le seul et unique élément dont nous disposions pour le dire est la lettre de dédicace du De pictura. Or, des études philologiques (conduites principalement par Lucia Bertolini) ont prouvé qu’il n’existe qu’un manuscrit de ce texte et qu’il se trouve dans un codex de travail possédé par Alberti luimême. Si Leon Battista a a adressé cette lettre à son illustre aîné, il est presque certain que ce dernier n’en a rien fait, probablement parce qu’il n’avait pas apprécié le cadeau (il est vrai que le jeune homme disait être le premier à avoir formulé ce que le vieil architecte avait en réalité découvert deux décennies plus tôt, c’est-à-dire la perspective). Souvenons-nous que, dans le De re aedificatoria, dont la rédaction commence dans les années 1440, l’oeuvre du premier architecte de la Renaissance n’est même pas évoquée allusivement: elle n’existe tout simplement pas. Si Alberti avait été l’ami de Brunelleschi, en aurait-il été de même? On ne peut alors exclure qu’Alberti ait consacré toutes ses forces à l’architecture précisément pour répondre au mépris de Brunelleschi. Dans ses oeuvres écrites des années 1430 et 1440 (on pense en particulier aux Intercoenales), Alberti ne cesse de faire allusion à ses obtrectatores, ses détracteurs, ceux qui dénigrent son travail, qui le critiquent et contre lesquels il doit se défendre, avant tout moralement. Il existait certes, dans son entourage, des gens qui aident le jeune homme aux talents si prometteurs (on pense à son lointain cousin Francesco d’Altobianco degli Alberti ou au prélat Alberto degli Alberti, et, au fond, Alberti insiste assez peu sur eux), mais imaginer qu’il était universellement bien reçu est devenu tout simplement indéfendable. Le reconnaissance qu’il finira par obtenir est une véritable conquête, pas un cadeau qui lui est servi sur un plateau dès sa jeunesse. Et cette reconnaissance ne viendra que tardivement, dans les dix dernières années de sa vie (14621472). 2. La part d’Alberti dans les cités idéales. Dès lors que l’avancée des recherches albertiennes nous prive de l’expédient commode de l’Homme universel, reconnu par tous comme une autorité, capable de synthétiser et de diffuser toutes les nouveautés de son époque, l’on est obligé de revenir aux quelques pièces à conviction dont on est censé disposer. 55 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Si l’on commence par les travaux romains de l’époque de Nicolas V (des travaux pour l’essentiel projetés et n’ayant donné lieu qu’à de rares réalisations), l’on n’a sous la main que le témoignage, extrêmement pauvre et discutable, de Vasari. L’on y ajoute le fait que le futur pape Parentucelli aurait été à Bologne à l’époque où Leon Battista y suivait des études de droit. Partir de cela pour prendre ensuite le témoignage posthume de Manetti sur les ambitieux projets urbanistiques du pape (dans le De vita ac gestis Nicolai quinti summi pontificis) et faire d’Alberti le concepteur de ce programme, totalement disproportionné si l’on songe aux moyens dont disposait le pape, n’a tout simplement aucun sens (surtout si l’unique argument dont on puisse faire état est le suivant: seul Alberti, à son époque, pouvait concevoir un tel programme). C’est pourtant ce qu’a fait Carroll W. Westfall dans son célèbre In this most perfect paradise de 1974, dont les idées ont été ensuite reprises par Franco Borsi dans sa monographie d’Alberti. Quelque temps plus tard, l’idée a été fermement combattue, voire anéantie avec une grande autorité par Manfredo Tafuri (en particulier dans Ricerca del Rinascimento. Principi, Citta, Architetti, Torino, Einaudi, 1992). Depuis lors, toute la recherche semble confirmer l’analyse de Tafuri: autant sur le mode sérieux (dans le De re aedificatoria) que sur le mode comique (dans le Momus, écrit au même moment, c’est-à-dire pendant le pontificat de Nicolas V), Alberti ne cesse de fustiger la «smania di costruire», la libido aedificandi; il critique le mauvais architecte qui doit tout détruire avant de songer à construire, et ce sans même savoir s’il aura les moyens intellectuels et financiers pour mener ses projets à terme. Ici, clairement, le théoricien de l’architecture vise Bernardo Rossellino, qui a commencé par démolir tout ce qui se trouvait aux environs du chevet de la vieille basilique Saint-Pierre (y compris des édifices antiques) avant d’entamer la construction de fondations gigantesques et disproportionnées. On sait comment se termine l’histoire: après la prise de Constantinople par les Turcs, le pape tombe en dépression et tous les travaux sont stoppés. A la suite de cela, Alberti n’aura de cesse de critiquer les programmes urbanistiques et architecturaux mégalomaniaques: on ne doit entreprendre que ce que l’on est capable de terminer et l’on doit mesurer ses ambitions à l’aune de ses forces financières et techniques; et plus que tout, l’on doit respecter les édifices qui existent. De toute évidence, la grand chantier abandonné de Nicolas V était aux antipodes de cet état d’esprit. Il est possible qu’Alberti ait distribué quelques conseils, mais pour donner un exemple Vasari dit en 1568 que les travaux romains de Rossellino se font sous la direction d’Alberti alors que Mattia Palmieri, qui connaît personnellement l’humaniste, indique un siècle plus tôt que Leon Battista est consulté sur la construction de la nouvelle abside du vieux Saint-Pierre et qu’il recommande de stopper les travaux. C’est ce même Palmieri qui affirme qu’Alberti, en 1452, «présente au pape» son traité d’architecture. Or, dans le Momus, Alberti raconte que le héros de son récit offre à Jupiter un volume contenant de nombreux conseils qui pourraient lui être utiles; Jupiter n’ouvre même pas le volume; plus tard, après avoir connu bien des mésaventures, y compris architecturale (son arc de triomphe en or s’est effondré), le dieu des dieux ouvre le livre et comprend qu’il se serait épargné de nombreux malheurs s’il avait lu l’ouvrage plus tôt. Pourquoi parler de cela? Parce qu’on a suggéré, peut-être avec raison, qu’Alberti faisait allusion au De re aedificatoria, qu’il avait présenté au pape et que ce dernier n’avait même pas pris la peine de parcourir; s’il l’avait fait, son pontificat ne se serait peut-être pas terminé si misérablement. 56 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Sur le problème de Pienza, les questionnements sont comparables même si l’on a cette fois affaire au successeur de Nicolas V, Pie II (autre pape humaniste). Une fois encore, Alberti est censé travailler main dans la main avec Rossellino pour construire une copie du Palazzo Rucellai et restructurer l’ensemble du bourg de Corsignano, rebaptisé Pienza en l’honneur de son célèbre enfant. De quels preuves dispose-t-on? Aucune. Quels arguments avance-t-on? Il est certain que le Palazzo Piccolomini est construit par Rossellino (des documents le prouvent) et sa ressemblance avec le Palazzo Rucellai est incontestable. Or, on détient une lettre dans laquelle le marquis de Mantoue Ludovico Gonzaga écrit à Alberti pour lui dire que le pape souhaite lire le De architectura de Vitruve; il lui demande donc de lui prêter son exemplaire du traité antique. Quel étrange circuit! Alberti est un fonctionnaire du pape et l’on sait qu’il suit l’administration papale pendant son déplacement vers Mantoue (on a découvert des documents signés de sa main); pourquoi alors le pape prie-t-il le marquis de demander son codex à Alberti? On ne le sait pas. On sait en revanche qu’Alberti avait travaillé pour Sigismondo Malatesta en construisant la façade du Tempio malatestiano, or le tyran de Rimini était un ennemi personnel de Pie II; le pape gardait-il une certaine distance envers l’humaniste à cause de cela? On a aussi observé que le Palazzo Piccolomini était une interprétation du Palazzo Rucellai faite en ne comprenant pas le fonctionnement du palais original. Peut-être Rossellino ne disposait-il que d’un dessin dont il n’était pas vraiment en mesure de comprendre la subtile logique. Quoi qu’il en soit, une implication directe d’Alberti dans les travaux de Pienza paraît assez improbable. Pie II cite d’ailleurs dans ses oeuvres le nom de son fonctionnaire, mais il en parle comme d’un fin connaisseur des antiquités, pas comme d’un architecte. Le troisième cas qu’il convient d’évoquer rapidement est, comme nous l’avons dit, celui du panneau dit de la «Cité idéale», aujourd’hui dans les collections publiques d’Urbino (Galleria Nazionale delle Marche). On ne sait rien sur ce tableau et sur son origine. Un examen par diverses techniques a permis de lire, sous la superficie, un très long et très méticuleux travail préparatoire, quasiment toutes les lignes des édifices étant tracées (ce qui serait une manière de procéder extrêmement rare), mais cela ne nous dit rien sur l’auteur de l’oeuvre. Quels arguments utilise-t-on pour en faire un tableau «albertien» dans sa réalisation ou au moins dans son inspiration? L’on fait remarquer que le deuxième palais à gauche ressemble au Palazzo Rucellai et l’église du fond, à la droite de la rotonde, ressemble à Santa Maria Novella, mais comme toute «ressemblance», celles-ci sont discutables. On fait remarquer aussi que Vasari dit qu’Alberti avait dessiné une belle vue de Venise («una Vinegia in prospettiva»), avec des personnages peints par d’autres que lui; la vue de la cité idéale attendait-elle des figures? On insiste enfin sur les liens entre Alberti et Urbino, et spécialement avec Federico da Montefeltro. Longtemps, on s’en est tenu, sur ce point, au témoignage de Landino, qui, dans les Disputationes camaldulenses, disait qu’Alberti avait l’habitude de passer l’été à Urbino, mais la fidélité du dialogue de Landino à la pensée albertienne a été tellement remise en cause que ce témoignage ne semblait plus avoir la moindre valeur. On connaît néanmoins depuis longtemps une lettre tardive du duc qui parle de sa vieille amitié avec Alberti et l’on a découvert depuis peu un document qui prouve qu’Alberti fréquentait Urbino. On admettra toutefois que cela ne démontre rien quant à la paternité de la «Cité idéale», qu’on attribue parfois à Laurana, parfois à Piero della Francesca, parfois à d’autres. En somme, ville, perspective, Quattrocento, ce sont des arguments bien simples, voire un peu faciles, qui conduisent vers le nom d’Alberti. 57 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 3. La ville de papier. Reste donc la question de ce que dit Alberti dans son traité d’architecture sur le problème de la ville. Pour commencer, la ville qu’il décrit est-elle «idéale»? C’est ce qu’il semble dire lorsqu’il évoque La République de Platon: Aussi aimerais-je imiter la réponse que fit Platon à ceux qui lui demandaient où ils pourraient bien trouver la fameuse cité qu’il avait dépeinte : « Ce n’est pas là mon propos, dit-il, mais je cherche de quelle façon il convient d'établir la meilleure cité à venir ; quant à toi, pense bien qu’il te faudra préférer à toutes les autres celle qui lui sera le moins dissemblable ». De même, nous aussi décrivons, comme si nous en présentions un modèle, la ville que les hommes les plus savants, se pliant pour tout le reste au temps et à la nécessité des choses, jugeront commode jusque dans le moindre détail. Nous soutiendrons le jugement de Socrate, pour qui le meilleur est ce qui ne peut être changé qu'en pire. (IV,2 p. 191 = Krüger 286-287) Qu’Alberti parte d’une idée est certain, et il pourrait difficilement en être autrement dès lors que l’on parle de «villes de papier». On comprend néanmoins assez vite qu’il n’impose pas sa conception des choses à la réalité dont il veut parler (dès cette phrase, il est d’ailleurs question de se plier «au temps et à la nécessité des choses»). Pour prendre tout de suite un exemple, lorsque Alberti se propose de faire une typologie des bâtiments, il indique qu’il existe différentes catégories d’édifices parce que les hommes sont différents entre eux; après avoir cité les opinions des Anciens sur cette question (c’est-à-dire divers exemples de divisions en classes de la société), il propose son propre critère de distinction: «Or rien ne différencie mieux un homme d'un autre que cela seul qui le sépare radicalement des bêtes, c’est-à-dire la raison et la connaissance des arts libéraux» (IV,1 p. 187 = Krüger p. 282). Il s’agit là d’une opinion commune parmi les hommes de savoir, et qui revient à dire que seuls eux méritent de détenir le pouvoir, et ce dans l’intérêt général (on est là encore en plein contexte platonicien). Néanmoins, le but d’Alberti n’étant pas de décrite un monde idéal où seuls les hommes les plus sages, les plus justes et les plus intelligents détiendraient le pouvoir, il est immédiatement conduit à ajouter au premier groupe celui des hommes les plus riches. Il fonde ainsi la catégorie des «premiers citoyens» qui est capitale pour son analyse et donc son traité car ce sont eux qui vont posséder des édifices particuliers (ni publics, ni privés collectifs) sur le modèle desquels seront ensuite bâtis les édifices des citoyens plus modestes. En effet, de quoi parle-t-on ici? Du palais privé. Et qui est capable de se faire construire un palais privé? En réalité, ce ne sont pas les hommes les plus sages, les plus avisés, les plus instruits; ce sont les hommes les plus riches. Ce n’est donc pas la «raison» qui permet, dans les faits, de distinguer des classes parmi les hommes, c’est l’argent - et à Florence, ce n’est pas le sage Alberti qui se fait construire un palais, c’est le riche Rucellai. Il est essentiel de comprendre qu’Alberti cherche à écrire un traité qui soit capable de remplacer Vitruve et donc qui soit d’emblée classique, c’est-à-dire fondé non sur une époque et un lieu mais sur la raison et la nature (intemporelle) des choses - ce qui le rend virtuellement indémodable. En partant de sa conception de la réalité mais en y intégrant ce qu’est le monde qu’il connaît, avec ses forces et ses nombreuses faiblesses, l’auteur du De re aedificatoria abandonne une position platonicienne (qui n’a jamais vraiment été la sienne) et réussit à éviter les écueils aussi bien de l’idéalisme (qui tendrait à oublier ce qu’est le monde) que de la description désenchantée du réel ici et maintenant (qui perdrait vite toute sa pertinence pour devenir un document sur une époque révolue). 58 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Certes, pour faire cela, Alberti part de sa propre situation, celle d’un intellectuel en quelque sorte «marginal» au sein de sa famille de marchands-banquiers et de sa cité, qu’il ne découvre qu’à l’âge de 27 ans. Voulant être utile à tous, voulant que ses recommandations puissent être mises en pratique, il ne peut se contenter de se référer à sa propre lecture du réel. Il y est d’ailleurs d’autant plus forcé que si l’on cherchait dans ses œuvres qui mérite véritablement de détenir le pouvoir, on aurait vite fait de constater que tous les groupes qui l’entouraient dans sa vraie vie ont été, à un moment ou à un autre, violemment critiqués, surtout dans les Intercoenales et dans le Momus: les riches, les juges, les politiques, les humanistes, les nobles, les pauvres, sa propre famille, le peuple (cela va de soi), absolument tout le monde est rabaissé et jugé indigne de détenir le pouvoir. D’ailleurs, dans sa dernière grande œuvre, le De iciarchia, Alberti aboutit au seul résultat logique: se présenter implicitement comme l’unique personne digne d’exercer l’autorité, au sein de la famille et indirectement au sein de la cité. Mais son traité d’architecture serait inaudible s’il se construisait autour de cette vision des choses. Il faut donc qu’il se fonde sur une sorte de réalisme intemporel d’essence fondamentalement aristotélicienne: la nature des choses et non une idée parfaite. Or, cela autorise la prise en compte de données très finement analysées. Pour donner un exemple, les villes les plus grandes et les plus importantes auront certes besoin de routes et de rues rectilignes et majestueuses, qui puissent mettre en évidence le rôle de premier plan joué par ces cités, mais pour des ensembles de taille plus modeste, la route puis la rue courbe seront des avantages : Ainsi, non seulement elle (i.e. la rue principale) paraîtra plus longue et donnera l'impression que la ville est plus étendue, mais en outre elle contribuera grandement à sa grâce, à la commodité de ses usages, aux circonstances et aux nécessités du moment. Comme il sera précieux pour le promeneur de découvrir insensiblement, à chacun de ses pas, de nouveaux aspects des édifices, de voir la sortie et la façade de chaque habitation alignées sur l'axe central de la voie, et d'apprécier, dans ces conditions, sa vaste étendue, tandis qu'autrement ses dimensions excessives seraient malséantes et rendraient même la ville insalubre ! (IV,5 p. 205 = Krüger p. 302-303) Plusieurs choses sont néanmoins à noter. Tout d’abord, il est normal qu’un traité d’architecture, qui se fixe pour but d’aider son lecteur à prendre de bonnes décisions ou à émettre des jugements avisés, s’efforce de dire ce qui est bon et ce qui est mauvais en matière de construction. Or, il ne vient à l’idée de personne de dire qu’Alberti décrit l’«édifice idéal»; pourquoi alors prétendrait-on, lorsqu’il parle de la ville, qu’il décrive la «cité idéale»? Chacun, dans sa vie, visitant d’autres ville que la sienne, a l’occasion de se dire que telle ville présente telles avantages et tels inconvénients; partant de cela, et c’est le second point sur lequel il faut insister, on peut se demander à quoi ressemblerait une ville rassemblant le maximum d’avantages, mais il s’agit alors d’une ville créée à partir de rien, d’une ville nouvelle. Ici aussi, l’on voit qu’Alberti cherche à s’abstraire de son siècle car au milieu du XVe siècle en Italie, il devait être bien rare que l’on cherche à créer des villes nouvelles. On a cité la restructuration de Rome, qui ne donne pas grand chose, celle de Pienza, de toute petite taille, celle d’Urbino, qui permet objectivement de moderniser un peu la cité autour du palais de Federico, mais on ne part jamais de rien. Curieusement, dans le Livre X, consacré à La réparation des ouvrages, Alberti évoque l’idée de «corriger» la ville, mais il se corrige hélas tout de suite lui-même : 59 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Cherchons pour notre part quels ouvrages la main peut convenablement améliorer ; et commençons par les ouvrages publics. Le plus important et le plus vaste d’entre eux est la ville ou plutôt, s’il nous plaît de le comprendre ainsi, la région de la ville. La région où l’architecte négligent aura fondé sa ville, souffrira sans doute de défauts qu'il faudra corriger.» (X,1 p. 469 = Krüger p. 625) Et l’on parle ensuite d’assèchements de marais et non de réaménagements ou de restructurations de villes. L’on est donc face à une sorte de paradoxe: les hommes sont, particulièrement dans l’Italie du XVe siècle, les citoyens d’une ville et c’est dans cette ville qu’ils se feront construire éventuellement un palais - souvent, d’ailleurs, en devant acheter des constructions déjà existantes et non en partant d’un terrain vide. Or on ne va pas parler de réaménagement de la ville pour en corriger d’éventuels défauts (la Renaissance hérite fatalement de la cité médiévale), on va penser la fondation d’une ville à partir de rien. Autant dire que le propos n’est pas nécessairement pertinent au moment où Alberti rédige son traité (il le sera plus tard lorsque l’on recommencera à fonder des villes, en particulier dans le Nouveau Monde). Construire une ville, ce n’est pas comme construire un palais. On a plutôt le sentiment qu’Alberti parle aussi de la ville, d’une part, parce qu’il s’agit, au moins depuis Aristote et sa Politique, d’une sorte de «passage obligé» pour un théoricien, et, d’autre part, parce que, s’il devait parler de la restructuration d’une ville existante, il ne pourrait parler que de cas particuliers, sans pouvoir atteindre une forme d’intemporalité, de généralité abstraite. En matière de restructuration, il n’existe que des cas spécifiques, même si l’on a déjà vu qu’Alberti cherche en général à éviter les destructions (l’ancienneté même des édifices leur conférant une dignité supérieure). Même en ce qui concerne une ville construite à partir de rien, Alberti ne donne que peu d’indications génériques. La ville aux murailles formant un rond parfait est certes celle qui possède le meilleur rapport entre taille de l’espace occupé et longueur des murs, mais il s’agit d’une simple remarque de géométrie; plus loin, Alberti précise: Aussi n’existe-t-il pas pour enceindre les villes une seule et même règle valable en tous lieux. (...) Nous avons déjà dit que la ville dotée de la plus grande capacité sera circulaire. (...) Nous viserons cependant à profiter des opportunités que nous offre la place elle-même, comme nous le remarquons chez les Anciens qui tiraient parti des avantages et des contraintes des lieux.» (IV,3 p. 197, 199, 200 = Krüger p. 292-297) S’adapter, toujours s’adapter; ne jamais arriver avec des solutions préétablies; face à un problème à résoudre, se poser les bonnes questions. Pour le reste, la ville doit se situer au milieu de son territoire; elle doit pouvoir bénéficier de tout ce dont elle a besoin (c’est le vieux rêve autarcique et conservateur d’origine pythagoricienne): il convient d'établir la cité de façon que, dans la mesure où la raison et la condition des choses humaines le permettent, son propre territoire lui suffise sans qu'elle ait besoin de rien chercher ailleurs. (...) Par conséquent, voici ma règle : quelle que soit la région où tu l’implantes, tu dois faire en sorte que la ville profite de tous ces avantages sans en subir aucun inconvénient (IV,2, p. 191-192 = Krüger p. 286) On note que ce type d’observation est dans la nature de ce type de traité. Dire que la ville qu’on va créer doit avoir le plus d’avantages et le moins d’inconvénients possibles n’est pas d’une grande originalité, ou plutôt c’est justement pour atteindre ce but que le texte est écrit. C’est la nature même d’un traité qui l’implique. 60 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP En revanche, il est peut-être un aspect du traité qui peut donner l’impression que la ville qu’Alberti décrit possède des qualités qui ne sont pas nécessairement communes. Comme on le sait à partir de ce qu’Alberti dit lui-même du plan de son ouvrage mais aussi des analyses proposées par Françoise Choay dans La Règle et le Modèle, le traité étudie les mêmes questions sous l’angle de la nécessité, puis de l’utilité et enfin du plaisir. Or, cette troisième dimension n’était pas toujours présente chez d’autres penseurs de la ville. Alberti en vient ainsi à préciser que: la ville doit être conçue non seulement pour servir les besoins et les nécessités des habitations, mais aussi pour offrir, à l'écart des affaires publiques, des espaces et des bâtiments agréables qui contribuent à l’ornement et aux délices, des places, des champs de courses, des jardins, des promenades, des piscines, etc.» (IV,3 p. 197 = Krüger p. 293 - toutes choses que l’on retrouve analysées dans le Livre VIII). C’est sans doute sur ce point que l’on s’approche le plus de ce que pourrait être la «ville de la Renaissance»: une ville possédant en son sein des espaces de plaisir. Alberti insiste d’ailleurs au Livre VIII sur l’absence de salles de spectacle et spécialement de théâtres dans les villes de son époque (ce qui montre bien que sa référence constante au modèle antique ne l’empêche en rien de proposer des considérations valables pour l’avenir, comme le montrera la suite de l’histoire de la ville européenne). La place accordée par le traité albertien au paysage va dans le même sens; plus d’une fois, l’auteur insiste sur le plaisir que procure au marcheur la beauté des campagnes environnantes. Si ces idées permettent de mesurer le degré de clairvoyance d’Alberti, qui trace des perspectives qui entreront progressivement dans la manière normale de penser la ville, certains passages du début du Livre V frappent par leur réalisme, voire leur spregiudicatezza, leur absence de scrupules. On connaît les pages sur la distinction entre ville du roi, accepté par tous, et ville du «tyran», qui impose son pouvoir à une population peu encline à se soumettre et doit donc se prémunir contre ses propres concitoyens en installant une citadelle au cœur même de la cité. Certes, on a pu judicieusement rapprocher ces pages de celles du Prince (De principatibus) de Machiavel, et y voir la préfiguration d’une «autonomisation» du domaine politique, qui ne dépendrait plus de la morale, mais elle n’en reste pas moins une étrangeté à l’intérieur de l’œuvre albertienne. S’agit-il d’une manière de permettre à tout un chacun de pouvoir lire dans le plan d’une ville si l’on est face à la ville d’un roi ou face à la ville d’un tyran? Comme on l’a déjà dit, Alberti avait travaillé pour Sigismondo Malatesta, le tyran de Rimini, mais est-il en général possible d’adresser des conseils à un tyran en lui disant explicitement qu’il est un «tyran»? Dès lors que l’on voit le texte comme une anomalie, il est bien sûr possible d’imaginer des solutions: dans une première version du texte, le mot «tyran» n’apparaît pas et ce n’est que plus tard qu’Alberti introduit le mot afin qu’on ne se méprenne pas sur le sens de ce qu’il dit, etc. Au fond, en l’absence de pièces à conviction, ce passage garde tout son mystère. Il est cependant un autre passage, toujours au début du Livre V, qui a pu frapper lui aussi par son réalisme amoral: On divise très commodément la ville au moyen d'un mur intérieur que je juge bon d'élever non en travers de l’aire comme un diamètre, mais à la manière d'un cercle contenu dans un autre cercle : en effet, les plus riches, qui aiment avoir de vastes espaces, accepteront facilement d'être exclus de la première enceinte, et abandonneront volontiers le marché et le centre de la ville, avec ses boutiques et ses ateliers, aux besogneux qui gravitent autour 61 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos du forum. Dans ces conditions, la tourbe infâme des rôtisseurs, des bouchers, des cuisiniers, etc. dont parle le Gnathon de Térence y menacera moins la sécurité et engendrera moins de suspicion que si les principaux citoyens ne s'en trouvaient exclus. (V,1 p. 223 = Krüger p. 319) Construire purement et simplement un mur à l’intérieur de la ville pour séparer le peuple des «principaux citoyens» paraît peut-être d’un cynisme outrancier, mais on notera que cette proposition reste strictement dans le cadre de la «cité du tyran»: le tyran doit séparer les citoyens les uns des autres afin de contrôler plus facilement sa ville; sa muraille intérieure sera plus aisément acceptée par les citoyens les plus riches si ces derniers sont placés à l’extérieur de l’enceinte centrale - voilà tout. Penser qu’Alberti prescrivait d’isoler à ce point les groupes sociaux, voire de confiner le peuple (nécessairement dangereux) derrière des murailles serait un contresens. En revanche, il est clairement question de quartiers possédant des fonctions différentes, même si l’on notera que sur ce point aussi, la pensée albertienne sait faire preuve de souplesse, car s’il est question de zones diversifiées, on admet aussi, en fin de raisonnement, qu’une certaine interpénétration est utile: La présence de divers ateliers d'artisans aux endroits appropriés des différentes rues et des différents quartiers contribuera grandement à l'agrément de la ville : au forum, les changeurs, les peintres et les orfèvres ; juste derrière, les boutiques d’épices, les échoppes de tailleurs et enfin tous les métiers jugés honnêtes ; mais la puanteur et l'infection des métiers infâmes, en particulier l'ordure des tanneries, seront reléguées aux confins de la ville (...). Les uns aimeraient sans doute que les nobles jouissent d'un voisinage débarrassé et exempt de toute la crasse du menu peuple. Les autres préféreraient que tous les quartiers de la ville sans exception soient équipés de façon à offrir partout ce que réclame l’usage, et c'est pourquoi ils ne refuseraient pas de voir des boutiques de rapport associées aux demeures des grands. Mais c’en est assez sur ce point. A l'évidence l’utilité veut une chose, la dignité une autre. (VII,1 p. 321 = Krüger p. 432) En réalité - et c’est le point auquel il faut aboutir -, la pensée albertienne de la ville est caractérisée par l’interrogation. Ce qu’il faut faire, c’est se poser des questions. Dans de très nombreux cas, Alberti donne des réponses floues qui n’aident véritablement à régler des questions qu’en alimentant la réflexion lorsque l’on est confronté à des cas concrets. Cette solution est-elle conforme à la dignité? Puis-je faire mieux en ce qui concerne le nécessaire, l’utile, l’agréable? Etc. Il propose ainsi un programme théorique assez souple pour s’adapter à la réalité et infléchir progressivement les manières de faire. Le simple fait de s’interroger sur la question de l’«ornement» des villes lui permet d’énoncer un résultat qui s’apparente en fait à un programme: Mais le principal ornement des villes résidera dans le site, le tracé, la configuration et la position des rues, du forum et de chacun des édifices, tels que tous soient correctement aménagés et distribués selon l’usage, la dignité et la commodité de chacun. En effet, sans ordre, plus rien n'apparaîtra commode, agréable ou digne. (VII,1 p. 320 = Krüger p. 430) Rien de ce qui est dit n’est concret, mais le mot essentiel est dit: l’ordre. La ville selon les vœux d’Alberti n’est pas faite nécessairement d’avenues rectilignes et de maisons dans le style moderne ; en revanche, il obéit à un ordre, c’est-à-dire à une réflexion. On a vu que les positions politiques d’Alberti sont fondamentalement conservatrice, mais l’ordre n’empêche pas le progrès si ce progrès est ordonné, c’est-à-dire conforme à la nature et à la raison. 62 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Sobre a Cidade Ideal de Leon Battista Alberti aos olhos de um Humanista chamado Michel Paoli Por Fellipe de Andrade Abreu e Lima O texto ora traduzido para o português foi escrito pelo ilustre professor Michel Paoli, um vocacionado para os estudos albertianos. Conheci Michel Paoli em Paris em 2011, através da indicação do emérito professor da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Carlos Antônio Leite Brandão: provavelmente o maior especialista sobre a obra de Leon Battista Alberti no Brasil. Essa indicação frutificou em uma amizade e em visitas mútuas, que têm como causa principal o acesso aos leitores de língua portuguesa a textos produzidos por este letrado escritor francês. Não à toa cultivo essa amizade, pois os textos do Paoli me esclarecem as dúvidas sobre os temas aos quais alude. Esse texto que apresento e traduzo para esse catálogo – A Cidade (ideal?) de Alberti – foi escrito especialmente para essa edição, e é a luz que parece faltar aos estudos sobre o tema em questão: seria Alberti um pensador da cidade ideal ou um prático que desejava transformar o mundo em plena realidade, sem dúvida imperfeita? Seria uma cidade ideal ou um ideal de cidade? O autor faz uma longa trajetória com precisão metodológica; aliás, esse texto possui duas qualidades impressionantes, uma metodológica e outra histórica. Ambas se entrelaçam e tecem uma teia que, ao contrário do que poderia parecer, esclarece a imagem sobre a temática em questão. O propósito maior da reunião desses textos é a tentativa de difundi-los considerando a impossibilidade de termos acesso a eles na maioria das bibliotecas, mesmo nas melhores universidades no Brasil, e ainda com a difusão dos trabalhos científicos hoje em dia nas redes digitais. Mas esse texto apresenta uma luz especial, pois abala o rumo que as pesquisas sobre o autor renascentista tomavam. A maioria dos estudos sobre Alberti seguiam as diretrizes estabelecidas por Franco Borsi, Carroll W. Westfall e Rudolph Wittkower, um depois do outro. Como bem evidencia Paoli no texto a seguir, apenas após os colóquios do sexto centenário do nascimento de Alberti as pesquisas evoluíram em termos de novas fontes e estudos filológicos. Mas qual luz é essa? Bem, o autor conclui que não há verdades absolutas sobre a obra de um autor, em questão o humanista Leon Battista. Se a microhistória veio abalar as bases das ‘verdades’ da história até então, desde as contribuições da ‘École dês Annales’; as releituras e novas metodologias clarearam o mundo para aquilo que se poderia chamar de ‘fim da história’. Mas parece que a nova verdade é não haver verdades, e então nos aproximamos ao oriente e sua filosofia, quando o que importa não é o fim, mas o trajeto. É nesse sentido que parece surgir uma verdade nova, uma história nova: a da busca, a da pesquisa. Contudo, apesar do exposto e das múltiplas edições críticas, dos ensaios e suas tentativas e dos textos e tratados de Alberti e de outros mais sobre o autor e sua obra, alguns pontos continuam opacos, obscuros; e possivelmente continuarão sempre assim, pois as certezas são improváveis no mundo do humanismo. Desta forma, Paoli inicia o texto fazendo uma análise da vida de Alberti, considerando sua condição social, familiar, cultural. Relaciona a tendência de se associar as elevadas concepções intelectuais desde o século XIX a Leon Battista Alberti ou às ideias dele, originárias ou relacionadas a ele. Oferece uma relação direta de que seria óbvio relacionar a concepção de cidades ideais a homens ideais, daí o surgimento do nome de Leon Battista Alberti ser renascido, também por influência de Jacob Burckhardt em seu clássico ‘A Cultura do Renascimento na Itália’. 63 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Mas Michel Paoli faz uma abordagem metodologicamente atual quando tenta responder a pergunta sobre a cidade ideal ou o ideal de cidade de Alberti. Ele faz uma leitura estruturalista do autor em diálogo crítico, dialético e hermenêutico com suas obras e seus contextos – social, temporal, cultural, etc. Nesse sentido, as possíveis respostas óbvias quando tomadas dentro de contextos específicos, tomam novos rumos quando apresentam novas facetas. Ad exemplum: pontos do ‘Intercoenales’, do ‘De pictura’, do ‘Obtrectatores’ e do ‘De re aedificatoria’, sugerem respostas diversas quando lidos separadamente e conjuntamente. No primeiro caso as respostas parecem ser mais óbvias, mas no segundo se apresentam com mais caráter e dignidade, talvez mesmo com mais respeito e harmonia. Na segunda parte do texto Paoli faz a discussão sobre as relações históricamente feitas entre as ‘cidades ideais’ e a figura de Leon Battista Alberti, chegando às contribuições feitas por Manfredo Tafuri em ‘Ricerca del Rinascimento. Principi, Città, Architetti’ (Torino: Einaudi, 1992). O autor revela, com sua perspicácia metodológica, as ‘denúncias’ feitas por Alberti no ‘Momus’ e a incapacidade do Papa Nicolau V em perceber os desvios tomados para o objetivo maior que seria a ‘restauratio’ de Roma. Júpiter não ouviu os conselhos que lhe foram dados e parece que nem mesmo o sucessor de Nicolau: Pio II. De qualquer modo, Pienza foi rebatizada e a reforma parcialmente feita. Assim, Paoli tece uma teia de considerações, valendo-se de importantes fontes como o texto de Landino, ‘Disputationes camaldulenses’, para discutir a relação entre projetos reais e projetos ideais de Alberti. O objetivo é sempre um: responder ao questionamento inicial (Alberti propõe um ideal de cidade ou uma cidade ideal?) A terceira e última parte do texto é quando o autor faz mais uso do tratado de arquitetura de Alberti. A questão inicial é recolocada e posta em confronto com o texto. Citando Platão, Alberti diz: [Eu também gostaria de imitar a resposta de Platão quando lhe perguntaram sobre onde poderia encontrar a famosa cidade que ele havia retratado: “Não existe, disse ele, mas eu estou procurando determinar a melhor cidade para o devir; quanto a você, pense bem no que você acha que deve ser preferido por todos os outros e que seré de opinião mais aproximada por todos”]. Mas no fim das contas, tomando as concepções de cidades reais ou de tiranos, somando as discussões de Maquiavel, em ‘O Príncipe’, Paoli conclui que ‘Nada disso que foi dito é concreto’, mas que Alberti procurava sim uma ‘ordem’. Aliás, a cidade ideal é aquela que é materialmente real, mas idealmente imaterial. A ‘ordem’ é a ‘reflexão’ contínua, a trajetória. A cidade parece ser na visão de Paoli uma constante releitura, uma entidade viva e mutável, mas isso é o que parece ser o entendimento mesmo de Alberti. Se real ou ideal, se material ou imaterial, não importa, pois a cidade é tudo isso e muito mais; é tudo que possa ser pensado pelo homem em sua história viva, com múltiplas metáforas e releituras: infinitas possibilidades. Não há muito mais a falar sobre o texto humildemente traduzido. Apenas devemos ressaltar que disponibilizamos o texto original neste mesmo catálogo para que os leitores mais dotados em língua francesa pudessem desfrutar de um exame mais preciso; minhas faculdades nesta nobre língua são singelas. Peço, portanto desculpa pelos erros possíveis, que já imagino ter cometido; mas peço que compreendam que foi uma atitude de um ansioso, que desejava dividir uma felicidade com todos, disponibilizando um texto que merece ser lido pelos amantes do tema. 64 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP A Cidade (ideal ?) de Alberti – por Michel Paoli 1. Homem ideal propõe a cidade ideal, boa relação qualidade-preço. Porquê a ideia de “cidade ideal” é freqüentemente associada ao nome de Alberti, e esta é por ele justificada? Quando pensamos em uma cidade ideal do Renascimento pensamos em projetos, eventualmente em realizações; as imagens nos surgem. No entanto, não é raro encontrar o nome de Alberti envolvido nesses projetos ou imagens que encontramos ou numa forma de realização. Quanto ao século XV, ao menos três ideias vêm imediatamente à mente: os ambiciosos projetos de reestruturação da cidade de Roma sob o pontificado de Nicolau V; o desenvolvimento “urbano” da aldeia natal do Papa Pio II, Pienza; os três painéis das chamadas “cidades ideais” de Urbino, Berlim e Baltimore (e especialmente o primeiro dos três primeiros). 65 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Em todos estes casos, mesmo se houver apenas uma documentação muito limitada ou inexistente, o nome de Alberti parece emergir com evidência, pois é comum ver o seu nome mencionado como se fosse um tipo oculto de empresário que nutriria toda a Itália com suas idéias. Não seria difícil mostrar que isso também é válido para toda a sua vida e suas mais conhecidas intervenções. Quando propomos, por exemplo, reconhecer Alberti em um afresco pintado por Masaccio em 1427, no meio de artistas de renome como Brunelleschi, Donatello e o próprio Masaccio, nós fazemos dele um prodígio de 23 anos que faria sucumbir todo o mundo intelectual sob o seu charme. Os conhecimentos sobre a vida de Alberti, seu meio familiar, profissional e de amigos, evoluíram muito nos últimos anos, especialmente por ocasião dos quinze colóquios que marcaram o ano do sexto centenário, sendo mais fácil agora nos perguntarmos sobre a precisão desta representação. Parece que nós somos forçados a admitir que, com 23 anos, Alberti era quase nada, ou não muita coisa, e o pouco que ele tinha escrito não apresentava condição nem autorização para distingui-lo radicalmente de seus companheiros de estudos. É muito pouco provável (e, em outros aspectos, totalmente impossível) que Alberti fosse reconhecido pelo ambiente da arte florentina como uma figura de liderança em 1427. O principal problema que enfrentamos é que esta imagem de um Alberti que forneceria ideias para artistas, humanistas e os príncipes de seu tempo persiste durante toda a sua vida. Há décadas, sempre que uma novidade promissora é identificada pela pesquisa, esta é atribuída a algo maior que está ligado às ideias de Alberti. De alguma forma, quando não se sabia explicar o surgimento de algo novo, rapidamente se atribuía à uma única fonte, uma espécie de encarnação perfeita da Renascença, um herói para que pudesse sozinho explicar tudo. Mas esta imagem, em parte fabricada por Alberti-se em sua autobiografia, aperfeiçoada durante as épocas do neoclássico e romantismo por algumas informações dispersas, foi definitivamente popularizada em larga escala por Jacob Burckhardt em sua ‘civilização do Renascimento na Itália’. A partir desse momento, Alberti se torna o homem universal, o homem do Renascimento; ele é a encarnação perfeita das virtudes de seu tempo. Portanto, o que poderia ser mais natural do que ver o homem ideal inventar a cidade ideal? É importante compreender que, além dos dados disponíveis para defender estas atribuições, o fato de atribuir a Alberti a marca dos trabalhos sobre a Roma de Nicolau V (em grande parte não realizada), da reurbanização de 66 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Pienza ou do ‘cidade ideal’ urbineta nasce por um motivo: Alberti parece ser a chave universal para abrir todas as portas - uma chave, sem dúvida, muito cômoda. De fato, uma leitura cuidadosa das obras escritas, que contêm muitas indicações biográficas, a descoberta de novos documentos, a aplicação de novas metodologias (começando pela releitura de toda a tradição crítica), permite-nos dizer que a vida Alberti foi principalmente uma luta longa e difícil, sendo um filho ilegítimo que nasceu enquanto sua família estava no exílio, e que rapidamente se encontrava órfão e foi rejeitado por uma parte de sua família na sua terra natal, Florença, e também por seu meio intelectual, dos humanistas, e provavelmente por artistas florentinos de seu tempo, tendo que lutar por reconhecimento – algo que viria ocorrer no final de sua vida, a partir de década de 1460. Que não haja dúvidas: Alberti tinha capacidades enormes, fora do normal, e a parte de sua obra que chegou até nós com certeza é mais do que suficiente para provar isso. Mas isso não o impediu de ter inimigos, inclusive dentro de sua própria família. Poderíamos mesmo dizer que ele tinha inimigos tão capazes quanto ele, mesmo no auge de suas habilidades, que eram grandes. Isso é provavelmente porque, em primeiro lugar, era desprezado por alguns de seus contemporâneos que consideravam que ele poderia aumentar suas capacidades chegando a níveis nunca alcançados. Há muito tempo que conhecemos Alberti como um amigo de Brunelleschi. O único elemento que temos para afirmar isso é a dedicatória do De pictura. No entanto, estudos filológicos (conduzidos principalmente por Lucia Bertolini) mostraram que existe apenas um manuscrito deste texto e que este se encontra num códice de trabalho de propriedade do próprio Alberti. Se Leon Battista enviou esta carta ao seu ilustre amigo ancião é quase certo que este não respondeu e não fez nada, provavelmente porque ele não apreciou o presente (é verdade que o jovem havia dito ser o primeiro a ter realizado aquilo que o arquiteto ancião havia descoberto duas décadas antes, isto é, a perspectiva). Lembremo-nos que no De re aedificatoria, que a elaboração começa na década de 1440, o trabalho do primeiro arquiteto renascentista não é sequer mencionado alusivamente: ela simplesmente não existe. Se Alberti fosse mesmo um amigo de Brunelleschi, teria feito isso mesmo? Não se pode ignorar que Alberti dedicou todas as suas energias para a arquitetura especificamente para responder ao desafio de Brunelleschi. Em suas obras escritas desde os anos de 1430 e 1440 (pensamos especialmente no Intercoenales) Alberti não para de fazer alusão a seus obtrectatores, seus detratores, aqueles que denegriram seu trabalho, seus críticos, e contra os quais ele deveria se defender, em primeiro lugar moralmente. Houve certamente ao seu redor, as pessoas que ajudaram o jovem de talento tão promissor (imaginamos o seu primo distante Francesco d’Altobianco degli Alberti ou prelado Alberto degli Alberti, e, de fato, Alberti fala pouco sobre eles), mas imaginar que ele fosse universalmente bem recebido simplesmente se tornou insustentável. O reconhecimento que ele acabará por obter é uma conquista verdadeira, não foi um dom do qual ele se serviu como se fosse uma bandeja em sua mesa desde sua juventude. E este reconhecimento só viria mais tarde, nos últimos dez anos de sua vida (1462-1472). 67 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 2. A participação de Alberti nas cidades ideais. Quando o avanço das pesquisas e estudos albertianos nos privou do cômodo expediente do homem universal, reconhecido por todos como uma autoridade, capaz de sintetizar e divulgar todas as novidades da sua época, obrigando-nos a rever algumas evidências da quais se imaginava ter. Se começarmos pelos trabalhos romanos da época de Nicolau V (principalmente os trabalhos de projetos essenciais que culminaram em raras realizações), nós teremos à mão o extremamente pobre e questionável depoimento de Vasari. A ele nós acrescentamos o fato de que o futuro Papa Parentucelli estava em Bolonha, no momento em que Leon Battista foi para lá cursar direito. A partir de então, para tomar o póstumo testemunho de Manetti sobre os ambiciosos projetos urbanos do Papa (no De vita ac gestis Nicolai quinti summi pontificis) Alberti se torna o ideólogo deste programa, totalmente desproporcional se considerarmos o meios disponíveis ao Papa, algo simplesmente que não faz sentido (especialmente se o único argumento que pode ser relatado é que: só Alberti, no seu tempo, poderia projetar um programa desse tipo). É, portanto, isso que fez Carroll W. Westfall em seu célebre ‘In this most perfect paradise’ de 1974, cujas idéias foram repetidas por Franco Borsi Alberti em sua monografia sobre Alberti. Algum tempo depois, esta ideia foi fortemente combatida, com argumentos de oposição de grande autoridade feitos por Manfredo Tafuri (especialmente no seu Ricerca del Rinascimento. Principi, Città, Architetti. Torino: Einaudi, 1992). Desde então, toda a pesquisa parece confirmar a análise de Tafuri: seja de modo sério (no De re aedificatoria) ou de modo cômico (no Momus, escritos ao mesmo tempo, isto é, durante o pontificado de Nicolau V), Alberti não cessa de castigar a ‘smania di costruire’, a libido aedificandi; ele critica os arquitetos despreparados que ajudam a destruir um edifício ao invés de construílo, e isso mesmo sem saber se ele teria os meios intelectual e financeiro para conduzir seus projetos à realidade. Aqui, claramente, o teórico de arquitetura visa Bernardo Rossellino, que começou por demolir tudo o que estava perto da cabeceira da antiga basílica de São Pedro, (incluindo os edifícios antigos) antes de iniciar a construção de fundações gigantescas e desproporcionais. Nós sabemos como esta história termina: após a tomada de Constantinopla pelos turcos, o Papa caiu em depressão e todo o trabalho é interrompido. Depois disso, Alberti nunca mais parou de criticar os programas urbanísticos e arquitetônicos megalomaníacos: temos que admitir quando não somos capazes de completar algo e medir as ambições de acordo com nossas capacidades financeiras e técnicas, e acima de tudo, devemos respeitar os edifícios existentes. Obviamente, o grande canteiro abandonado por Nicolau V era a antítese dessa mentalidade. É possível Alberti tenha dado alguns conselhos, mas para dar um exemplo, Vasari diz em 1568 que os trabalhos romanos de Rossellino estavam sob a direção de Alberti, enquanto que Mattia Palmieri, que conhecia pessoalmente humanista indica um século antes que Leon Battista foi consultado sobre a construção do novo abside da antiga São Pedro e recomenda a paralisação dos trabalho. Este é o mesmo Palmieri que afirmou que Alberti, em 1452, ‘presenteou o Papa’ com seu tratado de arquitetura. No entanto, no Momus, Alberti diz que os heróis de sua história 68 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP dão a Júpiter um volume contendo nobres conselhos que podem ser úteis; Júpiter nem sequer abriu o volume, e mais tarde, depois de experimentar muitas desventuras, incluindo na arquitetura (seu arco triunfal desabou), o deus dos deuses abre o livro e entende que seria poupado de muitos problemas se ele tivesse lido o livro antes. Por quê falar sobre isso? Porque temos sugerido, talvez com razão, que Alberti estava se referindo ao De re aedificatoria, que ele tinha presentado ao Papa e que este último não tinha sequer se preocupado em entendê-lo; se o tivesse feito, seu pontificado talvez não tivesse acabado tão miseravelmente. Sobre o problema de Pienza, os questionamentos são comparáveis mesmo se falarmos do sucessor de Nicolau V, Pio II (outro Papa humanista). Uma vez mais Alberti trabalha, supostamente, ao lado de Rossellino para construir uma cópia do Palazzo Rucellai e reestruturar todo o burgo de Corsignano, rebatizado de Pienza em homenagem ao seu filho famoso. Mas quais provas temos? Nenhuma. Quais argumentos podemos avançar? É certo que o Palazzo Piccolomini foi construído por Rossellino (documentos provam isso) e sua semelhança com o Palazzo Rucellai é inegável. No entanto, temos uma carta do Marquês de Mântua, Ludovico Gonzaga, escrita para Alberti, dizendo que o Papa deseja ler o De Architectura de Vitrúvio; ele pede para lhe emprestar sua cópia pessoa do antigo tratado. Que circuito estranho! Alberti é um funcionário do Papa e sabemos que trabalhava na administração papal para viagem a Mântua (encontramos documentos assinados por sua mão); então por quê o Papa solicita ao Marquês para pedir esse códice a Alberti? Nós não sabemos. Sabemos, no entanto, que Alberti trabalhou para Sigismondo Malatesta na construção da fachada do Tempio Malatestiano, ou o tirano de Rimini era um inimigo pessoal de Pio II; ou o Papa manteve uma certa distância do humanista por causa disso? Observamos ainda que o Palazzo Piccolomini era uma interpretação do Palazzo Rucellai feita sem a compreensão funcional do palácio original. Talvez Rossellino não dispusesse de um desenho ou não estivesse realmente habilitado para entender a lógica sutil. De qualquer forma, um envolvimento direto de Alberti nos trabalhos de Pienza parece bastante improvável. Pio II também cita em suas obras o nome desse seu funcionário, mas ele fala dele como um conhecedor de antiguidades, não como um arquiteto. O terceiro caso que devemos mencionar rapidamente, como já dissemos, é sobre o painel da ‘Cidade Ideal’, agora parte das coleções públicas de Urbino (Galleria Nazionale delle Marche). Não sabemos nada sobre essa tábua nem sobre sua origem. Examinado as várias técnicas podemos dizer que, sob a superfície, há um trabalho muito longo e meticuloso de preparação, quase todas as linhas dos edifícios foram desenhadas (o que seria uma maneira de fazer extremamente raro), mas isso não nos diz nada sobre o autor do trabalho. Que argumentos poderíamos usar para fazer deste um trabalho ‘albertiano’, ou pelo menos sob sua inspiração? Podemos notar que o segundo palácio à esquerda se assemelha ao Palazzo Rucellai e que a igreja no fundo à direita da rotunda, parece com a de Santa Maria Novella, mas como qualquer ‘semelhança’, são todas questionáveis. Observamos também que Vasari diz que Alberti havia desenhado uma bela vista de Veneza (‘una Vinegia in prospettiva’), com outros personagens além dele; uma vista de uma cidade ideal teria pessoas? Nós insistimos nas relações entre Alberti e Urbino, e especialmente com Federico da Montefeltro. 69 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Apesar de termos nos detido muito tempo neste ponto, o testemunho de Landino, em Disputationes camaldulenses, diz que Alberti tinha o hábito de passar o verão em Urbino, mas a fidelidade do diálogo de Landino ao pensamento albertiano foi totalmente contestado e esse depoimento não parece ter qualquer valor. Sabemos, no entanto, depois de muito tempo que numa carta tardia, o Duque fala de sua velha amizade com Alberti, e recentemente descobriuse um documento que comprova que Alberti frequentava Urbino. Admitamos, porém, que isso nada prova quanto à autoria da ‘Cidade Ideal’, que atribuímos por vezes a Laurana, outras vezes a Piero della Francesca, outras mais a outros autores. Em suma, cidade, perspectiva, Quattrocento, esses são argumentos muito simples, até mesmo fáceis, o nos conduz ao nome de Alberti. 3. A cidade de papel Permanece a questão do que disse Alberti em seu tratado de arquitetura sobre o problema da cidade. Para começar, a cidade que ele descreve é “ideal”? É o que ele parece dizer quando evoca ‘A República’ de Platão: Eu também gostaria de imitar a resposta de Platão quando lhe perguntaram sobre onde poderia encontrar a famosa cidade que ele havia retratado: “Não existe, disse ele, mas eu estou procurando determinar a melhor cidade para o devir; quanto a você, pense bem no que você acha que deve ser preferido por todos os outros e que seré de opinião mais aproximada por todos”. Da mesma forma, nós descreveremos, como se estivéssemos apresentando um modelo, a cidade que os homens mais instruídos, do modo mais adequado para todas as coisas nos tempos e necessidades das coisas justas, considerem conveniente no mais ínfimo pormenor. Nós apoiaremos o julgamento de Sócrates, para quem o melhor é o que não pode ser mudado que não para pior. (IV,2 p. 191 = Krüger 286-287) Que Alberti parte de uma ideia é um fato certo, e dificilmente poderia ser de outra forma quando falamos de “cidades de papel”. Entendemos, no entanto, de modo suficientemente rápido que ele não impõe sua concepção das coisas à realidade que ele fala (desde esta frase, que é também uma questão de se pontuar “ao tempo e à necessidade das coisas” – “au temps et à la nécessité des choses”). Para tomarmos um rápido exemplo, logo que Alberti propõe fazer uma tipologia de edifícios, ele indica que existem diferentes categorias destes, porque os homens são diferentes entre eles, mas depois de citar as opiniões dos ‘Antigos’ sobre esta questão (isto é, vários exemplos de divisão de classes na sociedade), ele tem seu próprio critério de distinção: “Não diferenciamos em nada um do homem do outro, e a única coisa que separa radicalmente o homem dos animais é o fato de possuir a razão e o conhecimento das artes liberais”. (IV,1 p. 187 = Krüger p. 282) Ele possuía uma opinião comum entre os homens de saber, o que significa que eles consideravam que só eles mesmos mereciam manter o poder, e isso em prol do interesse geral (pois estamos ainda está em pleno contexto platônico). No entanto, o propósito de Alberti não era o de descrever um mundo ideal, no qual apenas os homens mais sábios, os mais justos e os mais inteligentes se manteriam no poder, ele é imediatamente levado a se juntar ao primeiro grupo dos homens mais ricos. Ele funda assim a categoria de “primeiro cidadão”, que é capital para sua análise e, portanto, seu tratado apresenta estes edifícios particulares (nem públicos nem privados coletivos) sobre o modelo de quais serão construídos para os cidadãos mais modestos. Na verdade, de quem nós falamos aqui? Do palácio privado. E quem é capaz de 70 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP construir um palácio privado? Na realidade, não são os homens mais sábios, os mais avisados, os mais instruídos; são os homens mais ricos. Não é a ‘razão’ que permite, com os fatos, distinguir as classes entre os homens: é dinheiro - e em Florença; não é sábio Alberti que construiu um palácio, é um rico Rucellai. É essencial compreender que Alberti tenta escrever um tratado que seja capaz de substituir o de Vitrúvio e, portanto, que seja clássico, isto é, fundamentado não em um tempo e num lugar, mas na razão e na natureza (atemporal) das coisas – o que o torna praticamente atemporal. A partir de sua concepção de realidade, mas incorporando neste o que ele conhece do mundo, com os seus pontos fortes e fracos, o autor do De re aedificatoria abandona uma posição platônica (que nunca foi realmente a sua própria) e consegue evitar as armadilhas do idealismo (que tende a esquecer o que é mundo) para descrever a realidade desencantada do aqui e agora (que rapidamente perde a sua relevância para tornar-se um documento sobre uma época). Claro que, para fazer isso, Alberti parte de sua própria situação, a de um intelectual que vive de forma ‘marginal’ em sua própria família, de banqueiros de sua cidade, e que ele descobre com a idade de 27 anos. Querendo ser útil a todos, desejando que as suas recomendações pudessem ser postas em prática, ele não pode se contentar em se referir à sua própria interpretação da realidade. Há outras obras nas quais podemos encontrar afirmações mais forçadas sobre quem merece deter o poder, e nós rapidamente podemos constatar que todos os grupos ao redor dele em sua vida real foram, num momento ou em outro, violentamente criticados, especialmente nos Intercoenales e no Momus: os ricos, os juízes, os políticos, os humanistas, os nobres, os pobres, sua própria família, as pessoas (é claro) absolutamente todos são julgados e rebaixados como indignos de deter o poder. Além disso, em sua última grande obra, De iciarchia, Alberti chega a um resultado lógico: se apresenta implicitamente como a única pessoa digna de exercer a autoridade dentro da família e, indiretamente, na cidade. Mas seu tratado sobre a arquitetura seria inaudível se ele se construísse como autor dessa visão das ciosas. Por isso, é necessário que ele se fundamente num tipo de realismo atemporal de natureza aristotélica: a natureza das coisas, e não uma idéia perfeita destas. No entanto, isto permite a inclusão de dados finamente analisados. Para dar um exemplo, as cidades maiores e mais importantes possuem certas necessidades de estradas e de ruas retas e majestosas que possam evidenciar o papel primordial desempenhado por essas cidades, mas para conjuntos menores, a estrada e as ruas curvas apresentam vantagens: Assim, não só ela (ou seja, a rua principal) será a mais longa e dará a impressão de que a cidade é mais extensa, mas também contribuirá grandemente para a sua graça, a comodidade de seus usuários, às circunstâncias e às necessidades do momento. Como será precioso descobri-la progressivamente, em cada um de seus passos, os aspectos dos novos edifícios, de ver as saídas e as fachadas de cada uma de suas casas alinhadas com o eixo central da vista, e de apreciar, sob estas condições, a sua imensidão, suas dimensões, enquanto que se a forma fosse outra seria inadequado e excessivo tornando a cidade insalubre! (IV, 5 p. 205 = Krüger p. 302303) Várias coisas são dignas de nota. Em primeiro lugar, é normal que um tratado de arquitetura que pretende ajudar o leitor a tomar boas decisões ou a fazer bons julgamentos, se esforce para dizer o que é bom e o que é ruim em matéria de construção. Então ninguém tem a ideia de dizer que Alberti descreveu o ‘edifício perfeito’; então por que pretenderíamos, quando ele fala 71 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos da cidade, afirmar que ele descreve a ‘cidade ideal’? Todo mundo em sua vida, visitando outras cidades que não são as suas, tem a chance de dizer que há em cada uma delas algumas vantagens e outras desvantagens; e a partir deste há um segundo ponto no qual é necessário insistir, que podemos nos perguntar como seria uma cidade com o máximo de benefícios, mas deveria ser uma cidade construída a partir do nada, uma nova cidade. Aqui também vemos que Alberti tenta se abstrair de seu século, meados do século XV na Itália, e deveria ser muito raro que procurassem criar novas cidades. Citamos a reestruturação de Roma, que não foi tão grande coisa, a de Pienza, de apenas pequena parte dela, a de Urbino, que permitiu objetivamente modernizar um pouco a cidade, mas apenas em torno do palácio de Federico, mas que não nos deiou nada. Curiosamente, no Livro X, dedicados à ‘A Restauração das Obras’, Alberti evoca a ideia de ‘corrigir’ a cidade, mas ele próprio, imediatamente, se corrige: Procuremos por nossa parte as obras que podem ser melhoradas; e comecemos pelas obras públicas. O mais importante e maior das coisas é a cidade em si, ou melhor, se quisermos compreendê-la como região da cidade. A região onde o arquiteto negligente teria fundado sua cidade, provavelmente sofrirá dos defeitos e devem ser corrigidos. (X, 1 p. 469 = Krüger p. 625) Mas então passa a falar de terraplanagem de pântanos e áreas molhadas e não de readequação ou reconstrução de cidades. Ficamos diante de uma espécie de paradoxo: os homens são, sobretudo na Itália do século XV, cidadãos da cidade e é nesta cidade que, eventualmente, deverá se construir um palácio – outras vezes, tendo de comprar edifícios existentes e remodelando, em vez de iniciar uma obra a partir de um lote vazio. Mas não vamos falar sobre reconstrução da cidade para corrigir quaisquer defeitos (o Renascimento inevitavelmente herda a cidade medieval), vamos pensar na fundação de uma cidade do nada. Embora ressaltando que o tema não é necessariamente relevante no momento em que Alberti escreve seu tratado (mas que será mais tarde, quando se começa a construir cidades, especialmente no Novo Mundo). Construir uma cidade não é como a construção de um palácio. Nós temos a sensação de que Alberti fala tanto de uma cidade, por um lado, porque ao menos desde Aristóteles e sua ‘Política’, passar sobre o tema é uma espécie de ‘obrigação’ para um teórico, e em segundo lugar, se deve falar sobre a reestruturação de uma cidade existente, e disso ele só poderia falar de casos específicos, sem poder alcançar modelos ou formas atemporais, de gênero abstrato. Em termos de reestruturação, há apenas casos específicos, mesmo que tenhamos visto que Alberti geralmente procura evitar a destruição (a própria antiguidade dos edifícios lhes confere uma dignidade superior). Mesmo com relação a uma cidade a ser construída a partir do nada, Alberti dá apenas algumas poucas indicações genéricas. A cidade deveria ser murada e formar um círculo perfeito e, certamente, é esta a melhor relação entre o tamanho do espaço ocupado e o comprimento dos muros, mas isso é uma geometria simples; mais adiante Alberti diz: Não há para cercar as cidades uma única e universal regra a ser aplicada em todos os lugares. (...) Nós já dissemos que a cidade dotada da maior capacidade será circular. (...) Vamos devemos procurar aproveitar as 72 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP oportunidades que nos são oferecidas pelo local, como observamos o que foi feito pelos antigos que aproveitaram tanto as vantagens quanto os limitações do lugar. (IV, 3 p. 197, 199, 200 = Krüger p. 292-297) Adaptar-se, sempre adaptar-se; nunca chegar com soluções preestabelecidas; em face de um problema para resolver, fazer as perguntas certas. Para o resto, a cidade se situar no meio de um território; e este deve dar todos os benefícios que eles precisam (este é o velho sonho autárquico e conservador de origem Pitagórica): ... convém estabelecer a cidade de modo que, na medida em que a razão e a condição das coisas humanos permitem, seu próprio território o suprindo sem que ela necessidade procurar mais nada em outro local. (...) Consequentemente, eis aqui minha regra: qualquer que seja a região para se fundar uma cidade, deves de tudo para que esta cidade garanta a todos os benefícios necessários, sem que sofram nenhum inconveniente (IV, 2 p. 191-192 = Krüger p. 286) Notamos que este tipo de observação é parte da natureza deste tipo de tratado. Dizer que a cidade deve ter o maior benefício e a menos inconveniência não é de grande originalidade, ou melhor, é precisamente com este objetivo que o texto é escrito. Esta é própria natureza implícita de um tratado. Ao contrário, este pode ser um aspecto do tratado que poderia dar a impressão de que a cidade descrita por Alberti possui qualidades que não são necessariamente comuns. Como sabemos a partir do que o próprio Alberti disse sobre o plano em sua obra, em análise feita por Françoise Choay em seu ‘A Regra e o Modelo’, examinando essas questões a partir da perspectiva da necessidade, da utilidade, e do prazer. No entanto, esta terceira dimensão não estava sempre presente em outros pensadores sobre a cidade. Alberti é, portanto, preciso quando diz que a cidade deve ser projetada não só para atender às necessidades dos habitantes, mas também deve oferecer, no que tange aos assuntos públicos, espaços e edifícios agradáveis que contribuam à ornamentação e ao prazer, e ainda praças, passeios, jardins, parques, piscinas, etc. (IV, 3 p.197 = Krüger p. 293 – todas as coisas que podem ser encontradas no Livro VIII). É provavelmente neste ponto que chegamos mais próximo do que poderia ser a ‘cidade do Renascimento’: uma cidade que possua em seu centro os espaços de deleite. Alberti insiste ainda em outra passagem do Livro VIII sobre a ausência de salas de espetáculos, especialmente para concertos e teatro, pontualmente nas cidades de seu tempo (o que mostra bem que constante referência ao modelo antigo não o impede de propor suas considerações aplicáveis para um futuro advir, como será mostrado mais tarde na história das cidades européias). A ênfase colocada pela tratado albertiano na paisagem vai na mesma direção; mais de uma vez, o autor insiste no deleite que procuramos quando buscamos a beleza nos caminhos de paisagens circundantes. Se essas ideias permitem medir o grau de clarividência de Alberti, que traça novas perspectivas que transformarão, progressivamente, o modo de se pensar a cidade, algumas passagens do início do Livro V são marcantes por seu realismo, vejam sua spregiudicatezza, sua falta de escrúpulos. Nós conhecemos as páginas sobre a distinção entre cidade real, aceita por todos, e a cidade do ‘tirano’ que impõe seu poder a uma população relutante em se submeter e que deve se proteger contra esses próprios concidadãos através da instalação de uma cidadela no coração da própria. Certamente, podemos trazer à tona essas páginas do Príncipe (De principatibus) de Maquiavel, e ver neste a prefiguração de uma autonominação do domínio 73 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos político, que já não dependeria da moral, mas que parece ser uma estranheza dentro da obra de Alberti. Seria uma maneira de permitir que todos pudessem ler sobre no plano de uma cidade se você estaria diante da face de uma cidade de um rei ou diante da cidade de um tirano? Como já mencionamos, Alberti trabalhou para Sigismondo Malatesta, o tirano de Rimini, mas seria possível enviar conselho a um tirano dizendo explicitamente que ele é um ‘tirano’? Quando vemos o texto como uma anomalia, é claro que é possível imaginarmos soluções: na primeira versão, a palavra ‘tirano’ não aparece, e é só mais tarde que Alberti introduziu esta palavra, para que não fosse mal interpretado sobre aquilo que havia dito, etc. No fundo, na ausência de evidência, esta passagem mantém-se em mistério. Existe outra passagem, ainda no início do Livro V, que pode demonstrar seu realismo amoral: Dividimos a cidade muito convenientemente através de um muro interior que considero deva ser criado não como um diâmetro, mas na forma de um círculo que deve estar contido dentro de outro círculo: assim, os mais ricos, que gostam de ter vastos espaços, estarão facilmente afastados do outro espaço, e abandonarão de bom grado o mercado e do centro da cidade, com suas lojas e oficinas, os necessitados que fiquem ao redor do fórum. Sob estas condições estará a turfa infame dos cozinheiros, açougueiros, etc, embora fale Gnathon de Térence ameaçar que estes irão gerar menos suspeita se não estivessem muito excluídos. (V,1 p. 223 = Krüger p. 319) Construir pura e simplesmente um muro dentro da cidade para separar o povo dos ‘principais cidadãos’pode parecer um cinismo revoltante, mas notemos que essa proposição permanece estritamente no âmbito da ‘cidade do tirano’: o tirano deve separar os cidadãos uns dos outros, a fim de controlar a cidade com mais facilidade; sua muralha interior será mais prontamente aceita pelos cidadãos mais ricos se eles estiverem localizados do lado de fora do círculo central – isto é tudo. Pensar que Alberti prescreve isolar neste ponto os grupos sociais, ou confinar as pessoas (necessariamente perigoso) atrás das muralhas seria um contrassenso. No entanto, é claro quando estabelece que deve haver quarteirões com funções diferentes, apesar de se verificar que também neste ponto, o pensamento Alberti parece ser flexível, uma vez que são áreas diferentes, mas admitimos num raciocínio final que uma interpenetração certo se faz útil: A presença de várias oficinas de artesãos em locais apropriados em diversas ruas e bairros contribuirá significativamente para a aprovação da cidade: no fórum, os trocadores, pintores e ourives; logo atrás deste estarão lojas de especiarias, alfaiatarias e, finalmente, todos os comércios considerados limpos, mas os comércios fétidos e infecciosos considerados infames, especialmente os curtumes e lixos serão relegados à periferia da cidade (...). Alguns, sem dúvida, gostarão das áreas nobres dos bairros livre de qualquer sujeira das pessoas comuns. Outros preferirão que todas as partes da cidade, sem exceção, estejam equipadas com tudo para oferecer o que possa ser de utilidade na cidade, e é por isso que eles não se recusam a ver lojas próximas às grandes casas. Mas é exatamente sobre este ponto. A evidente utilidade requer uma coisa, a dignidade da outra. (VII,1 p. 321 = Krüger p. 432) Na realidade – e este é o ponto que devemos considerar – o pensamento albertiana sobre a cidade é caracterizado pela interrogação. É preciso se fazer perguntas. Em muitos casos, Alberti dá respostas vagas que realmente não ajudam a resolver os problemas que alimentaram o pensamento quando se colocou os casos concretos. Esta solução é compatível com a dignidade? Posso fazer melhor no que diz respeito à necessidade, à utilidade, è agradabilidade? Etc. Ele propõe um programa teórico suficientemente flexível para se adaptar à realidade e influenciar gradualmente as maneiras de se fazer as coisas. O simples fato de se questionar 74 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP sobre a questão do ‘ornamento’ das cidades permite que ele enuncie um resultado que se assemelhe a um programa: Mas o ornamento principal das cidades reside no local, o traçado, a configuração e a posição das ruas, do fórum e dos edifícios, de tal forma que todos estejam bem localizados e distribuídos de acordo com o uso, a comodidade e a dignidade de todos. De fato, no fim, nada parecerá cômodo, agradável e digno. (VII,1 p. 320 = Krüger p. 430) Nada disso que foi dito é concreto, mas a palavra essencial a ser dita: ordem. A cidade de acordo com os desejos de Alberti não é necessariamente feita de avenidas retas e casas em estilo moderno; no entanto, ele obedece a uma ordem, ou seja, uma reflexão. Vimos que as posições políticas de Alberti são fundamentalmente conservadoras, mas a ordem não impede o progresso se este progresso for ordenado, isto é, de acordo com a natureza e a razão. 75 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 76 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Don García de Silva y Figueroa y la Percepción del Oriente: La “Descripción de Goa” Fernando Marías Universidad Autónoma de Madrid Uno de los episodios españoles de viaje a Oriente quizá más injustamente olvidado fue el que realizara en la segunda década del siglo XVII el embajador de Felipe III don García de Silva y Figueroa, primero a Goa59 y después al reino de Persia, coincidente en parte con el que doscientos años antes llevara a cabo Ruy González de Clavijo hasta Samarcanda (1404)60. Este viaje nos es conocido a través de dos manuscritos conservados en la Biblioteca Nacional de Madrid, el Ms. 18217, titulado "Comentarios de Don Garcia de Sylva que contienen su viaje a la India y de ella a Persia", y el Ms. 17629, de la Colección Gayangos, "Commentarios de Don Garcia de Silva de la Embaxada que de parte del Rey de España D. Phelippe III hizo al Rey Xa Abas de Persia. Año de 1618"61. Si esta relación tuvo un gran e inmediato eco en 59. Este texto se publicó originalmente en Anuario del Departamento de Historia y Teoría del Arte, xiv, 2002, pp. 137-149, se reedita con mínimos retoques. Desde entonces se ha avanzado enormemente en nuestro conocimiento del autor y el texto; véanse Luis Gil Fernández, El imperio luso-español y la Persia Safávida, I (1582-1605), FUE-Antonio Azorín, Madrid, 2006 y Estudos sobre Don García de Silva y Figueroa e os «Comentarios» da embaixada à Pérsia (1614-1624), eds. Rui Manuel Loureiro y Vasco Resende, Centro de História de Além-Mar, Lisboa, 2011. Quisiera agradecer vivamente al Profesor Rafael Moreira la ayuda prestada para la elaboración de este trabajo, que fue originalmente presentado al Congreso Internacional "A arte na rota dos descobrimentos portugueses", organizado por la Comissâo Municipal dos Descobrimentos de Lagos, Lagos (Portugal), 1996. 60. A través de Constantinopla y Teherán y, al regreso (p. 197), Qazvín, en 1403-1406; véase Eugenio Llaguno y Amírola, Historia del Gran Tamorlán: e itinerario y enarracion del viaje, y relación de la embajada que Ruy Gonzalez de Clavijo le hizo por mandado del... rey don Henrique el tercero de Castilla. Y un breve discurso fecho por Gonzalo Argote de Molina para mayor inteligencia de este libro Segunda impresion a que se ha añadido la vida del gran Tamorlan... que escribió don Garcia de Silva y Figueroa..., Madrid, 1782, y Relación de la embajada de Enrique III al Gran Tamorlán, ed. de Francisco López Estrada, Espasa-Calpe, Madrid, 1952; también Juan Gil, En demanda del Gran Kan. Viajes a Mongolia en el siglo XIII, Alianza, Madrid, 1993. 61. Este manuscrito, según el propio texto, fué compuesto por un autor no identificado ya en Madrid, a partir de los originales del embajador, tras el regreso de la embajada; contiene el Libro III (desde Ormuz), IV y V (viaje tierra adentro); faltan los Libros I (sobre el viaje a Goa) y II (descripción de Goa). Asimismo da cuenta de la embajada el Ms. 2348 (fols. 519-520), de la Biblioteca Nacional de Madrid, "Relación de la jornada de Dom García de Sylva dada por [el agustino portugués] Fr. Melchor de los Angeles" [Madrid, 30 de diciembre de 1619]; ha siso publicada en Documentação Ultramarina Portuguesa, I, Centro de Estudios Históricos Ultramarinos, Lisboa, 1960, pp. 139-140, y A. Hartmann OSA, “William of St. Augustine and His Time”, Augustiniana, 20, 1970, pp. 634-636. Fray Melchor había hecho profesión en Goa en 1587, y había sido enviado a Persia como embajador por el virrey Luiz Pereira, Conde de Feria, en 1608. De regreso en Madrid en 1636, Felipe IV lo nombró su predicador en 1643, donde murió poco después. Véase sobre él, "Historia do Martyrio de Fr. Nicolâo de Mello e Fr. Guilherme de Santo Agostinho, com a relaçâo das cousas notaveis que na Persia fizerâo os Religiosos de Santo Agostinho" (Ms. del convento de Nuestra Señora de Gracia de Lisboa) y Z. Novoa, "El R. P. Fr. Melchor de los Angeles del Orden de S. Agustín, primer misionero en Persia", Archivo Agustiniano, 45, 1951, pp. 263-275; R. Gulbenkian, L'ambassade en Perse de Luis Pereira de Lacerda et des Pères Portugais deL'Ordre de Saint-Augustin, Belchior dos Anjos et Guilherme de Santo Agostinho, 1604-1605, Lisboa, 1972; Carlos Alonso, “Cartas del P. Melchor de los Ángeles, OSA, y otros documentos sobre su actividad en Persia”, Analecta Augustiniana, 44, 1981, pp. 249-298; y Luis Gil, "Sobre el trasfondo de la embajada del Shah Abbas I a los príncipes cristianos: contrapunto de las Relaciones de Don Juan de Persia", Estudios Clásicos, 89, 1989, pp. 347ss. 77 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Europa, como demuestran los extractos y la traducción al francés que se publicaron durante las siguientes décadas62, no fue redescubierta y publicada hasta comienzos del siglo XX63; desde entonces ha pasado prácticamente desapercibida e incluso la existencia de esta edición pueda justificar el hecho de que la presencia de un importante mapa de Goa que los manuscritos recogen no haya sido dada a conocer hasta la fecha64. Como quizá es sabido, una embajada del Shah Abbas I el Grande de Persia (1587-1629)65 llegó a Madrid en 1608, contemporáneamente a la que el agustino portugués Fr. Melchor de los Ángeles realizara a Persia como enviado del virrey Luiz Pereira de Lacerda, Conde de Feria, en el mismo año de 1608. Pocos más tarde, en 1614, Felipe III recibió del Shah Abbas una nueva embajada presidida por el religioso descalzo Fray Redempto de la Santa Cruz. Mientras tanto, Miguel de Soria ("Libro de las cosas memorables que han sucedido desde el año de mil quinientos noventa y nueve", Madrid, Biblioteca Nacional, Ms. 9856), narra la visita de la embajada de Persia a Madrid de 1608, a la que se correspondió con otra, citada por Gil González Dávila, Teatro de las grandezas de la Villa de Madrid Corte de los Reyes Catolicos de España, Madrid, 1623, p. 125; citadas por Alicia Cámara Muñoz, Arquitectura y sociedad en el Siglo de Oro. Idea, traza y edificio, El Arquero, Madrid, 1990, p. 191. Véase también Ciriaco Pérez Bustamante, La España de Felipe III. Historia de España, xxiv, Espasa-Calpe, Madrid, 1983, p. 404. 62. Véase [García de Silva Figueroa] Garciae Silva Figueroa, Philippi III, Hispaniarum Indiarumque regis, ad Persiae regem legati, de rebus Persarum Epistola v. Kal. an. MDCXIX Spahani extracta ad marchionem Bedmari, nuper ad Venetos, nunc ad Sereniss. Austriae Archiduces, Belagranum principes, regium legatum, Amberes, 1620; A letter from Garcia de Silva y Figueroa embassador from Philip the Third king of Spaine to the Persian, written at Spahan, or Hispahan, Anno 1619, to the Marquis of Bedmar, touching matters of Persia, Londres, 1625 y, sobre todo, L'ambassade de Don Garcias de Silva Figueroa en Perse, trad. de Mr. de Wicqfort, Jean de Puy/L. Billaine, París, 1667. Los dos primeros textos reproducían la carta, con la descripción de la antigua Persépolis, enviada por don García a don Alonso de la Cueva y Carrillo (1572-1655), I Marqués de Bedmar, embajador español en Venecia (1607-1618), desde Ispahan, el 28 de diciembre de 1618; de una hipotética primera edición de esta epístola, quizá realizada en la propia Venecia, aunque había sido expulsado en 1618, nada se sabe; véase Carlos Alonso, La embajada a Persia de D. Garcia de Silva y Figueroa (1612-1624), Diputación, Badajoz, 1993, pp. 228-231. Puede tratarse de un simple error y que la primera edición, dedicada a los Archiduques de Austria, ante quienes ejercía su nueva embajada en Bruselas y, en realidad, como primer ministro, fuera la bruselesa de 1620. Sobre Bedmar, Carlos Seco, "El Marqués de Bedmar y la conjuración de Venecia 1618", Revista de la Universidad de Madrid, 1955, pp. 334 y ss. 63. Citada por Manuel Serrano y Sanz, Autografías y Memorias coleccionadas e ilustradas, Nueva Biblioteca de Autores Españoles, Madrid [1902], pp. xii-xvi, fue impresa de inmediato por Manuel Serrano y Sanz, García de Silva y Figueroa. Comentarios de la embajada que de parte del rey de España hizo añ rey Xa Abas de Persia, 2 vols., Sociedad de Bibliófilos Españoles, Madrid, 1903-1905. Véase también César Fernández Duro, "Comentarios de D. García de Silva y Figueroa", Boletín de la Real Academia de la Historia, xliv, 1905, pp. 271276; y "Comentarios de D. García de Silva y Figueroa", Boletín de la Sociedad Geográfica, xlvi, 1907, pp. 52-58. Ahora, desde un perspectiva fundamentalmente política, el ya citado trabajo de Carlos Alonso, La embajada a Persia de D. Garcia de Silva y Figueroa (1612-1624), Diputación, Badajoz, 1993. Ya Eugenio Llaguno y Amírola, Historia del Gran Tamorlán...., Madrid, 1782, pp. 221-228, había utilizado y citado los Comentarios. 64. El Ms. 18217, incluye en el fol. 6 (antes en el fol. 90) un mapa de Goa. El Ms. 17629 no aparece dicho mapa. 65. Bisnieto de Ismail I (1501-1524), nieto de Tahmasp I (1524-1576) e hijo y sucesor de Mahommed Mirza o Khuda-banda, así como sobrino de Haidar Mirza y de Ismail II, Abbas fue el sexto (para otros historiadores el cuarto) rey de Persia de la dinastía chiíta de los safavíes, que gobernó hasta 1722. Aunque concertó una paz en 1590 con los otomanos sunitas -tras la guerra con el sultán Murad II (1574-1594) en Georgia- que reconocía las pérdidas persas de Georgia, Tabriz, Shirván y el Luristán, Abbas I reanudó las hostilidades en 1594 y 1597 y entró en guerra contra Muhammad III en 1601; reconquistó Eriván y Kars en 1601, expulsó a los otomanos del Azerbaiján y del Cáucaso en 1603 y retomó Georgia y Shirván en 1605 y más tarde el Irak central, Bagdad y Mosul, manteniendo campañas victoriosas frente a los sultanes Ahmed I y Osman II (1618-1622), con quien firmó una nueva paz. En 1602 tomó a los portugueses la isla de Bahrein y poco después la isla de Quishm; en 1622 con ayuda naval inglesa, Abbas atacó y conquistó Ormuz. 78 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP el rey de España -por iniciativa del virrey de Portugal Cristóbal de Moura- había decidido organizar una embajada castellana, para intentar convencer al Shah de que mantuviera su guerra contra el Imperio turco, que encomendó a don García de Silva y Figueroa y que éste aceptó en Madrid el 19 de octubre de 1612; no obstante, la misión se retrasó y las instrucciones reales no fueron otorgadas hasta el 9 de agosto de 1613 y, desde San Lorenzo del Escorial, el 13 de agosto66. No es mucho desgraciadamente lo que sabemos sobre el embajador don García de Silva y Figueroa67. Se le ha supuesto nacido en la ciudad extremeña de Zafra el 29 de diciembre de 1550, como hijo primogénito de don Gómez de Silva y doña María de Figueroa; pero en realidad era bastardo del Duque de Feria Gómez Suárez de Figueroa y Toledo y de María de Silva; pertenecía, por lo tanto, a la familia de los Duques de Feria, y fue asimismo primo del jerezano (de Jerez de los Caballeros) don Juan de Silva, nombrado gobernador de las Islas Filipinas desde 1609 a 161668 y, por lo tanto, descendiente del embajador quinientista en Venecia el toledano don Diego Guzmán de Silva. Fue tio de los gobernadores de las Filipinas don Jerónimo (1616) y don Fernando de Silva (1625-1626) y caballero de la Orden de 66. Estas instrucciones se recogen como apéndice en el Ms. 17629. Véase C. Alonso, op. cit., pp. 27-69. Véase M. Serrano y Sanz, op. cit. y ahora García de Silva y Figueroa. Epistolario diplomático, ed. Luis Gil, Instituto Cultural El Brocense, Cáceres, 1989, y C. Alonso, op. cit., pp. 19-26. 68. Juan Gil, Hidalgos y samurais. España y Japón en los siglos XVI y XVII, Alianza, Madrid, 1991. 67. 79 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Calatrava. Don García habría sido paje de Felipe II y más tarde habría estudiado leyes en Salamanca, para alcanzar –según fuentes icnontrolables- como militar en Flandes el grado de capitán. Se le tenía por hombre “de buen juicio y sutil entendimiento, visto y leído y muy versado en la lengua latina e italiana”69. Más tarde don García ocupó puestos menores en las administraciones locales de varias ciudades, pues había sido corregidor de la ciudad de Badajoz y más tarde, desde 1595 a 1597, ocupó idéntico cargo y el de justicia mayor en Jaén y Andújar, desde donde socorrió Cádiz con el Duque de Medina Sidonia en 1596; parece por sus comentarios haber tenido alguna experiencia en tierras italianas, en concreto en Venecia, aunque desconocemos las funciones y circunstancias. Parece también don García haber sido un hombre culto, a tenor de sus lecturas, e interesado por las antigüedades, habiendo llegado a coleccionar algunas estatuas que habría tomado de las ruinas de Mérida70. Debía poseer también conocimientos importantes de matemáticas y navegación, como atestiguarían tanto sus relaciones y juicios sobre algunos inventores de ingenios náuticos durante los años de su estancia madrileña como sus críticas a su compañero de viaje el supuesto matemático e inventor Antonio de Marís71, quien había sido recomendado por el provincial y los frailes de Nuestra Señora de Gracia de San Agustín en Ormuz y al que dirigió numerosas consideraciones despectivas, al denominarlo "Aguxafixa" y señalar que carecía de conocimientos de letras. Aunque se ha identificado recientemente este personaje con el soldado, evangelizador de Chile y matemático Antonio Parisi72, quizá se tratara en realidad del cosmógrafo mayor António de Mariz Carneiro73. 69. Según el historiador de la India portuguesa Antonio Bocarro, Década 13 da História da India, ed. Rodrigo José de Lima Felner, Lisboa, 1876, I, p. 370; citado por C. Alonso, op. cit., p. 22. 70. M. Serrano y Sanz, op. cit., II, p. 393. Publicó de forma póstuma don Gacía, en Lisboa en 1628, una especie de síntesis de la historia de España (Hispanicae historiae breviarium... autore... D. Don Garcia de Silva & Figueiroa... Ex Bibliotheca Noguerica nunc primúm edit Antonius Furtado da Rocha..., Manuel de Silva, Lisboa, 1628 (B.N.P., Res. 187P), aparentemente escrita en Goa, citada por Nicolás Antonio, Bibliotheca Hispana Nova, Madrid, 1783, I, p. 517, y por C. Alonso, op. cit., p. 26. 71. Ms. 18217, fol. 66. 72. Sobre éste, véase Juan Gil, Mitos y utopías del Descubrimiento. 2. El Pacífico, Alianza, Madrid, 1989, pp. 324334. Don García había tenido desde 1609 relaciones, siempre incrédulas, con otros inventores fantasiosos y embaidores como Lorenzo Ferrer Maldonado o Juan de Fonseca Coutinho. 73. De quien se conserva una copia del Libro de António Bocarro e ilustraciones de Pedro Barreto de Resende, archivero y secretario del virrey Conde de Linares (ca. 1630); véase Pedro Dias, Antonio de Mariz Carneiro. Descriçâo da fortaleza de Sofala e das mais da India, Lisboa, 1991, y A arquitectura militar na expansâo portuguesa, Lisboa, 1994, p. 138. 80 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Recibidas las instrucciones de su embajada persa, todavía permaneció don García en Madrid hasta finales de febrero de 1614 y, tras trasladarse a Lisboa, partió de aquel puerto el 8 de abril de 1614, con tres naves74, así como un cortejo difícil de precisar75, para llegar a Goa el 6 de noviembre de 1614. En la colonia portuguesa de la India permaneció don García tres años, en concreto hasta el 21 de marzo de 1617, a causa de las trabas que el gobernador de Goa don Jerónimo de Acevedo puso a su viaje, al considerar que debía ser un portugués el embajador y no un castellano. Por fin, don García terminó por embarcarse en una pequeña nave el 21 de marzo de 1617, con su comitiva, una veintena de tripulantes moros y un piloto persa llamado Mustafá, que usaba un extraño instrumento de navegación en lugar de la brújula, y desde allí dirigirse a Ormuz, adonde llegó -tras detenerse en Muscate o Masquat, en la costa árabe de Omán76- el 22 de abril de 1617, siendo recibido por el capitán de la fortaleza Don Luis de Gama77. Desde allí siguió primero la costa de la Carmania (Querman) la Desierta (situada entre el cabo Guadel y la desmbocadura del Eufrates y al sur de la Carmania la Abundante), y donde se extendían los reinos de Lara [Lârestân] y Oesa o Monbareca, con la tierra de Mogostán, hasta llegar a la costa de Bandar o Bandel [¿Bandar-Abbas?], y desde donde le esperaba Kaçen Bec en nombre del Shah Abbas, donde empezó el viaje por tierra, adentrándose en Persia en octubre de 1617. Desde la ciudad de Lâr pasó a Shiraz, donde permaneció desde el 24 de noviembre de 1617 hasta el 4 de abril de 1618, para visitar, después de abandonar esta ciudad, las ruinas de Chilminara, la antigua Persépolis. Otra parada importante de su itinerario fue la ciudad de Isphahan, desde la que partió a Casbín [Qasvin], donde logró entrevistarse con el Shah y donde permaneció desde el 13 de junio hasta agosto de 1618. Desde allí volvió a desandar el camino, embarcándose de nuevo hacia Goa el 15 de diciembre de 1619. 74. La capitana Nuestra Señora de la Luz, la almiranta Nuestra Señora de los Remedios y una tercera, Nuestra Señora de Guadalupe. 75. Conocemos los nombres del maestresala, Pedro Jiménez (de Ledesma), el capellán Vicente Sorrentino -al que se añadieron desde Ormuz los religiosos agustinos Fray Manuel del Pópulo y Fray Luis de Rivera-, el gentilhombre Gutiérrez de Monroy, el repostero Juan González, el repostero italiano César, dos criados portugueses -Simón y Lobo- y uno piamontés Jusepe, y un anónimo pintor. Es posible que también lo acompañara un sobrino del embajador, don Fernando de Silva, antes capitán en Flandes y que marchó a Persia como "entretenido"; véase J. Gil, Hidalgos y samurais, p. 153, n. 33. 76. Sobre esta ciudad, véase A. Pereira Brandâo, A Aventura portuguesa, Lisboa, 1991 y el diseño del "Libro de Bocarro", en A Arquitectura militar na expansâo portuguesa, Oporto, 1994, p. 141. 77. Ms. 17629, fol. 179 vº y ss. Ormuz parecía una ciudad de unas 2.500 o 3.000 casas; se fijó especialmente en la iglesia mayor y Casa de Misericordia, derivada de la antigua mezquita destruida, pero de la que se había conservado un altísimo Alcorán o Torre, "muy labrada por de fuera". También dedicó algunos párrafos a los monasterios del Carmen y de San Agustín o de Nuestra Señora de Gracia -que M. Serrano y Sanz, op. cit., consideró de Mascate-. Véase sobre su arquitectura, Wolfgang Kleiss, "Die portugiesische Seefestung auf der Insel Hormoz am Persischen Golf", Architectura, 1978, pp. 166-183 y Rafael Moreira, "Inofre de Carvalho, a Renaissance Architect in the Gulf", en Bahrain in the 16th Century: An Impregnable Island, ed. por M. Kervan, Manama, 1988, pp. 85-92. 81 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos En Goa permaneció nuevamente algunos meses, hasta que el 19 de diciembre de 1620, salió la carabela que debía llevarlo de regreso a España78, hallándose el 28 de abril de 1621 a la altura del Cabo de Buena Esperanza79; sin embargo, las condiciones de navegación le obligaron a retornar a Goa. Su tercera estancia se prolongó durante dos nuevos años y medio, y allí otorgó testamento don García el 11 de noviembre de 1622; pensando en un feliz retorno, decidió enterrarse en la capilla del Santo Cristo de San Benito de Zafra, hoy en ruinas y entonces también conocido vulgarmente como de San Francisco, a la que dejo la plata de su propio oratorio, en la capilla que su familia había utilizado hasta la fecha, y nombró heredera de sus bienes a la cofradía de la Caridad de Zafra; a ésta encargó que cuidasen de los reparos de su capilla, con una nueva reja y que abriesen una media naranja con sus vidrieras80. 78. Ms. 18217, fol. 499. Ms. 18217, fol. 541 vº. 80. C. Alonso, op. cit., p. 287 añade algún dato sobre esta fundación, tomada de Fray José de San Miguel OFM, Crónica de la provincia franciscana de San Miguel, ed. Antolín Abad García OFM, Crónicas franciscanas de España 19, Madrid, 1989, p. 309. Sobre este convento de franciscanos observantes, véase ahora, Juan Carlos Rubio Masa, El mecenazgo artístico de la Casa ducal de Feria, Editora Regional de Extremadura, Mérida, 2001, pp. 237-239. 79. 82 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Por fin, la partida definitiva tuvo lugar en enero de 1624, pero el embajador cayó enfermo en la costa africana81 y -los apuntes del embajador llegan hasta el 28 de abril de 1624- murió don García de Silva a causa del "mal de Luanda" o disentería, el 22 de julio de 1624, en medio del Atlántico, a 35º de latitud Norte, a 110 leguas al sur de las islas de las Flores y el Cuervo, las más occidentales del archipiélago de las Azores. La expedición arribó finalmente, once años después de su partida, al puerto de San Sebastián en octubre de 1624. Vamos a ocuparnos en esta ocasión exclusivamente del largo informe de don García de Silva sobre la ciudad de Goa, que parece haber iniciado, durante su primera estancia en la ciudad, el 4 de febrero de 1615 y terminado el 9 de enero de 161782, por lo tanto uno de los primeros conservados83 y el único conocido hasta la fecha de un español; incluye también un 81. El Ms. 17629, quizá por error, da como lugar de su muerte "el mar de Luanda". Véase también C. Alonso, op. cit., pp. 280-287. 82. Ms. 18217, fols. 88-156. 83. Sobre éstos, A. R. Machado, ed., Livro em que da relaçâo do que viu e ouviu no Oriente, Lisboa, 1946. José Nicolau da Fonseca, An Historical and Archeological Sketch of the City of Goa, Bombay, 1878 (Asian Educational Services, New Dehli, 1986); Jacques de Coutre, Andanzas asiáticas, ed. de Eddy Stols, B. Teensma y J. Werberckmoes, Historia 16, "Crónicas de América" nº 61, Madrid, 1991; Boies Penrose, Goa, Rainha do Riente, Lisboa, 1960; Georg Schurhammer S. J., Franz Xavier: Sein Leben und seine Zeit, Freiburg im Breisgau, 1963. Sobre el viaje de Jan Huyghen van Linschoten (ca.1563-1611) a Goa (1583-1589), The Voyage of Jan Huyghen van Linschoten to the East Indies, ed. de A. C. Burnell y P. A. Tiele, 2 vols., Hakluyt Society, Londres, 1885; el de François Pyrard de Laval (1611), en The Voyage of François Pyrard de Laval to the East Indies, the Maldives, the 83 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos interesantísimo mapa de la zona84 que, aunque publicado hace más de tres décadas85, no ha recibido la atención que merece. Reviste una doble importancia, por una parte como imagen cartográfica; con el mapa del distrito de Goa del "Atlas" de 1610 y, sobre todo, el de la "Taboa da Ylha de Goa" del "Atlas-Misceláneo" de Lisboa, de hacia 1615-162286, atribuído a Manuel Godihno de Herédia, que presentan algunos elementos comunes, el madrileño constituiría uno de los más antiguos mapas portugueses de Goa que se conocen. Por otra parte, también tiene interés como imagen urbana de la ciudad. Si dejamos aparte la vista grabada y publicada en el "Civitates orbis terrarum" de Georg Braun y Franz Hogenberg (casi como imagen de la ciudad musulmana de Goa, fundada hacia 1460 por Melik Hussein, realizada en las primerísimas décadas del siglo XVI), la que ahora presentamos sería la segunda o tercera de las conocidas. La primera sería la vista caballera publicada por el holandés Jan Huyghen van Linschoten (ca. 1563-1611), tras su estancia en Goa entre 1583 y 1589, y fechada en 1595 (editada por Baptista van Dentecum y publicada en París en 1610)87. La segunda o tercera sería la planta o -según su leyenda- "Plantaforma da Cidade de Goa" del cartógrafo nacido en Malaca Manuel Godinho de Herédia (1563-1623), fechada entre 1615 y 1620)88. El mapa y planta de Goa incluídos en la relación de García de Silva sería contemporánea o, algo anterior, a este lustro de la segunda década del siglo XVII y quizá también anterior a la de Herédia, desde luego a la cuarta conocida, el grabado anónimo incluído en la obra "Ásia Maluccas and Brazil, ed. de Albert Gray y H. C. P. Bell, Hakluyt Society, Londres, 1887-1890; sobre el de Pietro della Valle (1623), más allá de la ed. de Roma, 1668, véase The Travels of Pietro della Valle in India, ed. de Sir Richard Carnae Temple y Lavinia Mary Anstey, 6 vols., Hakluyt Society, Londres, 1907-1936, y P. Gaeta y L. Lockhart, I viaggi di Pietro Della Valle, Istituto Poligrafico dello Stato, Roma, 1972. También véase Diogo Ramada Curto, “Representações de Goa: Descrições e relatos de viagem”, en Histórias de Goa, Fundação Oriente-Comissão para as Commemorações dos Decobrimentos portuguesês, Lisboa, 1997, pp. 45-85; Catarina Madeira Santos, Goa: corte e cerimonial. Os constructores do Oriente português, Comissão para as Commemorações dos Descobrimentos portuguesês, Oporto, 1998. 84. Ms. 18217, originalmente en fol. 90 pero hoy a la altura del fol. 6. Mapa sobre papel, 282 x 410 mm., a pluma y tinta sepia, con aguadas sepia, roja y amarilla; con pitipié de "mea legoa"; se orienta hacia el Sur. Se trata de un mapa portugués, a tenor de la toponimia y las inscripciones explicativas escritas en lengua portuguesa, referidas por una parte al paso de los moros a la isla de Choram en la época del gobernador Francisco Barreto y, por otra, a los moradores de las islas de Calvi y Corgi. Es digno de señalarse que no aparezcan señalados algunos de los principales colegios de Goa: San Pablo, San Roque y el Noviciado de los jesuitas, San Buenaventura de los menores y de los Reyes Magos de Bardes. Además, aparecen representadas dos importantes cintas abaluartadas: una desde Daugín, Gondalín, Banastarín hasta Carabolín y Ajocím, con un total de catorce baluartes; otra, solo trazada con punteado, desde Ajocím hasta Panelín y Rabandar, con cinco baluartes y un "Castello de Santangel" de forma romboidal y cuatro torres angulares de planta circular. Estos hechos -la representación como proyecto de la ciudadela de Santangel y la ausencia de algunas de las más recientes fábricas- podría plantear algunas dudas sobre la cronología -último tercio del siglo XVI- del original que manejara el autor de este mapa. 85. Portugaliae Monumenta Cartographica, ed. de Armando Cortesâo y Avelino Texeira da Mota, Lisboa, 1960, IV, pp. 51-52, nº 413c. Las medidas que le atribuyen (512 x 745 mm.), que han hecho pensar a los citados autores que se trataría del mayor dibujo conocido de Manuel Godinho de Herédia, no coinciden con los del original de la Biblioteca Nacional de Madrid, más reducido. 86. Procedente de la Colección del Dr. C. M. C. Machado Figueira, de Lisboa. 87. Véase en The Voyage of Jan Huyghen van Linschoten to the East Indies, ed. de A. C. Burnell y P. A. Tiele, 2 vols., Hakluyt Society, Londres, 1885. Fue reeditada varias veces, entre ellas en 1599 por Theodor de Bry, desde entonces. 88. Procedente de la Colección del Dr. C. M. C. Machado Figueira, de Lisboa. Véase en Portugaliae Monumenta Cartographica, ed. de Armando Cortesâo e Avelino Teixeira da Mota, Lisboa, 1960, IV, pp. 39-60, nº 420 E y en Teotónio R. de Souza, Goa medieval. A cidade e o Interior no Século XVII, Editorial Estampa, Lisboa, 1994, p. 108. 84 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Portuguesa" (Lisboa, 1666) por el hijo del famoso poeta, cronista y secretario del Marqués de Castel Rodrigo don Manuel de Moura don Manuel de Faria e Sousa (1590-1649)89. Nuestro mapa -anónimo- puede ser atribuído también a Manuel Godinho de Herédia y fecharse lógicamente durante los años de la estancia en Goa tanto de García de Silva como del cartógrafo portugués, hacia 1616; confiere primordial importancia a la situación topográfica de la isla y su entorno, algo que solo sumariamente reflejó Jan Huyghen van Linschoten en su vista, plagada de errores geográficos; constituye posiblemente, por lo tanto, el más antiguo levantamiento cartográfico de calidad de la isla de Goa y el territorio de su entorno. Godinho de Herédia, en cambio, prestó mucha menor atención que Huyghen van Linschoten a la distribución viaria de la ciudad, que recogió de manera más reductiva que propiamente esquemática; tanto el holandés como Faria e Sousa centraron su interés en la descripción de los edificios y las calles de la ciudad, aunque quizá de forma un tanto convencional y esquemática léase inexacta al incluirse una relación proporcionalmente errónea entre las medidas de la planta y la de los alzados de los monumentos y el caserío- en la disposición concéntrica de muchas de ellas. Además, tiene el interés añadido de que aparecen representadas la forqa de justicia y dos importantes cintas abaluartadas: una desde Daugín, Gondalín, Banastarín hasta Carabolín y Ajocím, con un total de catorce baluartes. Otra, solo trazada con punteado, desde Ajocím hasta Panelín y Rabandar, con cinco baluartes y un "Castello de Santangel" de forma romboidal y cuatro torres angulares de planta circular; aquella se corresponde con la nueva muralla abaluartada -hoy desaparecida- que cerraba Goa por el suroeste y que fue iniciada en 89. Publicada por R. Moreira, "Goa em 1535: uma cidade manuelina", Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1994, pp. 177-221, p. 185. 85 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 1568 por el virrey don Luís de Ataide; a medio camino de esta importantísima defensa estaba proyectada, aunque nunca llegara a realizarse, una ciudadela de planta como ya hemos señalado romboidal, de la que nos da testimonio este plano de Godinho de Herédia. En este sentido, el mapa de Goa de la Biblioteca Nacional de Madrid parece constituir el complemento de la planta zenital de la "Plantaforma" del mismo Godinho de Herédia, pasando del contexto cartográfico de la ciudad a la descripción de su tejido viario en detalle y, de acuerdo con los modelos más modernos y científicos de la representación urbana, utilizando el medio planimétrico, excepcional para este género en el conjunto europeo y, sobre todo, para el ámbito ibérico. Mas al mismo tiempo, la aparición de elementos ya obsoletos podría indicar que nuestro mapa hubiera sido realizado por Herédia utilizando materiales ajenos del tercer tercio del siglo XVI que hasta ahora no se han podido identificar. La descripción de Goa90 se inicia por la situación topográfica, a partir de las bocas del golfo (situadas a 16º de latitud, añadiéndose al margen que debían restarse 10'[15º 50', en realidad 90. Véanse fols. 119 vº-130. Véase sobre este tema, José Pereira, In Praise of Christian Art in Goa, Marg Publications, Bombay, s. a. Mário Chicó, "A Igreja dos Agostinhos de Goa e a Arquitectura da India Portuguesa", Garcia de Orta, II, 2, 1954; "A igreja do Priorado do Rosário de Velha Goa, a arte manuelina e a arte do Guzarate", Belas Artes, 2, 7, 1954; "Algumas observaçôes acerca da Arquitectura da Companhia da Jesús no Districto de Goa", Garcia de Orta, 1956, pp. 257-272. Carlos de Azevedo, "The Churches of Goa", Journal of the Society of Architectural Historians, xv, 3, 1956, pp. 3-6, "A arquitectura religiosa", en Arte Cristâ na India Portuguesa, Lisboa, 1959 y "Arte Cristâ", en A Arte de Goa, Damâo e Diu, Lisboa, 1969 y 1993. J. Delinkar S. J., 86 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP entre 15ª 44' y 14º 53' N], y 160º de longitud [en realidad entre 73ª 45' y 74ª 26' E]). Sitúa el comienzo de la isla en el cabo de Talangan [en el mapa Taleigam], que separaba dos los rios que la rodeaban [el Mandavi al norte y el Juari, al sur, separando la tierra de Marmagâo o Mormugâo, Murmugam] y en cuya punta se encontraba la ermita de Nuestra Señora do Cabo de los franciscanos descalzos, para situar de inmediato el lugar donde se hallaban las ruinas de Goa la Vieja, al pie del montecillo de Nuestra Señora del Pilar. Al norte de la entrada al rio Pangín [Panaji, Panjim o Mandavi] se encontraban dos fortalezas, de Bardes y del Aguada, primero el Castillo del Farol, del que quedaban los principios de un fuerte que no se había acabado en Bardes, y más adelante el castillo de la Embocadura. Es extraño que don García se detuviera escasamente en la descripción del castillo de la Aguada, la obra del mestre de obras de fortificaçâo da cidade de Goa y engenheiro-mor da Índia Júlio Simâo (1604-1612), hoy considerada como una de las mayores obras de arquitectura militar del "The Christian Empress, Churches and Cloisters", Golden Goa, Marg Magazine, Bombay, 1980, pp. 617-626. David Martin Kowal, "The Evolution of Ecclesiastical Architecture in Portuguese Goa", Carl Justi Vereinigung Mitteilungen, 1993, pp. 1-22. Teotónio R. de Souza, Goa medieval. A cidade e o Interior no Século XVII, Editorial Estampa, Lisboa, 1994, pp. 104-110. Rafael Moreira, "From Manueline to Renaissance in Portuguese India", Mare Liberum, 9, 1995, pp. 401-407; "Goa em 1535..."; y “Riflessi della Ghiara nell’India Portoghese: la Chiesa dei Teatini a Goa”, en La Basilica della Ghiara. Il Miracolo della Città, Reggio Emilia, 1997; Helder Carita, Palaces of Goa. Models and Types of Indo-Portuguese civil Architecture, Londres, 1999; y Paulo Varela Gomes, Arquitectura, religião e política em Portugal no Século XVII. A planta centralizada, Universidad de Oporto, Oporto, 2001. 87 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Renacimiento construídas en todo el mundo91. Al norte del rio Pangín se encontraba la isla de Divar, donde se hallaba la fortaleza de Narva o del Espíritu Santo, pequeña obra antigua, realizada por los moros unos doscientos años atrás, con dos torres y una barbacana, y donde se encontraba la Pagoda, el templo y la pequeña población de Narva (Narve). Don García retorna al rio Pangín y al extremo oriental de la isla de Goa, situando la fortaleza de Pangín [Daugín] que había ganado don Alfonso de Albuquerque, también obra antigua de los moros, con una barbacana y una pequeña torre de unos 20 pies de anchura interior y dos pisos, redonda en su primera mitad y hexagonal en su parte alta; en 1616, sin embargo, la torre se había acabado de rehacer de otra forma por obra de la Cámara de Goa "para [la] recreación de los virreyes", con una hermosa casa de muy "acomodados aposentos". Hacia el sur, en Gondalín, se encontraba la fortaleza de San Blas, un baluarte redondo de fábrica grosera y antigua, con una casa para el alcaide; otro baluarte, cuadrado y muy alto, se hallaba en Benasterím [Banastarín], también hacia el sur siguiendo la costa de la isla; se trataría del primer baluarte construído en Goa en 1511, inmediatamente después de su conquista por Alfonso de Alburquerque, al que se añadirían otras obras en 1526, durante el gobierno de Lopo Vaz de Sampaio. Manteniendo esta dirección de acuerdo con las agujas del reloj, don García pasó a la zona de Goem, en la que se extendía la playa de Guadalupe, lugar donde "se pasean y entretienen los vecinos", poblada de hermosas quintas y jardines, con muy "buenas y acomodadas" casas en las que se pasaban los inviernos y épocas de lluvia; hacia el interior se encontraba la iglesia de Nuestra Señora de Guadalupe, fundada por los primeros portugueses que habían llegado. Desde allí se alcanzaba fácilmente Goa la Vieja [Goa Velha], la antigua ciudad hindú y musulmana, con la "casa de los gentiles" y un estanque con cocodrilos de pequeño tamaño92. A partir de este momento93, el embajador se centró en la nueva ciudad de Goa [hoy Velha Goa], "metrópoli principal de la colonia de los españoles de la corona de Potugal" (desde 1530 había sustituído a Cochin como la capital administrativa de las Indias portuguesas y desde 1557 era, como sede arzobispal, su capital religiosa), aunque no le mereciera de entrada un juicio positivo su distribución urbana, pues "la ciudad es toda desordenada, descompuesta y esparzida... con las más de las calles muy torcidas, sin ninguna pulicía ni concierto". No obstante, no todo eran adjetivos peyorativos pues en la "grandeza, ornato y sumptuosidad" de sus templos, se podía "compara esta ciudad con muchas de las más célebres ciudades de Europa"; en cierto sentido, a tenor de sus juicios sobre su arquitectura, el embajador español habría estado quizá de acuerdo con el dicho "Quem vio Goa, excusa de ver Lisboa", aunque no llegara a definirla en términos de "Goa Dourada" o "Roma del Oriente". Comienza su narración con la descripción de la zona septentrional abierta al rio Pangín, entre las parroquias de San Pedro [de Panelim, fundada en 1542] y Santa Lucía [de Daugín, fundada en 1544], donde había buenas casas. El centro estaba constituído por la zona rodeada por un muro de la antigua ciudad, que giraba desde la fortaleza y Casa de los Virreyes hasta la Puerta de la Misericordia, el Buen Jesús, San Francisco, la Plaza del Bazarino, Santa Catalina [capilla erigida 91. J. M. do Carmo Nazareth, "O arquitecto Júlio Simâo", en O Oriente Português, Nova Goa, 1906, III, pp. 458464; Rafael Moreira, "From Manueline...", p. 405. 92. Aquí comienza una larga digresión sobre la fauna de Goa, en la que se pasa revista a sus hienas, lobos, serpientes, víboras y "culebras de capello" [cobras], camaleones y unos animales incógnitos, del tamaño de las lechuzas y parecidos a los basiliscos o régulos de Plinio el Viejo, a los que intentó sin éxito cazar con un arcabuz, 93. Ms. 18217, f. 116. 88 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP en 1511 en conmemoración de la festividad del día de la conquista de la ciudad], la Iglesia Mayor [la Sé], las antiguas Casas del Çabayo, la Marina, el Hospital del Rey [o Real, que imitó el edificio de Lisboa y cuya fachada recibió en 1527 una arquería sobre este mismo modelo], las Atarazanas [las taracenas, construídas durante el gobierno de don Lopo Vaz de Sampaio y donde se producían tanto pólvora como piezas de artillería] y la Fortaleza, dentro de cuyo perímetro se podían contar unas quinientas o seiscientas casas; estas estaban construídas con una piedra bermeja liviana y quebradiza, con la que estaba hecha la mayoría de las fábricas de Goa, aunque se usaba en portadas y frontispicios otra vena más maciza de la misma piedra local94. Esta muralla era similar a las de las fortalezas antiguas de España y conforme a la costumbre de los moros de Berbería y Asia, con torreones, almenas y saeteras. El centro de esta zona estaba constituído por la Fortaleza y Casa de los Virreyes, aunque antes lo había sido la Casa del Çabayo, convertida ya entonces en la Casa de la Inquisición -ya introducida en 1560-, situada en la Plaza de Leilán [Leilâo]. La Fortaleza [de Santa Catarina] era también para don García obra de los moros, con un baluarte cuadrado con aposentos y un pequeño jardín, a pesar de que supuestamente hubiera sido fundada en 1511 por don Afonso de Albuquerque y la hubiera construído su maestro de obras Tomás Fernandes. 94. Ms. 18217, f. 114 vº. Más adelante se interesó también de la cal que se usaba en la construcción, procedente toda ella de las conchas de las ostras. 89 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Hacia el sur se extendían los barrios de San Pablo, Nuestra Señora de la Luz [parroquia fundada en 1543] y la Trinidad; estaban arruinados a causa de las enfermedades de su sitio, junto a la Laguna de la Trinidad, por lo que los jesuitas se habían pasado desde el "insigne colegio de San Pablo" [que había sustituído al de Santa Fe de San Francisco Xavier, inaugurando desde 1560 el uso romano en la arquitectura de la ciudad y del que solo se conserva una portada] al de San Roque, que se estaba construyendo por entonces. No obstante, alrededor de esta Laguna diversos vecinos ricos habían edificado quintas y jardines que podían utilizar parte del año. Desde esta Laguna se podía llegar al barrio de San Matías, por una calle larga hasta San Pablo y siguiéndose la calle de San Pablo hasta las Carnicerías o el Azougue y la playa del Pelouriño; a mano derecha se encontraba el Hospital de la Misericordia y más adelante la Rua Derecha [Direita], la principal de la ciudad ya desde los primeros momentos del asentamiento portugués, que llevaba hasta el Terrero y la Plaza de la Fortaleza [de Santa Catarina], en un complejo itinerario difícilmente constatable por el mapa. Una serie de callejuelas angostas conducían desde la Puerta de la Misericordia, hacia el este, al barrio del Manduín, poblado por "gente pobre de los naturales" y donde se encontraba un campo donde se vendían alimentos; más allá se encontraba situado el convento de Santo Domingo, buen edificio antiguo y grande [dedicado a Nuestra Señora del Rosario y cuya iglesia había sido construída a partir de 1542 todavía en estilo manuelino]. La calle de Nuestra Señora del Monte atravesaba una zona de buenas casas hasta alcanzar al final la ermita, situada en la cumbre de la colina [fundada en 1557]. Tras esta visita, don García enderezó de nuevo sus pasos hacia el centro y la Iglesia catedral de Goa, la Sé, "adonde se labra agora un grande y sobervio templo de buena architectura" [nuevamente levantada en 1532 en estilo "antimanuelino" por el gobernador Jorge Cabral, reconstruída a partir de 1562 quizá con proyecto del maestro real Inofre de Carvalho, y concluída desde 1596 a 1631 por Júlio Simâo en un claro estilo clasicista]95; el convento de San Francisco [fundado en 1517 en un estilo manuelino que imitaba el de los Jerónimos de Belém de Lisboa, según un proyecto del maestro real Leonardo Vaz]96 con una "muy hermosa iglesia"; la pequeña Plaza del Bazarino; y el Buen Jesús, sede de la Casa Profesa de la Compañía de Jesús, "grande fábrica, hermosa y capaz" [casa construída desde 1585 y parcialmente destruída, cuya iglesia fue fundada en 1594, tras ser enviados sus planos a Roma en 1586 para que se eligiera entre una planta de una o tres naves, y quizá proyectada por el hermano jesuita Domingos Fernandes]97. Más adelante se encontraba la Lonja de los Banienes [quizá el Bangaçal o almacén de alimentos importados], plena de mercadurías diversas procedentes incluso del Chaul98 y la China. En la Plaza del Pelouriño Nuevo se asentaban los orfebres y lapidarios que, a juicio del embajador, "aunque no tienen la inventiva que los oficiales de Europa, labran con gran facilidad y presteza qualquiera joyas como le muestren el modelo o muestra de donde proceda sacallo" [en 1535 el Pelourinho Velho y la Rua das Manilhas o dos 95. Véase Judilea Nunes, Monuments in Old Goa, Panjim, 1979 y R. Moreira, "From Manueline...", pp. 403 y 405. R. Moreira, "From Manueline...", p. 403. 97. R. Moreira, "From Manueline...", p. 405. Los planos citados en Jean Vallery-Radot, Le recueil de plans d'édifices de la Compagnie de Jésus conservé a la Bibliothèque Nationale de Paris, Institutum Historicum S.I., Roma, 1960, p. 119, nº 451-453. 98. Sobre esta ciudad, Chaul de Cima, véase G. von Mitterwallner, Chaul. Eine unerforschet Stadt an der Westkust Indies, Berlín, 1964, y el diseño del "Libro de Bocarro", en A Arquitectura militar na expansâo portuguesa, Oporto, 1994, p. 142. 96. 90 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Ourives -que unía aquella con San Paulo constituía el centro artesanal y mercantil de metales preciosos de la ciudad]. Visitó también el convento de los agustinos de Nuestra Señora de Gracia, que encontró "hermoso y vistoso", calificable por su fábrica como el segundo de la ciudad [su hoy desaparecido templo fue construído entre 1597 y 1602, quizá sobre el modelo de Sâo Vicente da Fora de Lisboa], y el convento de Santa Mónica -situados en un campo hacia los barrios de Vangani, Panelín y Rabandar, al oeste del centro- que había fundado en fecha reciente el arzobispo (1595-1611) y gobernador (1602-1609) Fray Aleixo de Meneses. Desde allí se descendía a la Plaza del Rosario [con la parroquia homónima fundada en 1543, construída por Tomás Fernandes en estilo ya renacentista, quizá a causa de los intereses del primer obispo de Goa Francisco de Melo]99; se trataba de un campo que, según el citado mapa, agrupaba también las iglesias de Santa Mónica, San Antonio [capilla fundada hacia 1543], Nuestra Señora de Gracia y la Concepción; frente a esa plaza se hallaba el Noviciado de los jesuitas de San Roque, "de fuerte y hermosa fábrica... [hecha] a imitación del de Lisboa"; el nuevo colegio de la Compañía de Jesús era grande y suntuoso, "con muestra de un fuerte alcázar con cuatro torres en los ángulos" y quedaba unido a la Casa Profesa por medio de un arco abovedado sobre la calle que los separaba, via que terminaba en las Fuentes de Manganil. Esta había sido construída -según rezaba una inscripción- cincuenta años antes por el virrey don Antonio de Noroña y, con su frontispicio, cornisas y remates, era de "razonable architectura". En esta zona también estaban ubicados los colegios de Santo Tomé, de los dominicos, y de San Buenaventura, de frailes menores, que se encontraba en obras. A partir de este momento, el embajador entró en una nueva serie de digresiones, unas referidas a las usanzas de los nativos, como las sandalias que usaban las mujeres "a la manera en que las pinturas o estatuas antiguas" y otros elementos de las vestimentas femeninas, a las que censuraba el uso de ceñidos saris y unos corpiños que dejaban a la vista constantemente sus "henchidos pechos" desnudos100; o a los palanquines y las costumbres de las mujeres101. Otras tenían muy diferentes objetivos, como la ciudad de Bisnagar102, la lengua y alfabeto y algunas creencias locales, como la de la "transmutación" que se creía "invención de Pitágoras" pero era demostrable -según la opinión del fraile menor Fray Juan de San Matías- que tenía su origen en los "Philósofos orientales"103; asimismo volvió su curiosidad hacia a la religión y los conocimientos de astronomía y el calendario de los brahamanes indígenas, así como nuevamente a sus vestidos, que comparó -ahora con la ayuda de la "Historia" (VIII) de Quinto Curzio- con los de los antiguos de la época de Alejandro Magno104; a las costumbres, entre ellas las penitenciales, y la religiosidad de los "bramenes", a los que consideraba a la postre "los más relaxados y perdidos hombres del mundo", así como a la casi en desuso práctica del sati, ya prohibida desde la época de don Afonso de Albuquerque, por la que las viudas eran incineradas en la pira junto al cadáver sus maridos; por último, don García de Silva se refirió a la causa de la enorme devoción de los indianos de Goa. Navegándose desde el paso de Daugín, de la Madre de Dios o del Espíritu Santo, al otro lado del rio, se encontraba una peña de unas 99. R. Moreira, "From Manueline...", p. 404. Ms. 18217, f. 144. 101. Ms. 18217, fol. 145. 102. Ms. 18217, f. 134. 103. Ms. 18217, f. 135 vº. 104. Ms. 18217, f. 137. 100. 91 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos dos picas de alto y que caía casi a plomo, frontera a la isla de Don Bernardo o punta de la Isla de Iuna [Junga] la Mayor o San Esteban. A media altura de esta peña se encontraba una cueva con una entrada de unos quince pies, con una losa derecha a manera de arquitrabe que sostenía una especie de "falda de montera o sombrero", su "pagode" o templo de Narva; su interior era muy alto, excavado sin artificio alguno en su piedra; detrás se encontraba otra pequeña cueva cuadrada con un pequeño agujero que daría, según los gentiles, a una sima. Se trataba de un santuario de todo el Indostán e incluso de creyentes del otro lado del rio Indo, visitado sobre todo en la festividad de la Luna de Agosto y venerado por no haber sido "fabricado por manos de hombres como los demás templos y pagodas de la India, que son infinitos, riquísimos y sumptuosos, sino por la mente y sola voluntad divina". En su interior se adoraba una "figura de culebra de oro, de aquella mortífera y venenosa especie que acá en la India llaman de capelo los portugueses que en lengua canara llaman çoropo... pues creían que Dios les aparescía en forma de culebra biva en aquella cueva"; era también un lugar de oráculo de sus sacerdotes, como el de Delfos, y de perdón de culpas y pecados, a excepción de los hurtos, como si fuera un "sancto jubileo". A pesar de los esfuerzos de los arzobispos de Goa, no se había podido impedir por completo su culto, que se celebraba desde lejos, desde la Playa del Mar situada en la Tierra Firme a una distancia de 500 pasos, donde habían labrado los gentiles cinco o seis gradas de unos 100 pasos de longitud y donde se bañaban y lavaban en el agua del mar. A pesar de la incomprensibilidad de sus ritos, el embajador demostró reiteradamente su asombro ante la piedad de los hindúes y su placer ante la visión de sus ceremonias: "En dos años y medio que me detuve en Goa, me hallé dos veces, y confieso que con mucho gusto y curiosidad mía, a ver esta gran junta de gente"; en 1615 se había reunido una multitud de 15.000 personas, mísera y pobre, "con tan singulares y estrañas demostraciones de devoción que, en comparación suya, parecía tibieza las que los cristianos tenemos en semejantes actos". Las casas de Goa le interesaron también vivamente105; las más de ellas eran de buena fábrica y capacidad de aposentos, incluso "mayores y más altos de los que comunmente se usan y habitan en España con grandes ventanas y coredores por gozar a todas oras del aire sin el qual se vive con gran molestia y trabaxo, o más propiamente hablando, es imposible vivir". Como la ciudad era tan extendida, todas tenían grandes corrales y jardines con árboles, lo que hacía a las casas muy difíciles de defender. Todas ellas, así como los templos, se encalaban por dentro y fuera e incluso se daba de cal su pavimento, tanto en aposentos como varandas; también se usaba en los suelos una costra gruesa de cal o -en los conventos y casas de gente que no fuera muy pobre- una fina y blanca con una "compostura" de cáscaras de huevo, de tal forma que parecen de mármol y las gradas de sus escalinatas de una sola pieza; de las conchas sacaban también el material para las vidrieras -que engastaban en varillas de madera- de las ventanas, corredores y varandas, mayores que en cualquier otra parte del mundo, y más claras que los lienzos encerados de España a pesar de no ser diáfanas. También en este aspecto eran dignas de señalarse algunas otras prácticas arquitectónicas, como la del aderezo de los suelos con excrementos de buey "que hacía el pavimento más hermoso y apacible... con buen olor y apazible vista" como demostraba su uso en el Colegio Real de los Reyes Magos de los menores, situado junto a la fortaleza de Bardes106. A excepción de los templos y fortaleza, 105. Ms. 18217, fol. 145. Ms. 18217, f. 129. En este pasaje utilizó como fuente de sus conocimiento el texto de Diodoro Sículo para identificar estas sandalias con el calzado usado por las tebanas y distinguirlo de los coturnos de las Ninfas o "mujeres sucientas"; elogió estas sandalias, "elegante[s] y hermos[as] para las mugeres... de manera que con gracia 106. 92 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP como ya había señalado, Goa carecía de edificios públicos si se excluía la Casa de la Inquisición, que de inmediato reconstruiría el maestro real Júlio Simâo en 1616107; era todavía de "fábrica morisca" como antigua Casa del Çabayo [Sabaio] representada en la vista de las "Civitates Orbis Terraum", y alta y grande, a la que se accedía gracias a muchas gradas, y que tenía "magestad y apazible perspectiva"; sus ventanas eran similares a las que existían todavía en algunas casas o fortalezas principales y antiguas en España; se demostraba en consecuencia, según nuestro embajador, que los moros que habían llegado a la India eran los mismos que habían conquistado Africa y España, "conservando desde entonces adonde quiera que están un mesmo modo en sus edificios", de la misma manera que habían incluso conservado los mismos trajes los moros de Granada hasta el momento de ser "expelidos", pocos años antes de su partida de la península. Se encontraba esta Casa del Çabayo en la Plaza de Leilán [Leilâo], toda rodeada de buenas casas y situada entre la Iglesia catedral y la Rua Derecha, la más frecuentada de Goa y donde se celebraban los mercados y ferias, por lo que incluso era difícil "romper por ella a pie ni a cavallo". Con el regreso al centro de la Goa Dourada, don García daba por terminada su descripción. Había intentado reflejar lo mejor posible sus impresiones sobre el enclave portugués en la India y entender su variopinta naturaleza sin aspavientos que demostraran el asombro que la realidad vista podía haberle producido; al revés, había intentado entender lo ajeno apropiándose de ello con los instrumentos que su cultura seiscientista española le había equipado: la Biblia en primer lugar; la cultura libresca sobre la Antigüedad clásica en segundo puesto, de los textos de Arriano y Diodoro Sículo a los de Plutarco y Quinto Curzio que le habían acompañado en su equipaje desde España, como único referente que vinculara el presente goano con lo que concebía como original y radicalmente antiguo; por último, su experiencia arquitectónica y, podríamos decir, antropológica, de la España de la segunda mitad del siglo XVI, en la que todavía lo musulmán, lo morisco, había tenido un lugar en la realidad material de todo el país y en la cultura popular de su Extremadura natal. y venustad mostraban la mayor parte del pie", e incluso encontró una justificación bíblica para su empleo en el "Libro de Esther". 107. R. Moreira, "From Manueline...", p. 405. No deja de ser extraño que precisamente en esta fecha, nada dijera don García de Silva sobre el inicio de su remodelación. 93 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos 94 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP Architecture as Metaphor Professor Joseph Rykwert From Serlio’s time onwards there were five orders. Definitely. Yet neither Vitruvius nor Alberti, the first major theorists of architecture, were absolute about the matter. In his third and fourth books Vitruvius lists three genera of columns: Doric, Ionic and Corinthian. To these he adds a Tuscanic dispositio as a less exalted kind of arrangement, while Alberti - in the seventh chapter of his seventh book - specifies the same three main varieties of column, but for his part adds to these an Italic capital which - he says - unites the best of both Corinthian and Ionic; it is the kind later called ‘Composite’. In a monumental Vitruvius translationcommentary printed in Como in 1521, Cesare Cesariano provides the very first full-page woodcut plate (LXII recto) of columns and he numbered six of them - sex generatione de columne. So it was Sebastiano Serlio who finally fixed the column varieties at five, and five they have remained. His fourth (of seven) books was published in 1537, before all the other parts of his great work; and his was also the first book explicitly to propose a method of proportioning columns (and the cornices they supported) which explicitly offered architects and craftsmen a summary of Vitruvius’ prescriptions checked against measurements yielded by the surveys of ancient buildings. Although on the title-page of that book Serlio still calls them cinque maniere de gli edifici, his turned out to be the first of very many ‘order books’, which - well into the twentieth century, sometimes at the rate of two or three a year - offered more or less formulaic directions for drawing the columns and their ornaments. By the next generation there is no uncertainty. When Vignola published his Regola delli Cinque Ordini in 1562/3 and Andrea Palladio his Quattro Libri in 1570, they are five, and they are ordini and such they remain. Why was that ‘five’ so defined and so enduring? Though the question may seem fatuous to some - now that the ‘five orders’ are taken for granted, as a generalized commonplace - it was a real enough one in the sixteenth century, which like the much earlier period, that from late antiquity to the high middle ages, was almost obsessively concerned with number symbolism. And although the speculations on three (the Trinity, first whole number) and four (seasons, elements, temperaments) are well-known, five is less familiar: to those who investigated its hidden meaning, it is the number of coupling, being the sum of the first even and therefore female number with the first odd, masculine one, three - so that it becomes an emblem of marriage and of generation. And the symbol also of another corporeal association, since bodily extremities were counted as five (two hands, two feet, head) as were the fingers of one hand. And, most evidently, it is the number of the senses. 95 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos Aristotle first summed the matter up as magisterially as might be expected in his De Anima: 108 the senses were five and there could not be any more. Of course, Aristotle’s assertion inevitably invited variations and commentaries. One of the best known is that of the mystic and theologian Alain de Lille (Alanus de Insulis, Doctor Universalis ca 1130-1200) whose verse treatise on morals, Anticlaudianus, offers the image of Reason travelling through the cosmos to discover its secrets on a chariot made by the seven arts, and this chariot is drawn by the five horses of the senses. 109 The poem was occasionally illustrated and was part of the symbolic lore about a correspondence between notion and number which occupied some of the best minds of his time. These speculations were taken up with renewed vigour in the sixteenth century in Serlio’s and Vignola’s lifetime. Two highly- respected authors provide examples of such thinking: Cornelius Agrippa of Nettesheim in his de Occulta philosophia has much to say about the numerus connubii 110, while a contemporary and equally popular book, De Subtilitate (perhaps best translated as ‘on astuteness’) by the Lombard physician/astrologer/mathematician Girolamo Cardano, devotes a great deal of attention to the particular interrelation of the five senses111. Until the number of the orders had finally been fixed at five, any close association of orders with other quintuples could not enter such speculations. But once this happened, the corporeal and tangible nature of the fivefold could be invoked to enliven what might be thought dry formulae; or to put it another way - enclosing the orders in the fertile number five suggests their generative character, their bodily nature. The very prolific Johannes Vredeman de Vries (sometimes plain Hans Fridman Fries or Frisius - the Freisian) published a number of splendidly flourished and calligraphed order books which the engraver Heinrich Hondius reprinted - it seems very profitably - first in Dutch, then in German; he also devised an emblem-series of the orders, all set in elaborate, pollarded and gardened landscapes, and showed them as analogous to the times of day as well as the five ages of man. Each age lasted 16 years: the delicacy of childhood was displayed by the Composite: 108. Peri psychis/De Anima II 6 ff 418 a; the proof that there cannot be a sixth sense in III 1 424 b; The possibility of a sixth or ‘common’ sense is much later. 109. F.J. Raby, A History of Christian-Latin Poetry, Oxford 1927. Pp. 298 f. E.R. Curtius, European Literature and the Latin Middle Ages, New York 1953 pp.118 ff. On the five senses as horses, F. Mütherich in JWCI XVIII (1955) pp. 140 ff.; and Elizabeth Sears, ‘Sensory Perception and its Metaphors’ in W.F.Bynum & Roy Porter, Medicine and the Five Senses, Cambridge 1993 pp. 29 ff. 110. (Heinrich Cornelius Agrippa) Henrici Cornelii Agrippae ab Nettesheim Opera Leyden ND (ca 1600? The dedication - presumably of the first printing -is dated 1531). Pp. 134 f ‘De quinario et eius scala’; on p. 289 he also shows the human body in the pentacle. 111. Hieronymi Cardani Mediolanensis Medici, de Subtilitate Libri XXI, Lugduni (Lyon 1580 - the dedication is dated Paris, 1552). Liber XIII starts, Aristotelianly, with a Demostratio quod non sint nisi quinque sensus, pp. 490 ff. 96 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP La nature produit l’enfançon foible et tendre . . . Jusques au seizieme an, comme il est incliné Si nature y default, Dieu perfaict le peut render and so through life, finishing in old age with gnarled Tuscan - but Vredeman added a sixth age to the canonic five, though not another order, nor another garden (decrepitude was a Breughelesque ruin in a wilderness) 112. It was as an appendix to the German printing of the order collection, Architectura/ Die köstliche und Weitberumbte Khunst . . . in fünfferley . . . Art der Edifitien . . . that Hondius engraved emblem drawings of the orders as five senses by Paul Vredeman, son of the more famous Hans: from Tuscan sight, to Composite touch 113. Suites of paintings depicting the five senses had become popular at this time. The French painter-engraver, Abraham Bosse, did a particularly opulent series of them which he also engraved 114. Yet Paul Vredeman’s may well be the first such ‘emblem’ suite of the five orders and the five senses, as Luciano Migliaccio has pointed out in his essay, and Justus Sadeler, a member of another engraving family, emulated them in turn. By the later years of the sixteenth century there was already a growing number of order-books, though two stood out as most authoritative. They were both produced by prolific and powerful architects who had intimate contact with antique ruins. Quite why it is that Palladio’s orders became the standard for the English-speaking world, while Vignola dominated most Latin countries, especially France, is not evident, nor why the two books enjoyed similar authority in Italy and in Germany 115. Dutch and French printings of them in any case seem to have been as common as Italian ones, and although their formulae were even memorized, the appetite for the printed versions never flagged; indeed a Bolognese publisher of Vignola’s book thinks to justify his reprint by saying that he is working for posterity, since ‘more architects of his time have its contents by heart than on paper’ 116. And Vignola’s book went 112. Theatrum Vitae Humanae Aeneis Tabulis per Ioan. Phrys. Exaratum: Antwerpen, 1577. This collection was first published in Dutch in 1606 and is based on Vredeman’s previous printings of single ‘orders’ (Das erst Buch Doric & Ionic, 1565, Das ander Buech Corinthian and Composite 1578 (perhaps also 1565). Tuschana separately also in1578. See Eric Forssman, Säule und Ornament, Stockholm 1956, pp. 156 ff. 114. On the prevalence of such series - which went on into the nineteenth century, see Sander Gilman, ‘Touch, sexuality and disease’ W.F. Bynum & Roy Porter (1993, op.cit.), pp 198 ff. 115. Though Vignola’s authority in Latin countries did not go unchallenged: in 1650 Roland Fréart, Sieur de Chambray published his very popular Parallèle de l’Architecture Antique avec la Moderne, which is in fact a comparative order-book in which ancient examples are indeed compared with those of Palladio, Scamozzi, Vignola, Serlio, Alberti and some others. It was taken up in England by the great diarist John Evelyn, who provided a translation to which he added various other short works such Alberti’s de Statua, or Henry Wotton’s Elements of Architecture. Chambray is explicit about Vignola’s status: Palladio is ‘without doubt the first of the moderns’ and Scamozzi (though a bit dry and clumsy) open the series; Vignola and Serlio come second. Serlio seems to have written, according to Fréart, for master-builders (pour les Maistres), Vignola for the young (pour les jeuns gens) and so on. It is fair to say that Fréart’s book had more circulation in the English version than in the original French. 116. ‘I presenti Architetti l’hanno piu impressa nella mente che nelle carte’, Gioseppo Longhi (later spelt Gioseffo), Bologna 1635. This, like many other editions, is re-engraved; it adds the Michelangelo designs ( engraved by Francesco Villamena, whose name seems omitted in later printings) first printed in the Roman edition of 1610. As time went on and many more editions were made, the plates were always re-engraved. 113. 97 Cartografia e Cidade dos Renascimento e Barroco Íbero Americanos through many translations - beside the Dutch, French, Spanish, Portuguese, there also one in Russian. The original 32 plates were augmented in the second edition of 1572. By 1610 the book was further enlarged by a suite of Michelangelo designs; and in 1617 another edition carried Francesco Villamena’s collection of Vignola’s projects. With time, other engravings were added or omitted and often yet others were just bound in with the original. A neglected confirmation of Vignola’s overwhelming authority, even at the setting of the Classical tradition, is shown by a minute appeal to him in what may be considered the last summation, Jacques-François Blondel’s course of lectures delivered and published in the second half of the eighteenth century. In discussing the proper proportioning of cornice mouldings, he takes up the analogy of the Tuscan cornice section with the human profile - an analogy which the sixteenth-century Spanish theorist Diego de Sagredo had based on the intuition of the great quattrocento Sienese painter-engineer, Francesco di Giorgio 117. Unlike his predecessors, Blondel used the analogy critically to demonstrate the superiority of Vignola’s rule over those of his fellow-theorists. Palladio’s mouldings seemed discordant to Blondel : the low rise of the drip-mould (larmier) is like the nose of a twelve-year old child, but it is supported by an eighty-year-old ancient’s chin, while the cyma above has the forehead of a fifty-year old; as for Scamozzi’s mouldings, it is easy to note that the lower part of this head is clumsy and heavy, while the upper parts are too narrow. Only Vignola shows an agreeable relation between forehead, nose and chin which gives the moulding a unified character quite different from the two previous examples. And although Blondel allows that Palladio and Scamozzi may be consulted for other parts of the column, it is Vignola who is asserted as the unrivalled model. Nevertheless, Blondel warns his readers and listeners against a too literal application of this example, and hints that the crowning cyma could be heightened to give the whole cornice a heroic character, or else the drip might be lowered to suggest an aquiline nose - all of which will determine the expression of such Doric mouldings. Whoever bound together the plates that make up the Sao Paulo Vignola to offer a whole variety of examples for emulation beside the quintessential orders must have been aware - as were most of his contemporaries - of the power of number analogies; the lively association of the five orders with the five senses restored the sensory body appeal to what may seem the most abstract summary of all the order-books 118. 117. J.-F. Blondel, Cours d’Architecture . . . Vol. I, (Paris 1771) plates X,XI, XII and pp. 258 ff. J. Rykwert, The Dancing Column, Cambridge Mass., 1996, pp. 56 ff. 118. On the recent interest in the five senses, see W.F.Bynum & Roy Porter (1993, op.cit.) and Michel Serres, Les Cinque Sens, Paris 1998. 98
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